Comecemos pelo essencial: antes de procurar esclarecer o que quer que seja, há quem precise primeiro de inventar o próprio problema. Logo no início do vídeo, Nuno Pinto da Costa diz que veio “esclarecer alguma desinformação”.

A verdade é que ninguém sabe que desinformação é essa. Não houve notícias falsas, não houve rumores, não houve versões contraditórias vindas do clube. A única “desinformação” em circulação é a que o próprio Nuno cria: insinuações, leituras enviesadas e uma dramatização permanente que transforma uma homenagem do FC Porto ao Presidente dos Presidentes numa novela familiar.

Ele anuncia que vem repor verdade, mas o que faz é fabricar a narrativa que precisa para se colocar no centro do enredo, e é essa narrativa artificial que vou desmontar no texto abaixo.

DA SERENIDADE ESPERADA AO DRAMA FABRICADO

A intervenção de Nuno Pinto da Costa sobre o Dragão de Honra entregue ao avô podia, no mínimo, ter sido um momento de serenidade, sobretudo vindo de alguém cujos apoiantes passam a vida a cobrar “paz e reconciliação” sempre que lhes convém. Mas foi o contrário. Nunitcho pegou numa homenagem institucional do FC Porto e transformou-a numa disputa pessoal, onde estica a narrativa familiar até caber no argumento que quer vender, mesmo que para isso tenha de distorcer factos, contextos e intenções.

Será que o FJM já veio condenar o Nunitcho por desperdiçar mais uma oportunidade de criar um ambiente melhor? Ou ficará, como sempre, enterrado na sua própria incoerência barulhenta?

UM GESTO INSTITUCIONAL QUE ELE TENTOU TRANSFORMAR EM PALCO

O ponto de partida é simples: o FC Porto prestou uma homenagem ao Presidente dos Presidentes e colocou o troféu exatamente onde pertence, no Museu do FC Porto, não no centro de uma novela doméstica. O Nunitcho percebeu isso tão bem que a única forma que encontrou de se manter relevante foi transformar um gesto institucional numa crise fabricada.

E isto leva a uma pergunta óbvia: o que fez o neto, ao certo, para achar que os sócios são ingénuos ao ponto de algum dia considerarem votar em alguém que nunca construiu nada, nem para o clube, nem na própria vida? Nunca o vimos na luta, nos dias difíceis, e muito menos nas decisões. Surgiu apenas quando o avô já não estava cá para lhe ofuscar o ego, e desde então tem vivido mais da sombra herdada do que de mérito próprio.

É o padrão típico de quem confunde linhagem com legitimidade, e cada intervenção que faz só reforça essa imagem de alpinista em busca de palco.

PRIMEIRA CONTRADIÇÃO: A “VONTADE DO AVÔ” USADA COMO ARMA

A primeira grande contradição - e a prova mais evidente de que a vontade do avô só lhe interessa quando coincide com a sua própria - está na forma como o Nunitcho usa a tal passagem do livro "Azul até ao fim". O texto que ele cita é claro: Pinto da Costa não queria homenagens póstumas, nem queria familiares a receber prémios em seu nome. Abre apenas uma exceção muito específica, quase simbólica: um eventual Dragão de Recordação, imaginado num cenário particular e num contexto que nada tem a ver com a gala de 2025.

Mas o que faz Nuno? Agarra essa exceção e transforma-a numa ordem absoluta, válida para qualquer prémio, em qualquer circunstância, independentemente de quem dirige o clube. E mais: usa-a como porta de entrada para se colocar a si mesmo no centro da narrativa, como se a exceção fosse um mandato hereditário para subir ao palco sempre que o nome do avô surgisse associado a uma homenagem.

É aqui que o paradoxo se torna gritante. Se levássemos a vontade principal do avô à letra: “não quero homenagens póstumas” não haveria Dragão nenhum. E se levássemos apenas a exceção, o tal Dragão de Recordação, então o que Nuno faz é escolher seletivamente a parte que lhe convém e ignorar o resto. Principalmente porque o prémio atribuído foi um Dragão de Honra, não um Dragão de Recordação. São coisas diferentes, categorias diferentes, significados diferentes.

Ainda assim, no vídeo onde diz vir “esclarecer desinformação”, o Nunitcho mistura conceitos, altera o contexto e tenta projetar-se como figura central de um prémio que nunca lhe foi destinado. Não por respeito ao avô, que prova não ter nenhum, mas porque precisa que a exceção sirva a ambição daquela “facção” que o empurram para a linha da frente como rosto de um plano maior para voltarem a usar o Porto em proveito próprio.

SEGUNDA CONTRADIÇÃO: O TEATRO DA “FAMÍLIA MAGOADA”

A segunda falha surge quando o Nunitcho insinua que “a intenção foi ferir a família”. Essa frase, por si só, já merecia que pudéssemos questionar a relação dele com seu pai e do seu pai com o seu avô, mas não vale a pena entrar por caminhos que todos conhecem e que dispensam explicações. O ponto é outro: essa vitimização conveniente não nasce da realidade, nasce da necessidade de lhe atribuir uma profundidade emocional que ele nunca demonstrou. É um argumento feito à medida, provavelmente soprado por quem precisa que ele encarne o papel de mártir para alimentar uma narrativa política.

Se ele quisesse realmente honrar a imagem do avô, não andaria a fazer estas figuras de *marioneta*, movida pelos fios de quem provavelmente precisa dele como peça útil num teatro em que ele é apenas um mal necessário.

A verdade é simples: a gala incluiu uma mensagem emocionada do filho legítimo do Presidente, um texto alinhado com a homenagem, orgulhoso, digno, dito no registo que a família achava o certo. E é aqui que a narrativa do Nunitcho colapsa. Se ele quer falar de “família”, então deveria começar por honrar o próprio pai antes de se colocar como porta-voz de um legado que nunca construiu. Porque ao contrário do pai, que manteve a sobriedade e o respeito pelo momento, o Nunitcho usa o avô como trampolim e, no processo, desrespeita ambos: avô e pai. A palavra “família”, na boca dele, não é um valor, é apenas uma ferramenta útil para encenar fragilidade e ganhar protagonismo.

Isto desmonta por completo a ideia de que “a família foi magoada”. Não existe uma entidade monolítica chamada “a família”. O que existe é a projeção que o Nunitcho faz, tentando transformar a sua posição num consenso inexistente. Quando ele diz “foi-nos feito isto a nós”, não está a defender o clã Pinto da Costa, está a vestir um manto coletivo que não lhe pertence. Está a pegar num desacordo interno e legítimo e a convertê-lo numa novela de vitimização preparada para justificar o próprio discurso.

E isso, sim, é profundamente desonesto: instrumentalizar o peso emocional do nome para fabricar um drama que não corresponde aos factos. Esse tipo de discurso pode servir muito bem à turma do “contra” aqueles que viviam à mama do regime antigo e sonham voltar a mamar, os ignorantes funcionais que repetem frases feitas sem entender nada, e as viúvas que nunca perceberam verdadeiramente o legado de Pinto da Costa.

Mas a maioria dos portistas não come gelados com a testa. A maioria vê perfeitamente o objectivo desta encenação e entende quem realmente está a usar o nome do Presidente dos Presidentes para fins que nada têm a ver com o FC Porto.

“NÃO FUI CONVIDADO” – A FRASE MAIS ABSURDA DO VÍDEO

Ainda temos aquele momento caricato - e na minha opinião, vergonhoso - do vídeo em que o Nunitcho anuncia/confirma com ar solene, “não, não fui convidado para a Gala dos Dragões de Ouro…”. Mas a pergunta que se impõe é outra: quem é ele para ter sido convidado?
O que fez pelo FC Porto?
O que construiu?
O que liderou?

Em que momento da história do clube a sua presença seria sequer relevante? Milhões de adeptos não foram convidados, como é óbvio.

A gala não é uma romaria de vaidades, é um evento institucional. Só na cabeça de alguém totalmente perdido na própria narrativa é que esta frase faz sentido. Só na cabeça de um miúdo narcisista é que a ausência de convite é interpretada como afronta.

Rapaz, entende a tua realidade: não és protagonista de nada disto. O mundo não te deve um palco, o FC Porto muito menos. Arranja o que fazer, cria obra, constrói caminho, porque enquanto continuares a viver de um apelido e de uma sombra, tudo o que dirás soará sempre assim: pequeno, vazio e insignificante.

HIPOCRISIA PROJETADA: O ATAQUE AO “ARREMESSO POLÍTICO”

Depois, acusa a direção de usar a homenagem como “arremesso político”, mas o próprio vídeo que grava é tudo menos neutro. É um discurso preparado, emocionalmente carregado, pensado para acender o debate e para marcar posição pública.

Ele critica a instrumentalização enquanto faz precisamente a mesma coisa. A moral que impõe aos outros não é a que aplica a si mesmo.

O CASO MANICHE: MEMÓRIA SELETIVA E IGNORÂNCIA CULTURAL

Finalmente, há o episódio #Maniche. Nunitcho usa o nome do ex-jogador como símbolo da “hipocrisia” de quem criticou o avô e agora surge em galas. Mas isto ignora completamente a cultura do FC Porto e a própria história do seu avô. #PintoDaCosta lidou, ao longo de décadas, com dissensos, críticas, afastamentos e reconciliações.

A vida do clube sempre foi maior do que mágoas individuais. Colocar Maniche - um campeão europeu - como símbolo de hipocrisia é reduzir a história do FC Porto ao tamanho das irritações pessoais do mimado netinho. É transformar o clube numa extensão de ressentimentos familiares. E vem mais uma vez evidenciar o ridículo da situação.

CONCLUSÃO: O FC PORTO HOMENAGEOU, O NETO POLITIZOU

O que a direção fez - goste-se ou não dela - foi institucional: atribuiu o Dragão de Honra e colocou o galardão no Museu, onde pertence. O Nuninho, pelo contrário, fixou-se apenas em quem subiu ao palco, como se o troféu fosse património privado da família Pinto da Costa e não um fragmento da memória coletiva do FC Porto. A homenagem não foi feita para decorar nenhuma sala de estar. Foi feita para a história do clube, para todos nós!

E é aqui que a incoerência dele atinge o auge: não podemos proclamar que Pinto da Costa será eternamente um símbolo do FC Porto e, ao mesmo tempo, aceitar discursos de quem reduz esse legado a um assunto de família, e ainda por cima o faz com a postura típica de quem nunca construiu nada.

Porque sempre que lhe perguntam, desde os tempos de escola até hoje, “quem és e o que fazes?”, a resposta é sempre a mesma: “sou neto de Pinto da Costa”!

Não há obra, não há percurso, não há contributo. Há apenas um apelido que ele tenta transformar em currículo.

No fim, a questão é esta: o FC Porto homenageou o Presidente dos Presidentes. E o neto respondeu transformando e desrespeitando a memória do avô num manifesto pessoal. Não há problema nenhum em estar magoado, é humano. O problema é usar essa mágoa como arma pública e depois acusar os outros de politizarem aquilo que, desde o início, deveria ter sido apenas isto: um tributo do FC Porto ao homem que o liderou durante quarenta anos.
BOF_Abraços
Ricardo Amorim