Quando se perde procuram-se sempre culpados e encontram-se sempre problemas. Quando se ganha foi tudo perfeito e é tudo exaltado.
Lembro-me que quando a Alemanha ganhou o Mundial 2014 houve uma enxurrada de gente que veio dizer que os alemães iam dominar tudo, que operaram uma revolução no futebol alemão, que preparam o estágio para o Mundial ao máximo pormenor, só que depois do Mundial 2014, a Alemanha foi eliminada na fase de grupos do Mundial 2018 e do Mundial 2022.
A Espanha por muito bem que jogasse no Mundial 2010 ganhou os jogos todos por 1-0 na fase a eliminar. Contra Portugal do Carlos Queiroz com um golo em fora-de-jogo do David Villa. Contra o Paraguai, o Casillas defendou um penalty do Cardozo quando estava 0-0 já na 2ª parte. Ganharam à Alemanha nas meias-finais com um golo de bola parada, uma cabeçada do Puyol, nada comum na Espanha. E na final ganharam 1-0 à Holanda após prolongamento, num jogo em que o Casillas faz uma das melhores defesas da história dos Mundiais cara a cara com o Robben quando ainda estava 0-0.
Em 86, nem tudo foi maravilhoso na Argentina que ganhou o Mundial. Na preparação para a competição, muitos problemas entre Billardo e os jornalistas, a selecção estava completamente desacreditada. Dentro da selecção, conflito entre duas das maiores figuras do futebol Argentino, Maradona e Passarela, por Billardo ter entregue a braçadeira a Maradona.
Há problemas em todas as selecções, mesmo nas que ganham.
A linha entre o sucesso e o insucesso é muito ténue, muito mesmo. E o principal problema é que as pessoas tendem a fazer todas as análises baseadas apenas no resultado final levando a conclusões normalmente erradas. Foi o que aconteceu com Portugal após ganharmos o Euro 2016. Não interessou para nada a pobre fase de grupos que fizemos, acabamos em 3º lugar num grupo com a Islândia, a Áustria e a Hungria. Precisamos de um super CR7 para não perdermos o jogo contra Hungria e ficarmos em último do grupo. Passamos em 3º lugar apenas porque nesse ano o formato mudou e os melhores 3ºs lugares passavam aos oitavos de final. Depois empatamos contra a Polónia, empatamos contra a Croácia e nas meias-finais apanhamos a poderosa Gales que não jogava um Europeu há muitos anos. Foi um caminho até à final como nunca se tinha visto. Naquela competição houve uma conjugação de factores que levou Portugal à final. E na própria final a França atirou bolas ao poste, falhou golos de baliza aberta, Rui Patrício fez a exibição da sua vida, Pepe foi o melhor em campo e Éder marcou o golo da vitória já no prolongamento. Mais uma conjugação de factores extraordinária na final. A FPF interpretou tudo isto da seguinte forma: Portugal ganhou o Europeu porque era a melhor selecção da Europa e deixou-se andar assim até este Mundial à espera que algo extraordinário voltasse a acontecer, desperdiçando quase uma década das carreiras de uma das melhores gerações de sempre.