Adivinha-se uma vitória contundente da Esquerda sobre a Direita nas próximas eleições legislativas. De acordo com uma sondagem da Pitagórica para o JN e a TSF, os três partidos da "geringonça" somariam neste momento um pouco mais de 60% das intenções de voto. Já os quatro partidos à Direita, valeriam menos de 30%.
É uma Direita cada vez mais enfraquecida e fragmentada aquela que resulta do retrato político do mês de agosto. Enfraquecida, porque já só soma 28,1% - são menos 10 pontos percentuais do que o conseguido por Passos Coelho e Paulo Portas nas eleições de 2015; e menos seis pontos do que marcava em abril, data do arranque dos estudos da Pitagórica para o JN.
Fragmentada, porque há agora quatro partidos com hipótese de eleger deputados: o PSD, que continua em perda e está agora nos 20,4%; o CDS, também em queda, nos 4,9%; o Aliança a subir ligeiramente para os 1,5%; e o Iniciativa Liberal, que se estreia nestas projeções com 1,3%.
Assunção Cristas antecipou o cenário de fragmentação esta semana, admitindo a formação de uma "geringonça à Direita", depois das eleições de 6 de outubro. Mas foi naturalmente mais contida no que diz respeito ao enfraquecimento.
Se a líder do CDS se pudesse dar ao luxo de ser realista (estamos em campanha), não teria falado da hipótese de essa nova "geringonça" chegar aos 116 deputados, que asseguram uma maioria na Assembleia da República, antes da necessidade dos quatro partidos somarem pelo menos os 78 deputados que impedissem os três partidos de Esquerda de formar uma maioria constitucional de dois terços.
Será mais um fantasma lançado por alguns políticos à Direita do que uma hipótese credível - o PS está a um mundo de distância de BE e PCP em várias matérias. Veja-se o caso das leis laborais -, mas, como se diz a propósito de bruxas, "que elas existem, existem!"
Desentendimento à esquerda
Os últimos sinais políticos à Esquerda são aliás pouco promissores relativamente a entendimentos. Há a questão da atualização do salário mínimo, que o PS coloca fora de qualquer acordo futuro. Como há o ataque de António Costa ao BE. Que não será fruto do acaso. A sondagem da Pitagórica parece indicar que a luta pelas franjas que ainda sobram à Esquerda será sobretudo entre PS e BE. E no mês de agosto, foram os bloquistas que levaram a melhor.
É certo que a projeção para o PS aponta à eventual subida de 0,4 décimas, para os 43,6%. Mas o BE subiria quase um ponto percentual e chegaria aos 10%. A CDU ficaria com 6,6%, ou seja, manteria o mesmo patamar dos últimos quatro meses (com oscilações diminutas).
Um em cada cinco eleitores ainda está indeciso. São sobretudo mulheres, uma vez que a diferença para os homens é de quase nove pontos (23,7% face a 15,1%). Onde menos se hesita é no Grande Porto (apenas 11,2% de indecisos).
Os socialistas continuam, como já acontecera na sondagem de julho, no limiar da maioria absoluta. Faltarão poucas décimas, mas o resultado atual poderá não ser suficiente. Basta recordar que os 44% de António Guterres, em 1999, foram curtos (faltou um deputado para a maioria). Mas que os 45% de José Sócrates, em 2005, garantiram uma margem razoável (mais cinco deputados do que o necessário para uma maioria absoluta).
Mesmo sem o poder total, os socialistas poderão vir a ter mais uma hipótese de parceria. O PAN, partido animalista reconvertido em ambientalista, tem uma projeção de 3,2%. Baixa ligeiramente face a julho, mantém a hipótese de eleger vários deputados.
Rui Rio é quem mais sobe na taxa de rejeição
Más notícias para o líder do PSD no que diz respeito à sua candidatura a primeiro-ministro. Tal como partido, também Rui Rio, enquanto trunfo eleitoral, está em baixa. Na taxa de rejeição de voto, o social-democrata sobe quatro pontos: são agora 58% de inquiridos que asseguram que "jamais" votariam nele. O mercado eleitoral estreita-se a pouco mais de um mês das eleições e o fenómeno ganha visibilidade se compararmos os resultados desde abril, data de arranque deste ranking: em quatro meses, Rio acrescentou 13 pontos aos que o rejeitam.
Igual nesta má prestação só André Ventura, que também subiu 13 pontos desde abril, mas soma agora uma taxa de rejeição de 64%. Outros líderes partidários que estão a gerar rejeição são Catarina Martins (BE), que também cresce quatro pontos em agosto, e André Silva (PAN), que marca mais cinco pontos.
Ainda assim, o líder continua a ser Santana Lopes, que já foi primeiro-ministro, acabando demitido por Jorge Sampaio, em 2005. Talvez seja essa uma das explicações para a rejeição do eleitorado.
Quando se espreitam os resultados contrários, ou seja, a percentagem de eleitores que "de certeza" votaria em Rui Rio para primeiro-ministro, as notícias voltam a ser negativas: o líder do PSD perde três pontos de julho para agosto e já só tem três pontos de vantagem sobre Catarina Martins, do BE (em julho eram oito).
Quem lidera o ranking da firmeza de voto é, como sempre, António Costa: tem assegurados 26% dos eleitores. Acresce que o atual primeiro-ministro e recandidato pelo PS é também o líder com a taxa de rejeição mais baixa entre os nove que são avaliados no barómetro da Pitagórica para o JN e a TSF: soma 42%, mais um ponto que no mês passado.
Abstenção pode favorecer o PS e prejudicar PSD
A sondagem do JN apresenta evoluções aparentemente contraditórias, quando se comparam os resultados de julho e agosto: na intenção direta de voto, o PS recua (menos 1,2 pontos) e o PSD melhora (0,7 pontos); mas na projeção de resultados, é o PS que sobe e o PSD que está em perda. Como explica Alexandre Picoto, da Pitagórica, a análise que permite a projeção final inclui, para além da distribuição dos indecisos, o tratamento da abstenção, que se faz a partir de oito perguntas sobre hábitos, probabilidades e importância do voto. "Os prováveis abstencionistas são então retirados da amostra", acrescenta o mesmo especialista. Não há, portanto, uma contradição. O que se constata é que os eleitores socialistas estão mais motivados do que os sociais-democratas para ir votar. Mas se isso será mesmo assim, só será possível confirmar no dia das eleições, conclui.
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