Seleção A Feminina

Mary Antas

Mary Antas

Tribuna
20 Abril 2018
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Só precisas de recuar ao Europeu do ano passado para ter inúmeros recordes de audiência e assistência. Mas neste ponto ainda se nota muito a diferença entre o futebol feminino num país de futebol e num que não o tem como modalidade principal, como é o caso da Nova Zelândia.
Espanha, França e Alemanha também vão somando números cada vez maiores.

E o que noto de uma forma generalizada é um profundo desconhecimento do histórico e da realidade do feminino.

Esteve banido durante 50 anos no Reino Unido, entre os anos 20 e os anos 70. No Reino Unido. Não era "ah não se joga muito", era proibido mesmo. Foi assassino para o desenvolvimento da modalidade, que ainda teve a agravante de ter lutar contra o preconceito. Muito forte antigamente, mais paternalista e condescendente agora, mas basta imaginar como seria se o futebol em termos absolutos tivesse estado parado durante 50 anos.

Já percorreu um caminho muito longo e ainda tem um longo caminho por percorrer, a todos os níveis. Ainda temos jogadoras em Europeus e Mundiais que não são profissionais, à semelhança do que se passa nos países. E aqui poderíamos falar da FPF estar a construir a casa pelo telhado e termos históricos clubes de futebol feminino que formaram muitas das mulheres que hoje estão na seleção e que ficaram de mãos a abanar quando os grandes foram lá buscá-las. Há uma pequena parte que consegue viver do futebol e treinam todos os dias com todas as comodidades, mas há muitas que pagam para jogar ou que têm umas ajudas de custo e 3 ou 4 treinos por semana para chegar a casa à meia-noite com o trabalho ou estudos marcados para a manhã do dia seguinte. E quando a competição é entre estes patamares, é mais difícil haver evolução, mas ela lá vai.

Ninguém é obrigado a gostar, nem eu tenho qualquer problema em admitir que esteticamente ainda não é muito apelativo, apesar de mais puro e genuíno, mas temos milhares de jogos nas nossas cabeças jogados num nível diferente.

Mas pelo menos que tenham um pouco de noção das coisas, porque não há rigorosamente nada que impeça uma mulher de jogar bem futebol, andebol, voleibol. Apenas defendo que a baliza devia ser mais baixa, da mesma forma que a rede no volei baixa. Há golos que entram só mesmo por falta de centímetros, os homens são genericamente mais altos, é naturalíssimo.

E depois há isto:

O que não se faz pelos filhos.


A minha miúda queria muito ir.
Não sei que idade tem a tua filhota, mas isto é maravilhoso. São as outras grandes vitórias do futebol feminino e que pareciam utópicas quando eu era miúda - e não sou muito velha lol. Que as meninas queiram ver as senhoras a jogar, que sintam que lhes podem seguir os passos. Que haja meninos às portas de Camp Nou com a camisola da Alexia.

Prefiro que o Porto comece pela formação, como está a fazer, mesmo que pareça que seja só para cumprir as regras da UEFA. Tubarões a comer fitoplâncton já temos na Liga BPI.
Mas que as muitas meninas dragonas que andam neste mundo possam fazer aquilo que eu não pude e tanto queria: jogar pelo Porto e crescer lá enquanto jogadoras e mulheres.

Pronto, dou por concluída a tese de mestrado mas ainda tinha mais para dizer.