Olá, Sérgio. Tudo bem, campeão? Não sei se lês o fórum, mas espero que sim. Já comecei a escrever este texto várias vezes: no tópico do jogo, da Liga, do elenco, mas o único destinatário adequado deveria ser você. Aliás, se me permite, tratarei-te como "tu", pois há três anos que invades a minha casa todas as semanas, já te considero íntimo. Bom, como ia dizendo, és o único destinatário possível, afinal, esta é tua equipa, nas palavras do Bibó o Porto, "cujo epíteto poderia ser de feios, porcos e maus, que joga na raça e no querer, que faz das fraquezas as suas forças e que actua como underdog competitivo, aquele que corre por fora e em quem nunca ninguém aposta".
Sérgio, enquanto torcedor apaixonado que sou, posso afirmar que tu despertas em mim os melhores e os piores sentimentos. Prova disso são minhas mensagens, salvas aqui no fórum. Aquando perdeste a liderança em Belém na primeira época, fui dos únicos que te defenderam. Bem como chamei-te medíocre ainda há 10 dias. Amar é viver de emoções e tu, mais do que ninguém, sabes disto e sabes proporcionar isto.
Mas afinal, esta equipa é a tua equipa. E foi montada à sua imagem. Não podemos nos enganar. Tu mesmo que o disseste, afinal: «Adoro o futebol realista, pragmático, com velocidade em direção à baliza adversária. Isso é o mais difícil no futebol (...) É por isso que adoro o Mónaco, a equipa mais completa, a melhor do campeonato. Mas tenho diferenças em relação a Jardim. Ele acha que é melhor ganhar 4-3, eu penso que é melhor ganhar 1-0 (...) A única coisa que garante pontos é não sofrer golos».
Ora, isto está estampado neste campeonato: temos a melhor defesa com apenas 19 golos sofridos. Ainda que tenhamos o melhor ataque, está longe de ser daqueles mais frutíferos - nosso melhor marcador é um defesa! Quantas vezes não nos pegamos sofrendo e te xingando por fazer um Paços ou um Tondela qualquer parecerem grandes equipas, colossos continentais? O que este campeonato me ensinou é que não devo teimar com seu estilo, teu modus operandi. Não posso pedir para ser aquilo que tu não és. Eu mesmo não gostaria que me ditassem como fazer meu próprio trabalho.
Uma vez mais: tu mesmo nos avisaste qual era teu estilo de treinar e de fazer jogar. E talvez este seja seu maior trunfo e reflexo do teu espírito. Um autêntico portista, do norte, que come a relva, que sabe mais do que ninguém da alma e da mística que lhe são responsabilidade. Não és um Pedroto, não sejamos senis como o presidente foi em afirmar isto, mas vá lá, ganhar dois campeonatos em três demonstra que tens as tuas virtudes (e bem sabemos que deveriam ser três em três).
Talvez sejam os copos da vitória e da glória falando por mim, mas por favor, fica. Já sabemos que não vais aprender (outra vez, tu mesmo é que disse que veio para ensinar, não para aprender), que não mudarás teu estilo de jogo, não deixará de ser teimoso, ou de ter o feitio tempestuoso que tens. Mas, neste momento, tens a alma e o espírito. Tens o fogo. Não o questiono, mas procurarei entender os motivos.
O teu pragmatismo é eficiente.
És um dragão autêntico. És dos nossos. Muito obrigado por mais um título. E agora põe-te a trabalhar pois temos uma Taça a ganhar àqueles filhos da puta.