«Que comentário lhe merece o facto de o fundo Quadrantis poder estar a financiar a atividade de SAD?
Pereira da Costa:
— É um sinal de grande preocupação, uma vez que há um manifesto de conflito de interesses porque há um financiamento vinculado a uma pessoa que está muito próxima da SAD, que conhece toda a informação, as taxas de juros e os contratos. Claramente configura um conflito de interesses óbvio e o que isto significa conflito de interesses pode ser aqui um pouco um palavrão, mas quando temos uma pessoa que está a decidir em causa própria e a financiar o clube, sendo ele o beneficiado desse financiamento, é óbvio que a procura pelas melhores soluções do mercado pode não acontecer. Tipicamente nas sociedades cotadas, esta questão das partes relacionadas é uma questão que é super escrutinada, tem de ser autonomizada no Relatório de Contas as transações com partes relacionadas. Esta, obviamente, não foi, não aparece e, como tal, casualmente soubemos que o fundo Connect Capital estava ligado à Quadrantis e ao vice-presidente financeiro do Lista A. Mas isto foi uma descoberta casual, não foi nada que tivesse sido havido um disclosure oficial por parte do FC Porto SAD. Até que ponto é que houve o parecer prévio do Conselho Fiscal? Tudo isto são questões de grande nebulosidade, de falta de transparência que preocupam não só nesta operação como noutras que possam eventualmente vir a ser montadas. Já foi várias vezes referida à operação dos 250 milhões, até que ponto é que não teremos o fundo Quadrantis também a participar nessa potencial operação, quando o próprio fundo está a procurar levantar capital com as contrapartes típicas das sociedades desportivas? Com a UEFA, com o Fundo Soberano Saudita da transferência do Otávio, com os operadores televisivos, com a própria Super Bock, com as empresas de equipamento desportivo, as Adidas e o Nike? Tudo contrapartes ligadas ao mundo de futebol. Levantamento de capital 250 a 300 milhões e financiamento por 250 milhões ao FC Porto. Parece-nos demasiada coincidência para que não possamos estar na iminência de uma situação ainda mais grave, dado o volume de conflito de interesses.»