Eu apenas faço piadinhas com alguém que está constantemente a contradizer-se e apenas replica o que lê numa determinada bolha das redes sociais. E vieste bater à porta errada, porque trabalho em ciência.
Se há algo que aprendemos e que toda a gente que pensa minimamente na natureza do trabalho cientifico sabe é que expressões como "está comprovado cientificamente" não têm lugar em ciência. Quem trabalha em ciência e usa esse tipo de expressões certamente não sabe nem nunca se preocupou em saber o que é o método científico. Prova científica é algo que não existe, não podemos provar nada em ciência e é muito frequente as pessoas confundirem prova com evidência. Aquilo que nós fazemos é encontrar o maior número de evidências possível para explicar um determinado fenómeno.
Só porque um determinado estudo científico foi publicado não significa que as conclusões a que os investigadores chegaram são verdadeiras. Aliás, nós sabemos que a maioria dos estudos publicados reportam resultados falsos por problemas de viés, baixo poder estatístico, etc., especialmente nos dias de hoje onde o mais importante é produzir artigos independentemente da sua importância e aplicabilidade. Mesmo com o sistema de peer-review há muita coisa que escapa e é publicada. Independentemente disso, a replicabilidade dos estudos permite o mecanismo de autocorreção da ciência, isto é, a publicação detalhada da metodologia utilizada permite que outros cientistas repliquem o estudo e corroborem ou refutem os resultados prévios. E dessa forma a ciência vai avançado e solidificando as teorias que melhor explicam a realidade.
O estudo que colocaste eu não refuto, é apenas mais um estudo. Os próprios autores terminam dizendo que não podem estabelecer uma razão causal entre a vacinação e problemas cardíacos severos e, inclusive, listaram uma série de limitações do estudo (prática comum em ciência). Eles não examinam qual a causa dos problemas cardíacos se infeção ou vacinação, nem tão pouco outras causas que podem ter provocado os problemas cardíacos. Nem sequer conseguiram estabelecer uma correlação entre as vacinas e os problemas cardíacos. Não é preciso ser um génio para se perceber logo à partida que o estudo tem problemas. Estudar a causa de problemas cardíacos a nível populacional, sem sequer fazer uma avaliação individual dos pacientes e apenas usar chamadas de emergência também não deixa de ser bizarro. É um estudo cheio de problemas.
O que está bem estabelecido atualmente (não provado porque nada pode ser provado), é que os eventos de miocardite são muito mais comuns devido à covid do que devido à vacina, mas certamente muitos mais estudos continuarão a ser feitos.