Como todos os grandes poetas, António Marante provoca com a sua obra interpretações ambíguas. Eu vejo o "Som de Cristal" como um música de intervenção e antifascista. Considero que o autor metaforiza a liberdade e democracia na sua letra como sua esposa. Vejamos: o poema começa logo com "a casa noturna", uma clara critica a quem nega a ciência, fazendo uma analogia ao obscurantismo, tão presente hoje em dia com os negacionistas das vacinas e com os terraplanistas.
A seguir diz "Boêmios bebendo / Cantando e dançando /Ao som da orquestra", ou seja, os boémios representam os políticos corruptos que se deixam comprar e acabam a bailar na orgia de promiscuidade criminal com banqueiros, juízes e grandes agentes económicos.
Depois - e aqui discordo do autor, ele diz "É casa noturna / Boite falada / Lugar de má fama / Com as portas abertas / Durante a noite /Entra quem quiser", querendo provocar uma insurreição bélica. Nota-se os ideais maoistas, onde o poeta metaforiza a Assembleia da republica como "boite falada, lugar de má fama". Parece-me evidente que o autor está a incentivar os inconformados a invadir a casa da nossa democracia, ao jeito do que aconteceu no Capitólio americano.
Rematando, António Marante, confessa que vê a sua esposa, Liberdade, a entrar naquele antro de depravação e afirmando que acabou por a conspurcar. A critica é a todos nós, que somos cúmplices e culpados pelo estado debilitado da democracia atualmente, seja por espalharmos desinformação; por perdermos a crença no Estado de Direito e nas instituições que nos governam, seja pelos constantes escândalos ou pela tão aguardada prosperidade financeira ser uma miragem.
É uma crítica mordaz, mas assertiva que nos deve fazer refletir enquanto dançamos com a nossa imperial de 70 cêntimos na mão, no bailarico de verão da aldeia.