Há muita malta aqui no fórum que não se lembra de 2003 e 2004 (eu por exemplo)
Vocês foram uns sortudos por terem nascido a tempo de ver as conquistas enormes do nosso clube
Tens razão... falo muitas vezes nisso com amigos.
Posso contar quase a história da minha vida a partir da história do meu Porto.
Eu nasci em 1981 e tive a sorte de ver e viver equipas inacreditáveis do FC Porto.
Lembro-me da grande festa que foi a conquista da Champions (1987), da Supertaça Europeia e da Intercontinental, na Boavista, em casa do meu avô materno (que era um portista ferrenho). Eu era um miúdo de 6 anos e, embora vagamente, lembro-me de perceber naquela altura que, para aquela família, o Porto significava muita coisa para além de futebol!
Lembro-me de ser criança, viver no interior (distrito de Viseu) e ser um dos poucos Portistas entre os meus amigos. Lembro-me daquelas equipas que ganharam no inicio dos anos 90, com gente como Baía, João Pinto, Fernando Couto, Aloísio, Paulinho, Jaime Magalhães, Rui Filipe, Timofte, Domingos, Kostadinov... aqueles heróis de infância que me faziam sonhar. Lembro-me das coleções de cromos e de calendários com as caras dos jogadores. Lembro-me da chacota dos meus amigos (quase todos benfiquistas) durante o anos que acabava invariavelmente comigo a festejar.
Mais tarde, em plena adolescência, acabado de regressar à cidade do Porto para viver, lembro-me bem de equipas como a de 1997/1998 que fez a dobradinha e tinha jogadores como Jorge Costa, Aloísio, Rui Barros, Capucho, Drulovic, Conceição, Zahovic, Jardel... era impressionante a qualidade daquela gente a jogar no velhinho Estádio das Antas! Que maravilha....
Depois, quando tinha 23 anos, o sonho de voltar a ver o Porto conquistar a Europa. Estava na faculdade nessa altura, já fazia algum trabalho de Design como freelancer e, por isso mesmo, já ia algumas vezes ao estádio (primeiro às Antas e depois ao Dragão) ver jogos. Baía, Jorge Costa, R. Carvalho, Costinha, Maniche, Alenichev, Pedro Mendes (adorava este gajo), Capucho, Derlei, Benny e claro, Deco (o melhor que vi jogar). Foi uma fase maravilhosa. Tivemos uma equipa que se batia com qualquer um e um mágico que era, na minha opinião, um dos melhores jogadores do Mundo: Deco! Nunca me esquecerei de jogos inacreditáveis a que assisti como a eliminatória contra a Lázio (2002/2003) ou aquela vitória contra o Manchester (2003/2004).
Foi a partir daqui que comecei a trabalhar e a ganhar o meu próprio salário. Foi, por isso mesmo, a partir daqui que passei a ter lugar anual no Estádio e a ter o previlégio de ver grandes equipas do FC Porto, assim como de ver chegar e crescer no nosso clube grandes jogadores como Helton, Pepe, Bosingwa, Diego, Meireles, Quaresma, Lucho, Anderson, Lisandro... umas fase maravilhosa e que culminou na época de sonho (2010/2011) em que voltamos a ser senhores de tudo pelas mãos de Villas Boas. O prazer de ver gente como Álvaro Pereira, Fernando, Belluschi, Moutinho, James, Varela, Hulk e Falcão defender as nossas cores. O prazer de ver uma equipa do FC Porto voltar a ser gigante na Europa e calar tantas criticas que se levantavam. Os 5-0 ao benfica, as eliminatórias épicas da Liga Europa... assistir a tudo isso ao vivo no Dragão foi um previlégio enorme! Não esquecer claro a reviravolta na Taça (eliminando o benfica em casa), a celebração do campeonato em pleno estádio da luz apagado e a vitória da final da taça. Brilhante! As épocas que se seguiram tiveram o mesmo rumo de vitória e assistir ao golo do Kelvin ao vivo é algo que fica marcado na história de qualquer portista.
Pouco tempo depois (em 2014) decidi sair de Portugal e vim viver e trabalhar para a Alemanha. Deixei de ter lugar anual, deixei de poder ver todos os jogos ao vivo, mas nunca deixei de acompanhar e sofrer com o FC Porto todos os dias. Fiz de colegas meus (alemães e de outras nacionalidades) simpatizantes do Porto e até músicas os ensinei a cantar! Esta fase marca uma mudança extremamente positiva para mim (profissional e pessoal) mas um período muito complicado para o FC Porto. Começam os 4 anos sem ganhar nada... Foram momentos muito difíceis para quem acompanha o Porto e desde sempre o viu vencer...
Como devem calcular, aquela Liga ganha pelo Porto do Sérgio Conceição em 2017/2018 teve um sabor imensamente especial. Dei por mim, aos 36 anos de idade, a celebrar aquela conquista com o mesmo entusiamo, a mesma alegria, a mesma vontade e o mesmo sonho com que, aos 11 anos, celebrava o campeonato de 1992/1993 e as glórias dos meus heróis de infância e da minha caderneta de cromos.
Hoje, aos 39 anos, a viver longe da cidade do Porto e do Estádio do Dragão, continuo a torcer pelo clube com a mesma paixão e entusiasmo, com a certeza que terei a oportunidade de voltar a viver momentos tão bonitos e tão brilhantes como os que já vivi.
Sinto-me privilegiado por ser adepto de um clube que, ao longo da minha infância, juventude e vida adulta me proporcionou momentos e memórias tão incríveis.
Mas isto não acaba porque o FC Porto continuará sempre, mesmo depois de já cá não estarmos nós!