Eu nunca fui daqueles que diziam que o sonho era o Villas Boas como Presidente do Porto. Sou muito crítico da administração atual do Porto desde os tempos do Jesualdo Ferreira porque não acreditava na sustentabilidade do modelo de gestão do Porto desde então. Na altura era uma das poucas vozes dissonantes, principalmente porque estávamos a ganhar, e as vitórias escondem muita coisa.
Não tinha nenhum nome específico que gostasse para Presidente. Eu no fundo queria um desconhecido do público em geral mas que fosse extremamente competente e com provas dadas na gestão de uma empresa, e que se rodeasse de uma equipa de gente muito competente nas suas áreas (incluindo as áreas financeiras e desportivas) e que trouxesse para o Porto uma gestão altamente profissionalizada que catapultasse o Porto para o clube que eu sei que pode ser. O André, pese embora o seu portismo mais do que evidente e todas as alegrias que me deu enquanto treinador, não era essa pessoa de todo. O nome não me entusiasmava. Era mais um nome ligado ao futebol, ligado a este regime atual e eu duvidava que pudesse trazer a mudança que eu sonhava para este clube.
Quando me increvi neste espaço, não era sócio. Tornei-me sócio em 2015, mas não a tempo de votar nas eleições de 2016. Teria votado branco, teria votado nulo, teria escrito Futre, Sócrates ou até senhora da limpeza. Queria esta direção fora. Queria um Porto com os valores que nós adeptos sempre defendemos e esta direção nunca praticou. Se algum dia praticou, eu quase já não me lembro. Vi o Porto ser campeão europeu com 18 anos (era bebé no título do Artur Jorge), mas não me esqueço da muita contestação que já havia a Pinto da Costa no período pré-Mourinho. Mas confesso que se hoje vejo futebol, na altura via o Porto jogar à bola. Não estava tão concentrado também nos aspectos da gestão do clube, pelo que o queria era ver a bola a entrar, festejar tris, tetras e pentas. Não pensava no amanhã. Achava que isto nunca iria acabar. Em 2006 já via o futebol de uma maneira completamente diferente. Muita da magia tinha-se perdido (não por causa dos resultados, pois rapidamente voltamos a ganhar depois daquela época inarrável de 2004/2005, mas sim porque via o clube a entrar um processo a que a cada dia cavava um buraco, e no dia seguinte, para tapar o buraco do dia anterior, tínhamos que cavar um buraco só um bocadinho de terra mais fundo. E enquanto uns diziam que "Vão haver sheiks a gastar muito dinheiro no futebol" eu alertava que a certa altura o buraco a cavar iria ser tão fundo que não conseguíamos sair dele. É onde estamos hoje. Mas o tempo passou e continuávamos a não ter candidatos a aparecer para mudar o rumo do clube. 2016 mostrou que a insatisfação já era grande, mas os nomes fortes continuavam sem aparecer.
Eis que 2020, ano de tão más memórias, eu recebo a mensagem que passei anos a querer ouvir "Hoje na RTP às tantas horas, vai ser anunciada uma candidatura à Presidência do Porto contra Pinto da Costa!". Não via a RTP há anos. Colei-me na televisão com quase meia hora antes à espera para ver o anuncio. Decepção. "Preferia ter visto um espantalho como candidato a ver a candidatura do JFR! O gajo começava a falar e eu mudava de canal". Contudo acabei por votar nele. Nenhum nome forte avançou. Nenhum nome forte o apoiou, mas para mim continuava a representar a esperança na mudança. E caso vencesse, mesmo não sendo o candidato perfeito, não tinha que ser algo a longo prazo. Iria abrir a porta a outras candidaturas. Era mais fácil candidatar-se contra JFR que contra JNPC.
Confesso que tive esperança que ganhasse. Com o covid, muito do contacto com portistas que tinha era através deste espaço. Um espaço que há muito que suspirava por mudanças. Tive a ilusão que podia ser feito. Percebi na véspera que não ia acontecer. Uma chamada telefónica a uma pessoa da candidatura do JFR e as palavras que não queria ouvir "O JFR não tem hipótese de ganhar". Fui na mesma, votei, vi muita gente jovem, esperei o milagre. Ele não apareceu.
A situação do clube continuou a piorar. Anteriormente, era preciso uma venda de 15-20 milhões para equilibrar contas. Tivemos que vender Luiz Diaz, Vitinha e Fábio Vieira para o mesmo efeito. A situação era pior de dia para dia. As pessoas nas redes sociais imploravam a AVB, como se o Messias se tratasse, que apresentasse a candidatura à sua "Cadeira de Sonho", para vir salvar o clube. Eis que começam a aparecer os primeiros sinais positivos. Ele ia avançar. Não era o meu sonho, mas era um candidato forte, alguém que podia mexer com o status quo. Alguém que podia ganhar.
Tudo começa com a AG. Estive presente. Como muitos outros estive horas na fila para entrar. Mas ver aquele movimento, não a favor de AVB, não contra JNPC, mas pelo Futebol Clube do Porto. Não consigo descrever os sentimentos que tive na altura. A energia que se sentia naquelas filas era palpável. O entusiasmo da adesão dos sócios naquele momento. Mais do que tudo, sentia-se que o Porto estava vivo! Que os sócios estavam vivos. Não viraram a cara ao clube naquele momento. Todos sentíamos que era um momento especial. Estávamos a assistir a uma mudança. O que antes parecia impossível, naquele momento foi perceptível por todos. O Porto pode mesmo mudar. Não sei se os mais otimistas previram aquela avalanche. Todos sabíamos que o auditório não ia chegar. Aquilo já era outro nível: o Dragão Arena não ia chegar. A história tornou aquele dia um dos mais tristes da história do Porto. Para mim, enquanto portista, mais triste que isso, mais do que qualquer derrota, só a perda do Rui Filipe.
Naquele momento (longe de a maioria de nós saber o trabalho que já havia sido feito antes) foi perceptível que a candidatura de AVB não podia parar.
Eis que surge outro momento marcante, a apresentação do AVB na Alfândega. Com a memória da AG ainda bem fresca na memória de todos, e não só os incidentes como todas as peripécias da organização, ver a organização do evento e a atenção ao detalhe foi uma lufada de ar fresco. Eu já sabia que ia votar AVB, mas aquele foi o primeiro dia que senti que o meu Porto ia estar em boas mãos. Contudo, houve coisas pelas quais não esperava. Já se sabia que Cecília Pedroto estava contra a atual direção, esse nome não surpreendeu. Mas ver ex-jogadores, jogadores que levantaram uma Liga dos Campeões pelo Futebol Clube do Porto a apoiar uma candidatura que não a de Pinto da Costa surpreendeu. Mas foi mais do que isso. Foi ver políticos de diferentes áreas, foi ver treinadores, jogadores... tudo ao lado de uma candidatura que não a de Pinto da Costa. Nunca pensei que iria assistir a tal demonstração de força.
AVB começa então a apresentar a sua equipa. Toda a gente esperava que fosse Angelino Ferreira o diretor financeiro. Quando foi apresentado para outras funções, fiquei curioso quem iria apresentar para o cargo mais importante da sua candidatura, dado o atual estado das finanças do clube. Não conhecia José Pedro Pereira da Costa. Fiquei agradavelmente surpreendido pelo seu currículo. Era aquilo que eu queria para o Porto. Mas quando o comecei a ouvir falar e a fazer a análise das finanças do Porto, foi dos maiores prazeres como adepto do Porto. Comecei a ter esperança no futuro, coisa que não tinha em muito tempo.
Depois apresenta o candidato a diretor para as modalidades. Eu não conhecia o Mário Santos. Ouvir o Mário Santos a defender para as modalidades ditas amadoras muitas das ideias que eu tinha para o futebol profissional do clube, foi incrível.
Hoje (pelo menos era hoje quando comecei a escrever isto, mas agora já é ontem) estive na apresentação da equipa diretiva. Assim que entro na sede de campanha e começo a ver os currículos caiu-me tudo. Pessoas que eu nunca tinha ouvido falar, que estiveram associadas e responsáveis por cargos e projetos de dimensão superior ao Futebol Clube do Porto de hoje? Isto era a candidatura que eu queria. Que eu sonho desde 2015. De pessoas extremamente competentes que se juntam para trazer o Porto para um patamar que eu sei que podemos estar.
Eu não sei se o André vai ganhar. Eu não sei que mesmo que ganhe o clube ainda tem muitos desafios pela frente. Sei que os próximos tempos do Porto não serão um mar de rosas. Mas no final da apresentação tive o prazer de ir cumprimentar aquele que eu espero dentro de 15 dias seja eleito como novo Presidente do Porto.
Não sou seguidista. Não concordo com o seu plano para a formação. Estou 100% de acordo com ter as modalidades, a formação e o futebol profissional a treinar num só espaço, e há muito que acho que o Olival como está hoje é muito curto para a equipa principal, mas da mesma forma também o é para a formação. Também eles precisam de um centro de alto rendimento. Precisam de condições que o Olival já não garante. E espero vir a falar com ele sobre um projeto que acho que seria muito importante para o futuro do clube. Mas porra que equipa fantástica que ele tem à volta! Espero que não seja só para um candidatura, espero que seja já para o próximo mandato!