Há uma frase de Anselmi logo nos seus primeiros dias - se não foi mesmo na apresentação - que me preocupou e que vem à tona por estas alturas. Algo do género "eu não vou ensinar os jogadores a jogar à bola, porque nunca joguei futebol".
Acho que as pessoas sobreinterpretam muito essa frase dele. Ele não disse exatamente isso. Ele disse "não vou ensinar o meu jogador
a fazer um passe, porque nunca joguei futebol". Falava sobre o Otávio (penso que após o 2-2 contra o Rio Ave). E tem razão.
Não é ele que vai ensinar um jogador a fazer um passe, ou a receber uma bola ou a chutar à baliza. Pode é ensiná-lo quando, porque e para onde deve fazê-lo. Mas não o como. O 'como' é a qualidade do jogador que define. Ou também foi o Lage que ensinou o Di Maria a fazer cruzamentos milimétricos?
O papel do treinador é potenciar as qualidades do jogador, desenvolvê-las, adaptá-las ao melhor contexto para a equipa, não é ensiná-las. A qualidade de execução do jogador desenvolve-se com o treino, a prática. O treinador é um bocado alheio a esse processo. O treinador pode é desenvolver-lhe a decisão, a leitura, a inteligência, mas a execução? Meu amigo ou nasces ensinado ou praticas. E se não praticares, nenhum Klopp vai fazer de ti um Messi.
Por exemplo, o Anselmi não vai ensinar o Samu a finalizar melhor. Mas pode ensiná-lo a movimentar-se melhor na área, fora dela, a ler melhor o jogo, a saber os timings de pressão, etc. E um dos defeitos que aponto ao Anselmi é que o Samu parece muito desacompanhado nisso. Ainda hoje parecia uma barata tonta a pressionar, a correr sem critério nenhum e a cansar-se sem necessidade nenhuma. Isso sim é o treinador que tem de corrigir. Se calhar se o Samu não estivesse tão cansado tinha tido mais discernimento para escolher o timing de salto no cabeceamento onde falha o 2-1 completamente sozinho, mesmo antes do 3-0. Mas nenhum treinador vai corrigir ao Samu os dois falhanços que ele teve hoje. Isso é o jogador que tem de trabalhar.