"Peça fundamental" de Villas-Boas abdica de fortuna para salvar o FC Porto. "Se ele não conseguir, dificilmente alguém consegue"
José Pereira da Costa está há vários anos em cargos de topo. Agora sai para algo completamente diferente: controlar as (temidas) contas do FC Porto
“Algo nunca visto no futebol português.” É desta forma que o presidente eleito do FC Porto descreve a “peça fundamental” da próxima estrutura do clube, que vai ser liderado por André Villas-Boas a partir de 7 de maio.
José Pedro Pereira da Costa abdica de uma posição muito vantajosa na NOS, onde era diretor financeiro (CFO) há dez anos. Agora vai fazer o mesmo papel no FC Porto, prometendo ser o elemento essencial num clube cujo estado das contas pode ser complicado.
É por isso mesmo que, sabe a CNN Portugal, o novo administrador financeiro do FC Porto vai abdicar de receber prémios, pelo menos enquanto a situação não estiver mais estável a nível de contas.
A posição estável de que Villas-Boas falava tem um número: 675.175 euros. Foi isso que, entre salário e prémio, Pereira da Costa recebeu da NOS em 2023, de acordo com o
Relatório e Contas da empresa. Só por si já é um valor superior ao atual CFO do FC Porto, Fernando Gomes, que no mesmo ano recebeu 661.500 euros, mas o corte será com certeza maior.
Desde logo não haverá, ao que a CNN Portugal apurou, pagamento de prémio. Comparando com o que é conhecido da atividade do FC Porto, são menos 280 mil euros do que recebeu Fernando Gomes em 2023, por exemplo.
Não há melhor
“Se ele não conseguir resolver [os problemas financeiros do FC Porto], dificilmente encontrarão alguém que o consiga fazer.” A garantia é dada por Maria João Carrapato, diretora de Relações de Investimento e Sustentabilidade da NOS, empresa para onde foi contratada por Pereira da Costa, e onde ambos trabalharam em conjunto entre 2007 e 2023, até à saída do gestor.
À CNN Portugal, a responsável fala num homem com uma experiência dificilmente comparável em Portugal. “É um gestor de elevada reputação, credibilidade e confiança”, explica, falando em alguém que tem uma “imagem fundamental” junto dos mercados, nomeadamente pela seriedade que sempre pautou a sua carreira.
“Tem uma grande experiência construída à volta dos mercados financeiros, uma gestão de topo que fez com que tenha muitos contactos com os grandes grupos, as grandes instituições financeiras. Tem um acesso e uma visibilidade muito claros, uma rede de contactos muito forte”, acrescenta, explicando que era isso que Pereira da Costa fazia na NOS, sendo também isso que deverá fazer no FC Porto.
E esse conhecimento pode ser essencial para captar o investimento que o FC Porto muito provavelmente vai precisar, até porque o primeiro ano pleno de Villas-Boas começa financeiramente mal: a equipa falhou o acesso à Liga dos Campeões e isso significa um grande rombo financeiro que deverá obrigar o clube a vender jogadores e a contratar com menos capacidade.
É que Pereira da Costa “tem fácil acesso a investidores que possam ter interesse em entrar e apoiar este tipo de negócios”, continua Maria João Carrapato, também ela portista, e que chegou a ver jogos do FC Porto fora do país com o novo CFO azul e branco quando os dois iam em viagens de negócios.
“Não só pela dimensão dos negócios, mas também pela confiança das instituições. Estou curiosa para ver como vai ser no FC Porto, um animal completamente diferente”, admite.
Uma decisão surpreendente
A ligação ao FC Porto até é bem maior do que aquilo que se conhecia inicialmente. Afinal, o pai foi campeão de andebol pelo clube do qual Pereira da Costa é sócio há mais de 50 anos, facto que Villas-Boas entendeu ser currículo suficiente para a aposta.
Quando o contacto foi feito – foi Villas-Boas a ligar – a primeira abordagem foi surpreendente para o gestor, conta fonte próxima à CNN Portugal. É que “não passava pela cabeça” de Pereira da Costa este passo na carreira, mas depois da primeira conversa as coisas acabaram por se encaminhar e o repto do agora presidente eleito foi aceite.
E para isso também contaram dois fatores: 16 anos de NOS e o interesse em fazer algo diferente, sendo esta a fase ideal da vida para tal; a paixão por desporto, futebol e, sobretudo, pelo FC Porto.
"É um grande portista de coração. Viajava muito ao estrangeiro e acompanhava-o muitas vezes a ver jogos lá fora, era com grande emoção que acompanhava temas do FC Porto", vinca Maria João Carrapato.
Mas não deixou de ser uma mudança surpreendente, sabe a CNN Portugal, até porque não havia, até então, uma ligação óbvia ao clube, para lá dos muitos e muitos anos de sócio.
Na NOS a surpresa foi semelhante. Não que não se soubesse da paixão clubística de Pereira da Costa, mas, como conta Maria João Carrapato, nada apontava para este cenário.
“Ficámos todos surpreendidos. Tinha a base em Lisboa, a família em Lisboa”, diz Maria João Carrapato, antevendo em Pereira da Costa a pessoa ideal para resolver um “desafio completamente diferente, de resolução de um problema significativo”, até porque vai de uma empresa cotada em bolsa, uma das que mais lucros gera em Portugal, para uma casa que “precisa de ser arrumada e estruturada”, segundo Villas-Boas.
Segue-se aquilo que será como uma missão de resgate, mas na qual também está envolvida uma componente emocional muito forte.
E que gestor temos?
Algumas das ideias da nova direção passam pela contenção de custos - veja-se as críticas ao contrato de Francisco Conceição (que ficou com 20% de uma futura venda) - , mas também pela melhor rentabilização dos ativos, nomeadamente a venda de jogadores.
Para isso é de esperar uma abordagem de equipa. É o que distingue Pereira da Costa, afirma Maria João Carrapato, que destaca a inteligência do gestor acima de tudo, além da "confiança, credibilidade e relação com o mercado".
Pereira da Costa é também um homem "muito rigoroso", mas que mantém um "grande nível de delegação" na equipa que gere. Na NOS era assim, "acompanhava de perto, com muita atenção ao pormenor", mas também havia autonomia, liberdade e, sobretudo, confiança.
"É alguém que se dá muito bem com as equipas, quer laterais, quer diretas. Gosta de cooperar, gere muito bem consensos, tem muita capacidade de obter resultados, não é de conflito, é de gestão", completa Maria João Carrapato.
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