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Numa das fotos de propaganda, Salazar está sentado à secretária com a foto de Mussolini ao lado. Salazar inspirava-se no italiano?
Claramente. Aliás, Mussolini inspirou muitos ditadores do período entre as guerras mundiais, não só Salazar. Estamos a falar da segunda metade dos anos 1920 - Mussolini toma o poder em 1922 -, e como é uma ditadura fascista muito precoce, terá uma influência enorme enquanto exemplo para as direitas europeias. Mussolini é o paradigma para o próprio Hitler, que só vai para o poder em 1933, porque tinha rebentado com o movimento operário organizado, inaugurara a resposta à crise económica através de uma ativa intervenção do Estado na economia, preservara o mercado e dirimira conflitos. Também implodira com o empecilho parlamentar e dos partidos. Mussolini era um paradigma para Hitler e para Salazar. Hitler tinha uma enorme admiração por Mussolini, considerava-o o seu mestre, tanto que tenta copiar a marcha sobre Roma. Em Portugal, Mussolini e o fascismo italiano são uma espécie de paradigma a partir do qual se adapta o regime, mesmo que com outras características porque é um fascismo conservador. O estatuto do trabalho, a conceção da legislação corporativa, o regime constitucional em certos aspetos, têm como inspiração em grande parte o fascismo italiano.
Salazar conhecia bem a sua ideologia?
Sim, nomeadamente nas entrevistas com António Ferro cita Mussolini várias vezes e dá a ideia de que conhece os discursos e a obra do italiano. E sabe-se que os intelectuais do fascismo italiano autores da legislação corporativa são homens que estão em estreita ligação com os corporativistas portugueses, com os Marcelos Caetanos e os Mários Figueiredos que produzem o pensamento corporativo.
E o pensamento de Hitler inspira Salazar?
Não, o nazismo tem uma componente pagã que assusta o salazarismo. Mas, até ao início da II Guerra Mundial, e mesmo enquanto a Alemanha está a vencer, até 1942, existe muita proximidade do Estado Novo ao regime nacional-socialista. As juventudes visitam-se, Salazar tem um grande respeito pelo papel internacional da Alemanha nazi e considera-a o fronteiro europeu contra a ameaça eslava do comunismo, e demorou muito tempo a aceitar o embargo do volfrâmio para a Alemanha. Salazar é um homem que admite viver e adaptar-se ao que parece ser a ordem nova que se impõe na Europa. São regimes fascistas de características diferentes, mas não deixam de pertencer à multiplicidade dos regimes fascistas.
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Fernando Rosas Historiador.
Não é o Vieira_Amares