Não era para mim, mas não concordo.
O PSG teve dois investidores que catapultaram o clube. O CANAL+ primeiro, e os petrodólares do Al-Khelaifi depois.
Terem sido fundados em 1970 diz tudo. Grande parte do que faz um clube grande é a sua história.
Em 21 anos desde a sua fundação até à entrada do CANAL+, ganharam uma Ligue 1 e duas Coupe de France. Antes da entrada do CANAL+, estavam lentamente a começar a cair em França de volta a um lugar de irrelevância. 15o lugar em 88, 5o lugar em 89, 9o lugar em 90, e até à ponta dos cabelos em dívidas resultantes dos investimentos feitos na década anterior.
Quando caminhavam para o abismo e para a dissolução, aparece o gigante CANAL+, que não só liberta o clube das dívidas como o torna no clube com maior capacidade financeira em França, e aí começam lentamente a chegar as estrelas que posteriormente dão ao PSG uma Taça das Taças e reconhecimento internacional. É esse investimento que lhes permite trazer Weah, Valdo, Raí, Ginola, Djorkaeff, Ricardo Gomes entre outros e renovar a equipa com elementos de classe mundial. Começam a partir daí a fazer constantemente meias-finais e finais de competições europeias.
É um clube tão manifestamente lamacento que precisou não de uma, mas sim de duas gigantescas operações de injeção de capital desleal para se sobrepor à concorrência num espaço de apenas 50 anos.
Foram bufados duas vezes. A prova de que não são um grande clube vai chegar no dia em que a mama acabar, e as receitas do clube passarem a ser aquelas que o próprio produz organicamente. E mesmo sendo essas serão sempre inflacionadas por anos e anos de crescimento artificial.
Neste caso 3 injecções, embora a primeira tenha sido do povo.
O clube (fundado após fusão do Paris FC com o Stade Saint Germanois) para iniciar actividade fez um crowdfunding onde mais de 20000 pessoas contribuiram.
Foi a primeira vez aliás na história do futebol francês que um clube iniciou as suas actividades capitalizado pelos adeptos.
Depois houve um desentendimento com a Câmara de Paris e o clube dividiu-se, o Paris FC saiu da fusão e ficou com o status profissional e o lugar na 1ª divisão e o Paris Saint Germain foi relegado para a 3ª com status semi-profissional. Aqui entrou em acção o estilista Daniel Hechter que ajudou financeiramente o clube e sobretudo desenhou aquele que é o equipamento histórico do PSG, azul profundo com uma lista vermelha larga no centro com limites finos brancos.
Obtiveram a promoção em dois anos seguidos com o mítico Just Fontaine como director desportivo e desde então nunca mais jogaram noutra divisão a não ser a primeira.
Foi aqui também que se mudaram de vez para o Parque dos Príncipes.
Na década de 70 o clube não ganhou nenhum título mas cimentou-se como clube de 1ª divisão e fez grandes campanhas na Taça.
Será nos anos 80 que o clube começa a ganhar peso no futebol ganhando a Taça duas vezes seguidasuma ao Saint-Etienne do Platini nos penaltis, a outra ao campeão Nantes e chegando aos quartos de final da Taça das Taças. O pico foi atingido ao serem campeõaes pela primeira vez em 85/86 sobe o comando de Gerard Houllier mas seguiu-se uma fase de declínio, na Taça dos Campeões Europeus ganha pelo NGC foram eliminados pelo Vitkovice que viriamos a eliminar na eliminatória seguinte e terminaram em 7º na Ligue1. Na época seguinte evitaram a descida no último jogo da época. Ainda lutaram pelo título em 88/89 mas perderam para o OL. Por essa altura o clube estava atolado em dívidas tendo sido revertido o rumo quando o Canal + os adquire em 1991 que deu início à era dourada do PSG, a era em que eu aprendi a gostar do clube em si (sempre gostei da camisola mas em França o clube que mais gostava de ver jogar era o OL que neste período após a Champions caiu em decadência por causa da corrupção de Tapie) a era dos lendários Bernard Lama, Ricardo Gomes, Le Guen, Valdo, Raí, o mágico Ginola e Weah. Culminou na vitória na Taça das Taças sobre o Rapid de Viena de Konsel (grande keeper), tendo ainda disputado a final da mesma competição no ano seguinte e perdido com o Barça de Ronaldo, Baía, Fernando Couto, Stoichkov e orientados por Bobby Robson.
Um segundo período de declínio seguiu-se, marcado por más decisões, flops caros que deixou o clube com uma grande dívida. Mas o clube mesmo assim teve jogadores como Ronaldinho Gaúcho e Pauleta e algum sucesso desportivo pois ganhou 3 taças de França e 1 Taça da Liga.
O pior período veio após o fim da ligação com o Canal+, o período a partir de 2006 até 11/12. Relembro equipas absolutamente medíocres do PSG neste período com um guarda-redes errático como Apoula Edel, Ceará um lateral com nível Braga, o gigante Hoarau na frente, pejado de ex-craques acabados isto já na parte final deste período, a parte pior foi aí por 2008 em que voltaram a evitar a descida no último jogo com um golo de um jogador vulgar Amara Diané.
Depois entrou o grupo Qatar Sports Investment e é o que sabemos.
Concluindo o PSG começou como um clube do povo e dos adeptos, subiu e desenvolveu muito rápido, mas esse ritmo muito rápido de crescimento e de exigência também levou a que o investimento fosse quase sempre maior do que o suportado o que levou a pelo menos duas crises graves, salvas por grandes grupos.
O PSG não é historicamente um tubarão, o status que tem neste momento é porque pode gastar por conta, é um status financeiro, mas sem o QSI seria aquilo que é hoje um OM, um Mónaco nos melhores anos, seriam sempre equipas boas e fortes na sua liga, com possibilidade de fazer boas carreiras europeias e com tradição.
Mas com planteis mais feitos à base de boa prospecção, aproveitamento de talento emergente na Ligue1, jogadores francófonos estabelecidos e da boa formação também que têm e alguns jogadores caros mas jovens de fora para desenvolvimento.
E tenho a certeza quiçá que muitos adeptos do coeur parisien preferiam assim.
@LoscarDragão @Cherife