Quantas vezes disse eu que o segredo do Gyokeres era a forma como Amorim sabia baixar estrategicamente e abrir corredores de lançamento para ele. Com marcações acertadas no setor intermédio, esses corredores de lançamento eram acionados pelos alas de pé trocado a inverter ou pelo acionamento de um dos centrais externos, que são grandes armas no jogo ofensivo deles pela superioridade que criam ao infiltrar-se em pockets sem cobertura.
Médios ficam com médios (no caso de um extra a cobertura do ala desse lado tem que ser mediada constantemente com o extremo desse lado ou sobe num 2x3 na saída deles (mas entrega sempre a entrada da bola no avançado exterior daquele lado que não vai ser seguido pelo lateral por dentro porque isso cria um canal de lançamento para o Gyokeres no corredor lateral do mesmo lado e cria um 2x2 com ala + Gyokeres), extremos com alas e laterais com os avançados exteriores do sporting. Em construção vão ter sempre superioridade com 3 centrais porque bem trabalhado é uma fórmula difícil de contrariar pelos canais de saída que promove. Os ângulos de saída da bola estavam todos trabalhados, os gatilhos de lançamento também.
Para além disso existe o fator liderança. Amorim tinha um discurso super agregador e era admirado no balneário. A prova disso é continuarem a morrer por ele em campo depois da cagada que fez a temporada passada de se meter num avião privado em semana de folga para ir a Inglaterra negociar a saída. Existia qualidade, uma identidade e uma crença cega nessa identidade. E um grande treinador taticamente forte com capacidade para se reinventar e adicionar novas nuances a cada contrariedade. O cúmulo da quantidade de lançamentos e criações de vantagem para o Gyokeres nos últimos dois jogos internos é inferior a um terço das mesmas ocasiões em que o faziam POR JOGO com Amorim. E isto não é só invenção do João Pereira, se as equipas pudessem ser treinadas (até por períodos largos) com um excelente treinador e conseguissem manter o mesmo treino, mecânicas e foco sem ele, então o Guardiola tinha deixado o Barcelona e o Barcelona ter-se-ia mantido exatamente igual, nem precisavam de treinador. A realidade não é esta. O jogador precisa de inputs de treino diários, caso contrário o trabalho vai pelo cano. E não é por se esquecerem, é porque o futebol é um jogo de centímetros e segundos e basta meio segundo ou um centímetro ao lado e o resultado pode passar de um golo para uma perda de bola em zona perigosa e golo na baliza oposta.
Bati sempre aqui na tecla de Amorim enquanto o motor 1,2 e 3 do sporting e a forma como ele montou um coletivo com visão heliocêntrica para um jogador geracional num contexto de existência de espaço, porque fazê-lo é extremamente difícil. As equipas entendem os pontos fortes e adaptam-se mas o sporting conseguia criar superioridade de todas as maneiras e pós 23/24 começou a fazê-lo sem se centrar completamente em Gyokeres num contexto interno.
O tempo veio dar-me razão e agora uma equipa que estava lançada para perder pontos sabe-se lá onde enterra-se com duas derrotas consecutivas sendo que um adversário direto pode ultrapassá-los e o outro já se deslocou a luz e alvalade.
Continuam a ser os maiores candidatos neste momento, mas vamos esperar para ver como dão a volta a este momento. Quanto mais tempo durar JP, pior será para eles. Porque para além de estar a tentar impôr mutações no que fazia Amorim, arrastando os jogadores cada vez mais para longe da realidade do que faziam antes, não sabe o que faz.