Não disse quem tem acontecido. É estranho que me estás sempre a atribuir afirmações definitivas que não fiz.
Disse que pode acontecer.
O abuso de poder é sempre uma realidade próxima e ao alcance. Basta que os mecanismos se criem ou já estejam criados.
O equilíbrio é tudo. E temos de o encontrar nessas matérias.
Existe uma tendência para ir buscar sempre os "chegófilos" (que obviamente têm direito à opinião deles por mais parva que seja) e os "negacionistas" que são um nicho de pessoal a mandar diatribes.
A verdade é que existem tolos de todos os quadrantes a dizer estupidezes atrozes. Mas uns são mais ridicularizados e outros até são aceites.
Lá está, tudo depende de quem vai conduzindo a narrativa.
E se é assim em temas brandos e de lana caprina imaginem em assuntos sérios como esse efectivo controlo que não existe nesta nossa realidade ainda possa vir a acontecer.
Mais uma vez refiro, o equilíbrio é a chave.
Se calhar mais do que policiar redes e internets há que começar a pensar em educar as pessoas para voltarem a ser geridas pelo bom senso.
Além disso esse tipo de "crimes" não é assim tão prevalente. Há uma hiperbolização do mundo da internet e consequentemente uma hiperbolização do que lá se passa negativamente.
Os mecanismos de policiamento estão criados, já existem. Não é algo que está por vir. E as pessoas alinham neles voluntariamente. E o mais engraçado é que até foram criados e executados inicialmente pelo país supostamente mais liberal do mundo, como demonstrou o Snowden.
Bom senso é coisa que tem faltado, de facto, totalmente de acordo. Mas não tenhas dúvidas que grande parte disso deve-se à desregulação das condutas provocadas pelo proliferar da internet e redes sociais, onde muita gente não quer ler opiniões, quer despejar frustrações e ódios pessoais, e isso atrai sempre magotes de gente pouco dada a reflexões e a pensamento um pouquinho mais elaborados. Se não vês isto a acontecer em larga escala, deves andar muito desatento! De que adianta "educar as pessoas" (já agora: quem educa, o que educa e com que finalidade também deve ser discutido, mas isso são outros quinhentos...), se os mecanismos de deseducação proliferam e não têm qualquer controlo? Faz algum sentido que um crime na internet não seja julgado como um crime real? É isso que está em causa. Não é crime emitir opiniões na praça pública. Logo, também não é online. Mas não há qualquer razão para a internet não se regular pelas leis existentes em cada país.
E para que conste, sou totalmente defensor do direito ao anonimato e à privacidade. Coisa cada vez mais difícil de conseguir de uma forma mínima nos tempos que correm. Porém, não serve esse anonimato e essa privacidade para a prática de crimes, seja de que natureza forem. Para isso há mecanismos que devem ser colocados em execução, e que os Estados detêm. Já acontece em vários crimes, quando se trata de ataques a grandes empresas ou a elementos importantes do sistema. Como em tudo, já quando se tratam de crimes que afectam minorias ou pessoas mais desprotegidas, que se fodam esses. Aí já toda a gente fica preocupada com a sua liberdade e os seus privilégios e o seu direito à privacidade, mesmo antes de ir tirar mais umas fotos do que jantou e com quem e ir colocá-las no FB para toda a gente ver!
Já agora, só uma nota para reflexão, um pequeno texto já clássico do Brecht, que fala do que acontece quando se concede total liberdade aos verdadeiros inimigos da mesma:
"Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo."