As pessoas não têm a mínima noção do que se passa e, sobretudo, dos valores que se movimentam nestes miúdos! Desconfio que, se soubessem, não seguiam de forma tão apaixonada, a formação dos clubes! Deixo algumas notas:
1. os clubes são o elo mais fraco de toda esta cadeia; o clube investe na formação desportiva de um miúdo, em alguns casos, até os custos de frequência escolar suporta, a troco de incerteza e risco extremo! Nestes custos, é necessário incluir os treinadores, os nutricionistas, os psicólogos, as infraestruturas de treino, etc., etc. E, qualquer criança, até aos 16 anos, pode mudar de clube anualmente (aos 14 já pode não ser tão fácil...), sem justificação! Compreende-se... são crianças... mas, não são crianças quando recebem valores que fariam corar de vergonha muitas pessoas... em muitos casos, a partir dos 6 (sim, não me enganei) anos! O risco dos clubes é total e, mesmo aos 16 anos, o prazo para assegurar algum retorno (contrato) é muitíssimo reduzido, o que faz com que o jogador, maior, possa continuar a sua carreira onde quiser... com o clube a receber, nada... porque, sem transferência, nem direitos de formação existem! A forma como os clubes alinham neste circo, é, para mim, incompreensível!
2. os miúdos são quem se devia proteger neste processo todo! Basta perceber que o FCP, hoje, tem, no seu plantel, 10/15 miúdos da sua formação e mais de 200 miúdos nas sua equipas (excluindo DF...)! Todos os anos, são 20/30 miúdos que saem dos sub-19, com 80/90% deles sem qualquer esperança de, um dia, virem a vestir a camisola do FCP! Isto é um caminho para uma frustração inevitável! E são os que jogam no FCP, a que acrescem os que jogam na DF e os que são contratados para jogar na DF, com a expectativa de, um dia, transitarem para o FCP! Por isso, quando um miúdo sai do FCP para a Juventus ou de um qualquer clube português para o City, não é uma decisão obtusa, porque, objectivamente, a probabilidade de sucesso não muda, radicalmente! Por cada Serrão, Esteves, Abreu, há um Cleber, Andorinha, Leandro para mostrar! E ainda podem dizer que foram ao estrangeiro!
3. os pais são responsáveis, mas, é bom entender, que, já me explicaram (pode não ser verdade) que até são os miudos de meios sociais mais elevados, aqueles que mais recebem, porque os pais colocam preços mais altos, para abdicarem do "conforto" que têm! Por outro lado, os valores que estão em causa, são, muitas vezes, incríveis! Um miúdo que arrisque uma mudança por dinheiro, arrisca-se a ter uma vida confortável durante uma década ou, no mínimo, a ter um pé de meia de fazer inveja a muitos/todos os universitários! Nem todos os pais têm o seu interesse pessoal em primeiro lugar e uma decisão de mudança, pode ser justificada! Até porque, qualquer miúdos joga contra as probabilidades! E esse é o erro da maior parte dos pais! A criação de ilusões!
4. os agentes são o elo mais fraco e o mais desprezível! Para quem quiser perceber como se fazem as coisas, pode ir, a meio da época, ao final do dia, aos treinos da AFP (não é preciso mais...) e pode ver a feira que por lá vai, os envelopes que passam para aqui e para acolá, os cartões de crédito para aqui e para acolá! Repito, valores que as pessoas não sonham! Falaram no Mora, que, ao que sei, tem empresário desde os 10 anos e recebeu do empresário um valor que, muitos portugueses, não vão receber a vida toda! Aos 10 anos! A estes valores dos empresários, acrescem contratos com marcas desportivas, etc. é um negócio! É lógico que são movidos pelo lucro, uns mais rápido, outros, com maior caixa toráxica e com maior visão, mais tarde!
Não se infira com isto, que acho legítimo o que se passa!
É uma vergonha a todos os níveis!
Mas, os clubes (ou melhor, um clube) pouco pode fazer!
Acho incrível como é que a UE e UEFA, tão preocupados com as mudanças de país, continuem a assobiar para o lado para toda esta vergonha, que tem impacto sobre o futuro bem-estar de milhares/milhões? de crianças! E como se olha para o lado nesta verdadeira profissionalização de crianças!
A mudança só pode começar por aí!