Estamos a falar de coisas completamente diferentes. Racismo e escravatura, embora possam estar muitas vezes associadas, não são a mesma coisa. Na escravatura os indivíduos são privados da sua liberdade e submetidos à vontade de outro, o escravo é sua propriedade. Estas pessoas tinham todo o direito de se revoltar e usar a violência contra quem os escravizava ou era a favor da escravatura. Da mesma forma que quem sofre racismo tem toda a legitimidade para se revoltar contra quem é racista. É preciso fazer o enquadramento histórico e perceber o que já foi feito e o que não feito. Já não vivemos mais em sociedades maioritariamente racistas, o racismo existe, necessita de ser atenuado, mas a partir do momento em que este é o contexto, não vais conseguir absolutamente nada com generalizações, com protestos violentos, com censura, com medidas racistas para combater o racismo, com medidas fascistas para combater o racismo, com a privação de liberdades individuais, etc. Isto só traz mais divisões, mais fragmentação, mais racismo, criam-se gerações de pessoas amarguradas, ressentidas e num contexto absolutamente negativo. Além disso, se estivermos atentos à realidade e a todos os lados da discussão, percebemos facilmente que os protestos violentos e os movimentos woke não representam de todo a comunidade afro-americana, estes movimentos atraem muito gente branca de classe média/alta do que negros. Tudo tem que ser contextualizado, a sociedade americana não é a mesma dos tempos da escravatura, não é a mesma dos tempos da segregação racial, não é a mesma dos anos 80/90, as coisas mudaram e mudaram para melhor em termos raciais, sem que isto implique que não exista ainda muita coisa para melhorar. Podemos procurar factos históricos para explicar fenómenos actuais, mas não podemos pegar em contextos históricos e usá-los como se fossem fenómenos perfeitamente actuais, não o são, de todo.