Respeito a posição de quem defende o Nakajima. Já eu entendo que tudo isto é lamentável.
Vou contar-vos uma história que me é muito próxima.
C. é médica. E. é psicólogo.
C. teve uma pneumonia em janeiro por batéria nosocomial do tipo multi-resistente enquanto trabalhava no HSJ. Fez 5 rondas de antibióticos. Esteve de baixa 1 mês. Quando houve o confinamento C. já não exibia sintomas observáveis, apesar do Rx e da TAC mostrarem sequelas. C. teve de marchar para as tendas dos Covids. Teve de ir, porque o Presidente da República instaurou o estado de emergência. All hands on deck; sem contemplações,sem justificações de "eu tive uma pneumonia há 1 mês". Por outro lado, E. nunca parou durante esse período. Como trabalha com famílias carenciadas teve de substituir o trabalho institucional por domicílios, dezenas por semana, porque as coisas não podem parar. As pessoas precisam de apoio.
E. e C. dormiram separados durante 3 meses. E. e C. comeram 1 em cada ponta da mesa durante 3 meses. Usaram casas de banho separadas; partilhavam a banheira. Usavam máscara em casa. Desinfetavam as mãos a cada passo. Gastaram centenas de euros eu álcool, máscaras, luvas, pois não havia nada no início e era tudo caríssimo (não, não havia fornecimento de nada ou quase nada nessa altura). E. e C. viviam com medo de se infetaram e de infetarem outros, principalmente os mais vulneráveis.
E. e C. têm vencimentos médios à escala do país. Não foram ver os pais, sobrinhos, afilhados e afins. Não sairam para nada exceto para trabalhar. Levavam as credenciais para justificar à polícia mudarem de concelho. Arriscaram-se como milhares de outros se arriscaram, médicos, enfermeiros, psicólogos, trolhas, pedreiros, cozinheiros, pescadores, trabalhadores do supermercado, entre outros, não quero ser injusto.
Teve de ser. O país exigiu. E. e C. estão gratos porque têm os seus empregos. Fizeram por isso também. Foram solicitados a serem testados várias vezes, não para sua segurança, mas para garantir que não infetavam ninguém.
Agora o Sr. Nakajima, que recebe milhões de euros, podia ser testado todos os dias se assim o quisesse, não podia ir treinar porque podia levar a doença para casa. Pois podia. Todos nós podíamos.
Mas podia ter sido homenzinho e chegava a casa punha uma máscara, tomava banho e mantinha o distanciamento social. Pedia ajuda para cuidar da mulher.
A menos que more num T0 e não consiga fazer isso; ou não tenha dinheiro para contratar ajuda. Se foi assim, peço desculpa por estar a ser injusto.