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Antiga administração só se comprometeu a pagar pelos terrenos para a academia se hasta pública avançasse. Falta de fundos ditou marcha-atrás no processo, podendo clube evitar custo dos nove hectares.
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FC Porto evita pagar terrenos a construtora porque hasta pública na Maia falhou
Antiga administração só se comprometeu a pagar pelos terrenos para a academia se hasta pública avançasse. Falta de fundos ditou marcha-atrás no processo, podendo clube evitar custo dos nove hectares.
O plano falhado de uma academia do FC Porto na Maia é a mais recente de várias "dores de cabeça" deixadas pela administração de Pinto da Costa ao novo presidente dos "dragões", o ex-treinador André Villas-Boas. A folga financeira é mínima e os portistas arriscam prejuízos consideráveis na concepção de um projecto que não verá a luz do dia, mas nem tudo são más notícias: os "dragões" podem conseguir evitar o pagamento dos terrenos detidos pela construtora Alexandre Barbosa Borges (ABB), visto que os 14 hectares detidos pelo município da Maia não ficaram na posse do FC Porto.
Apesar de os portistas terem apresentado a proposta mais alta em hasta pública pelos terrenos da autarquia, a anterior administração apresentou um "cheque careca" de 510 mil euros, relativo à segunda tranche da compra dos terrenos. Na passada terça-feira, o clube informou o município de que não dispõe actualmente de fundos que possibilitem um investimento tão avultado, deixando cair a construção do complexo na Maia.
Recuemos até ao dia 27 de Março, dia em que o projecto da academia foi apresentado ao público. Faltava exactamente um mês até às eleições do FC Porto, mas a aceleração do processo e a vontade em colocar as máquinas no terreno não representavam qualquer campanha eleitoral, prometia a antiga direcção. O complexo ocuparia uma área de 23 hectares: 14 conseguidos na hasta pública da Maia, os restantes nove comprados à construtora ABB, empresa gerida pelo empresário Gaspar Borges, que adquiriu vários lotes especificamente para este efeito. O então administrador financeiro da SAD portista, Fernando Gomes, garantiu que os "dragões" apenas ficariam com os nove hectares de terreno da ABB se a hasta pública se concretizasse, procurando mostrar aos sócios que o complexo tinha sido pensado com tempo e responsabilidade. Neste dia, ainda não era certo o resultado da hasta pública, mas tudo indicava que o FC Porto fosse o vencedor no processo de licitação.
“O FC Porto está a negociar terrenos sem saber e sem ter feito a hasta pública? Não! Está a garantir que a totalidade dos 23 hectares se vão conseguir em tempo útil para que isto [academia] avance já. Temos um contrato de compra e venda com Gaspar Borges [dono da ABB] condicionado à hasta pública", sublinhou. O então responsável chegaria mesmo a dizer que a ABB foi fundamental para que o FC Porto poupasse dinheiro na compra destes terrenos, alegando que os proprietários pediriam seguramente muito mais dinheiro ao clube do que ao grupo de construção.
Dado que a hasta pública, como agora se sabe, não irá para a frente, o FC Porto não seria obrigado a ficar com os terrenos da ABB, comprados gradualmente pela empresa a diferentes proprietários. De acordo com as informações recolhidas pelo PÚBLICO, esta "cláusula de segurança" foi efectivamente assegurada pela antiga administração, com o contrato assinado pela construtora a prever este cenário – considerado quase impossível no momento da assinatura. Mas há ainda um caso delicado nesta relação entre clube e construtora: um segundo contrato assinado pelos portistas com a construtora minhota, desta feita no valor de 6,8 milhões de euros, por trabalhos de terraplenagem. O PÚBLICO tentou por diversas vezes nos últimos dois dias contactar a empresa ABB, por via telefónica e electrónica, para obter esclarecimentos sobre estas matérias, mas sempre sem sucesso.
O jornal desportivo Record avança na edição impressa desta sexta-feira que a construtora pondera avançar para uma batalha judicial contra os "dragões", reclamando uma indemnização de 2,5 milhões de euros pela quebra de contrato, valor confirmado pelo PÚBLICO. Ainda relativamente à academia, o FC Porto terá de saldar uma dívida de um milhão de euros pela encomenda do projecto ao arquitecto Manuel Salgado, apresentado pelo próprio no dia 27 de Março no Estádio do Dragão. No total, os portistas somam já mais de quatro milhões de euros de potencial custo por um projecto que não avançará.
Maia não devolve 680 mil euros
Do lado da autarquia da Maia, a intenção passa por ficar com os 680 mil euros pagos pelo FC Porto como sinal no acto da adjudicação. O autarca do município, António Silva Tiago, alega que André Villas-Boas garantiu pessoalmente que iria conseguir os fundos necessários para validar o cheque de 510 mil euros passado pela antiga administração. Como tal não sucedeu, a Câmara Municipal da Maia não devolverá o valor do sinal e ficará com os 14 hectares destinados ao complexo.
Esta é uma posição que causa alguma surpresa à actual direcção do FC Porto, visto que foram apresentadas ao autarca alternativas para o terreno, nomeadamente o interesse de dois grupos de investidores interessados em construir complexos desportivos no local. A hipótese terá sido rejeitada pela autarquia na reunião, apurou o PÚBLICO, afirmando-se que os terrenos seriam apenas destinados à academia anteriormente acordada. Dada a inflexibilidade do executivo liderado por António Silva Tiago e a incapacidade financeira do clube, o FC Porto decidiu afastar-se definitivamente do projecto.