Eu acho que o principal problema no meio disto é que há realmente pessoas que não têm um sexo biológico perfeitamente definido por diversas questões genéticas que não vale a pena estar pormenorizar, e que apesar de ser um fenómeno raro que afeta uma percentagem muito pequena (entre 0,05% a 1,7%) da população, se afetar 1% estamos a falar aproximadamente de 80 milhões de pessoas que acabam por ser prejudicadas por uma simplificação excessiva de um assunto bastante sensível por questões tribais.
São casos complicados de ser enquadrados, principalmente em desportos como o boxe ou outros desportos de combate que são divididos por categorias de peso para criar equilíbrio competitivo. O que me parece é que a atleta argelina é um caso de intersexualidade em que existe uma maior produção endógena de testosterona que lhe confere uma vantagem competitiva. Não sei até que ponto os níveis de testosterona dela estão acima do normal, se for esse o caso seria como uma das outras atletas estarem a competir dopadas. Se for esse o caso parece-me injusto, mas também é injusto que a atleta argelina não possa competir, porque também certamente não se enquadra na categoria masculina. Se os níveis de testosterona dela estiveram dentro do que é considerado normal para as outras atletas, não vejo problema.
Mas é um assunto extremamente sensível e que dava para grandes discussões. Até porque não se enquadra na questão de homens adultos que mudam de sexo e vão competir em desportos femininos. Talvez no futuro as categorias, para além do peso, sejam definidas também através de níveis hormonais. É difícil e compreendo que acabem por prevalecer os diferentes critérios das diferentes instituições que regem as competições.
