Todos falam do Chega, mas vejo pouca gente a falar do grande vencedor. O grande vencedor não foi Marcelo, mas sim o Costa. Mas alguém tem dúvidas que o crescimento do Chega beneficia António Costa? Aliás o André Ventura disse uma vez que o António Costa preferia muito mais apoiar a ele próprio que a Ana Gomes, pode parecer um delírio, mas faz todo sentido. Vamos por partes.
Ontem também se questionou o que é que Ana Gomes poderia fazer com estes resultados, bem na realidade Ana Gomes politicamente já não vai estar activa, mas no entanto um bom resultado da candidata poderia trazer grande discussão no futuro do PS, o Pedro Nuno Santos é um dos aspirantes a querer ocupar a liderança do PS depois de Costa, mas há concorrência do Medina que apoiou Marcelo. Um grande resultado da Ana Gomes poderia trazer uma discussão muito mais aberta sobre o futuro interno do PS e o Pedro Nuno Santos poderia marcar a sua posição dentro do partido. Olhando aos resultados a Ana Gomes só ficou 1% acima do André Ventura. A Ana Gomes nem de perto, nem de longe conseguiu levar a uma segunda volta, para não ter que dizer que a esquerda foi totalmente arrasada.
Actualmente a esquerda domina o parlamento português, neste momento o BE e PCP são duas grandes pedras no sapato do Costa, ora com estes resultados, os partidos à esquerda do PS estão completamente condicionados e terão que evitar a todo o custo uma crise política, caso contrário haverá eleições antecipadas, ir a eleições antecipadas para o BE e PCP seria um suicídio para ambos. O BE é bom que se diga em 2015 conseguiu o melhor resultado, chegou aos 10%, em 2019 reduziu para 9%, mas manteve o número de deputados, ou seja, o BE talvez tenha conseguido o seu máximo, daí a estagnação nos resultados do partido, quando os partidos estagnam o normal é perder votos. O PCP está em queda livre. O Costa desta forma, pode alimentar-se disso para meter medo e condicionar o BE e PCP.
Depois há o PSD e o CDS, os resultados do Chega obviamente que vão ter repercursões directas nas acções do centro-direita, principalmente no PSD vai se encontrar num grande dilema. O aliado natural do PSD, CDS tornou-se politicamente irrelevante e com um líder rídiculo, não há muito que se possa dizer ou fazer para salvar a queda do CDS, nem a Cecília Meireles conseguirá reerguer o partido. Praticamente o PSD vai ficar condicionado ao Chega ou então ao PS. Sem desprezar o IL, mas como tenho dito o IL será sempre uma força residual, principalmente nos grandes centros urbanos, por isso seu papel dentro do centro-direita não será tão decisivo, pelo menos nos próximos tempos, não quer dizer que o IL a curto prazo não possa vir a ser decisivo na viabilização de algum governo, como no caso açoriano. Lá está o dilema do PSD, será Chega ou PS. Se fízessemos uma sondagem dentro do PSD, obviamente que a escolha dos militantes do PSD seria o PS. Aqui o Costa pode ter uma grande oportunidade de esfregar as mãos e talvez encontrar formas de chantagear o PSD.