Há quem ache que o bom futebol é só aquele de posse, de construção curta, de laterais por dentro, de médios entre linhas e jogo apoiado até à linha de fundo.
É uma ideia válida. Bonita, quando bem feita. Mas não é, nem de perto, a única.
Bom futebol, para mim, é aquele que respeita o contexto, entende os jogadores que tem, e sabe reagir ao que o jogo exige.
O resto é romantismo de quem nunca treinou no meio da lama, com um médio que não consegue girar ou nunca teve um central lento a defender a profundidade.
O Mourinho no FC Porto, campeão da Europa com uma equipa que defendia baixo quando precisava, atacava rápido, sabia sofrer e sabia matar. Era feio? Talvez para alguns. Mas era competente. E era letal. Fomos felizes e para nós jogávamos muito.
No Inter de Milão: ganhou uma Champions a eliminar equipas como o Chelsea e o Barcelona, jogando com inteligência, organização defensiva e aproveitamento máximo das transições.
No Real Madrid, jogava vertical, direto, explosivo — e bateu o melhor Barcelona da história com isso.
Três contextos, três estilos, um treinador. Um entendimento total do jogo.
Sir Alex Ferguson, o maior de sempre na Premier League, teve equipas com muitos rostos: umas mais ofensivas, outras mais cínicas.
Havia alturas em que jogava direto, em que o médio com a batuta era o Fletcher e o avançado era o Welbeck. E ganhava.
Outras vezes jogava com Rooney, Berbatov, Ronaldo e Giggs a trocarem posições. E também ganhava.
Com o "Fergie Time" no puro instinto. E até assim ganhava.
O Atlético do Simeone, que defende com dois blocos compactos e destrói em dois passes. Finalista da Champions duas vezes.
O Manchester City, que joga bonito, sim, mas que com Haaland ajustou a ideia: passou a aceitar ataques mais rápidos, menos posse, mais objetividade.
O Liverpool de Klopp, quando estava no auge, atacava com fúria, recuperava alto, e metia a bola na baliza com três ou quatro toques. Não era “posicional” — era vertical. E era brilhante.
O bom futebol não é o que parece certo nos livros — é o que resulta no campo.
É o que faz sentido com o que tens.
É o que mete os teus jogadores nas zonas onde são melhores.
É o que respeita o adversário sem abdicar da tua verdade e que encaixa nas capacidades do que tens no grupo de trabalho.
Hoje em dia, muitos acham que o futebol se ganha na ideia.
Esquecem-se que o futebol se ganha no detalhe. Na leitura. Na gestão. Muitas vezes até no instinto.
E que o modelo que serve num dia, pode ser suicídio noutro.
O bom futebol não tem forma fixa. Tem uma verdade como dizia o Vítor Oliveira: o jogar bem é jogar certo. O resto é barulho.