Todos eles têm o seu quê de MJ sem dúvida no delivery vocal, o standard de produção alto, com equipas vastas de especialistas (que muita gente desconhece, muitos são verdadeiros génios musicais) tem uma influência indelével.
Estilos depois é que são todos diferentes, o The Weeknd tem essa influência (e um vocal próximo), mas o todo o seu landscape sonora é synthwave revival (olá Max Martin), não está intrinsecamente ligado ao funk pop do MJ.
O anãozinho Mars é nesse aspecto o mais próximo em termos de som puramente funk pop e até mesmo no delivery vocal é uma tentativa de cópia.
A Stefani "Lady Gaga) é só mesmo no production value, embora ela dependa muito menos de produtores, porque sabe escrever, compor e até executar, e tem um vocal mais profundo, um MJ nunca atingiria, sendo homem, as notas baixas do contralto dela (registo mais baixo e normalmente ligado às mulheres com uma voz "soulful")
Acho que do Bibas nunca pouvi sequer uma música.
Quando mencionei o The Weeknd, pensei mais na discografia da década passada, que tinha uma sonoridade mais parecida. No entanto, ainda há 2 ou 3 canções de cada um dos álbuns dele desta década que me lembram muito o MJ, até acho que há uma que tem um sample e existe uma que consiste numa narração do Quincy Jones com um instrumental dessa era por trás. Ainda assim, a vibe do The Weeknd sempre foi mais dark e, hoje em dia, vai beber também a outras inspirações.
A Gaga é a menos parecida de todos que citei, mas mesmo assim noto uma influência (acho que o último álbum dela tem uma canção que é uma homenagem direta).
O que não gosto em muitos artistas pop de hoje (excluo Gaga, The Weeknd, etc.) é que parece que não têm qualquer controlo criativo. As editoras chamam um produtor famoso (um Max Martin), e é o próprio que assume o controlo da sonoridade dos álbuns.
Ora, isso não acontecia tanto antigamente com os principais artistas. Retomando o exemplo do MJ: foi ele quem procurou o Quincy Jones e lhe disse o que pretendia exatamente. Muitas vezes, chegava com as canções já num estado praticamente final e depois trabalhava com o Quincy e a sua equipa esplêndida para melhorar certos aspetos.
Dois casos enigmáticos: Billie Jean e Beat It.
Existe uma versão demo de Billie Jean (disponível no Youtube e que veio à tona nas edições especiais do Thriller), gravada na casa do MJ e produzida pelo próprio, em que a canção surge praticamente tal como a conhecemos. Basicamente, segundo me recordo, instruiu os irmãos a tocar certos instrumentos e depois colmatava outros instrumentos com os sons da própria boca, palmas e estalar de dedos, ao mesmo tempo que cantava a refrão e fazia os backing vocals. Apenas partes da letra estavam incompletas na versão que está disponível.
Chegou com essa demo ao estúdio e o Quincy nem sequer a queria incluir no álbum. O MJ insistiu e acabou por ficar, mas o QJ mal produziu; apenas foram adicionados os tais instrumentais que o MJ fazia com a boca na demo, com os músicos fantásticos do estúdio.
A demo de Beat it também tem a estrutura base da versão final, só faltando o solo do Van Halen. Aqui não há qualquer instrumento: é o MJ a cantar, a fazer os backing vocals e a imitar os instrumentos com a boca.
Em suma, ele trabalhava com os principais produtores da época (QJ, Teddy Riley, Jimmy Jam, Terry Lewis, Darkchild, David Foster...) e com uma brutal equipa de músicos e especialistas, mas o controlo criativo era dele.
Já nem toco em casos mais extremos, como o do Prince - que chegou a fazer álbuns em que cantava, tocava e produzia tudo sozinho.
Pegue-se, por exemplo, numa Beyoncé e veja-se quantos songwriters cada canção possui. Quantos produtores. Ou atente-se numa Swift e vamos ver se não se chega à conclusão que o Antonoff é o cérebro por detrás daquilo.