CUBILLAS - ÉPOCA 1975/76 (Parte I)
Esta época foi negra para o FC Porto. Não foi além do 4º lugar no campeonato, a 11 pontos do vencedor (Benfica), ao que se juntou a eliminação da Taça de Portugal, em Guimarães, e da Taça UEFA, nos quartos-de-final perante o Hamburgo.
Mas, paradoxalmente, para Teófilo Cubillas, eleito capitão da equipa, seria uma temporada recheada de golos. Novamente o jogador mais utilizado, inicialmente pelo treinador jugoslavo Branko Stankovic e depois pelo bombeiro de serviço, Monteiro da Costa.
Cubillas disputou 38 jogos repartidos por três competições: campeonato (29), pela Taça de Portugal (3) e pela Taça UEFA (6) e, em todas fez o gosto ao pé. A sua veia goleadora fez-se sentir, principalmente no campeonato, onde apontou 28 golos, ficando a apenas dois do principal artilheiro desta época, Rui Jordão, do Benfica, que chegaria aos 30 remates certeiros. Na Taça de Portugal marcaria por quatro vezes e na Taça UEFA igual número. Resumindo, 36 golos não foram suficientes para evitar o descalabro. Facto comum e corrente por estas alturas.
A distribuição dos golos:
Campeonato Nacional (28)
07/09/1975 1ª Jornada Estádio das Antas (2 golos)
FC Porto 6-1 U. Tomar
O U. Tomar adianta-se no marcador, logo aos 11 minutos. Cubillas marca o golo do empate aos 18 e voltaria a repetir aos 57 (4-1).
14/09/1975 2ª Jornada Estádio Municipal - Coimbra - (1 golo)
Académico de Coimbra 1-1 FC Porto
O FC Porto arrancou um empate a ferros nesta deslocação a Coimbra. Depois de estar na situação de desvantagem a partir dos 77 minutos, Cubillas assegurou a repartição dos pontos aos 88.
07/09/1975 6ª Jornada Estádio Alfredo da Silva - Barreiro - (1 golo)
CUF 0-3 FC Porto
Num campo que sempre foi um obstáculo muito difícil de transpor, o FC Porto cedo dissipou as duvidas que pudessem existir em relação ao vencedor. Ademir, aos 3 e 23 e Cubillas aos 12 minutos, foram os \"carrascos\" de serviço. Esta jornada deixava quatro equipas (Benfica, Boavista, Belenenses e Braga) empatadas no 1º lugar, com 9 nove pontos. O FC Porto e Sporting com 8. Quatro jornadas depois, o panorama, seria bem diferente, para pior.
01/11/1975 9ª Jornada Estádio das Antas (2 golos)
FC Porto 8-2 Leixões
Depois da vitória sobre a CUF, o FC Porto foi derrotado nas duas jornadas seguintes: pelo Sporting (2-3) nas Antas, com o célebre golo fantasma do Gomes, marcado pelo apanha bolas numa noite de nevoeiro, a não ser suficiente para evitar o desaire e na semana seguinte novo desaire (0-1), desta vez no Bessa, perante o «Boavistão» de José Maria Pedroto.
O Dia dos Fieis, de 1975, foi mesmo de enterro para os leixonenses. O FC Porto na primeira meia hora marcou quatro golos, para chegar aos oito já perto do final do desafio. Cubillas fez o 3-0 aos 26 minutos e o 7-2 aos 86. A título de curiosidade, os golos do Leixões foram apontados por Frasco e Albertino, dois jogadores que mais tarde viriam a jogar de Azul e Branco.
23/11/1975 10ª Jornada Estádio Mário Duarte Aveiro - (1 golo)
Beira Mar 2-2 FC Porto
Cubillas faz o 1-1 aos 33 minutos. Consequências deste empate: FC Porto em 6º lugar, juntamente com Estoril, a seis pontos do sensacional Boavista, de Pedroto. Boavisteiros comandam a prova sem derrotas e com o melhor ataque e defesa do campeonato!
07/12/1975 11ª Jornada Estádio das Antas (1 golo)
FC Porto 2-0 Atlético
Cubillas abre as hostilidades. Aos 27 minutos faz funcionar o marcador.
14/12/1975 12ª Jornada Campo António Coimbra da Mota - Estoril (1 golo)
Estoril 1-3 FC Porto
Marca o 3º golo, aos 82 minutos, pondo ponto final na incerteza quanto à atribuição dos dois pontos.
28/12/1975 14ª Jornada Estádio do Bonfim Setúbal (2 golos)
V. Setúbal 2-2 FC Porto
Na jornada anterior, o FC Porto, tinha dado mais um passo atrás ao empatar, nas Antas, com o V. Guimarães. Desta vez não fez melhor e, apesar dos dois golos de Cubillas, 0-1 aos13minutos e 1-2, aos 82, não foi capaz de segurar a vitória. Manteve o 5º lugar, a 7 pontos do Boavista.
04/01/1976 O FC porto perde com o Benfica, nas Antas, por 3-2. Cai para o 6º posto da classificação, a nove pontos do 1º.
11/01/1976 16ª Jornada Estádio 25 de Abril Tomar (3 golos)
U. Tomar 0-5 FC Porto
Sobre este jogo eis um pérola:
U. TOMAR Quim Pereira; Kiki , Calado , Faustino, «cap» e Zeca ; Pavão (57m Caetano ), Barrinha, Florival e José Luís (72m Alcino ); Camolas e Bolota
PORTO Rui; Teixeira, Rolando (80m Rodolfo), Simões e Gabriel; Octávio, Cubillas, «cap» e Seninho; Oliveira, Gomes e Dinis (80m Ademir)
0-1 Oliveira 11m
0-2 Seninho 57m
0-3 Cubillas 67m
0-4 Cubillas 72m
0-5 Cubillas 89m
«Suplentes Silva Morais, Carvalho, Cardoso, Alcino e Caetano.
Suplentes - Tibi, Alhinho, Rodolfo, Ailton e Ademir.
Substituições (quatro, todas na segunda parte): no União de Tomar, aos doze minutos, imediatamente após o segundo golo portista, Pavão por Caetano, e, aos vinte e sete minutos, imediatamente após o quarto golo portista, José Luís por Alcino; no F. C. Porto, aos trinta e cinco minutos, de uma assentada, Rolando por Rodolfo e Dinis por Ademir.
Ao intervalo: 0-1.
Aos onze minutos. Dinis, pela esquerda, flectiu para dentro do terreno, entregou a Seninho, à entrada da grande-área, este tocou ligeiramente para a sua direita e Oliveira, na zona frontal à baliza, chutou, rasteiro, a um canto, mas muito frouxo, anichando-se, no entanto, a bola nas redes porque o guarda-redes Quim Pereira se lançou muitíssimo mal, consentindo um autêntico «frango».
Na segunda parte: 0-4.
0-2, aos 12 minutos. Perto da grande-área portista, belo desarme de Octávio e imediata saída para o contra-ataque do mesmo Octávio, que sprintou, conduzindo a bola, uns bons 30-40 metros, até entregar, no flanco direito, a Oliveira, o qual, por seu turno, fez uma bela simulação, derrotando Zeca, e arrancou para, perto da linha de cabeceira, muito lúcido, levantar a cabeça e tirar um centro verdadeiramente «a régua e esquadro», indo a bola direitinha à cabeça de Seninho, colocado próximo do poste do lado contrário, que a atirou (muito bem, aliás, de cima para baixo) para dentro da baliza, quase sem precisar de tirar os pés do chão. Um belo lance do ataque portista! Mas onde estavam os defesas e o guarda-redes de Tomar, para Seninho poder cabecear tão à vontade e tão próximo da baliza?
0-3, aos 22 minutos, por Cubillas, num remate à meia-volta, perto da grande área, na zona central, tabelando a bola ligeiramente em Faustino, mas não sofrendo a sua trajectória suficiente desvio para justificar que Quim Pereira (sem reflexos, esse o seu problema) consentisse, tão infantilmente, o golo, passando-lhe a bola por debaixo do corpo, lentamente, pois o pontapé de Cubillas até fora frouxo.
0-4, aos 27 minutos. Preciosa jogada individual de Cubillas pela zona frontal à baliza, onde, driblando numa nesga de terreno, «furou» entre Calado e Faustino, sendo derrubado, aí a uns dois palmos do risco da grande-área. O «livre» foi marcado pelo próprio Cubillas, com um pontapé rasteiro, muitíssimo bem colocado a um canto, exactamente o do lado contrário àquele onde se encontrava o guarda-redes e, por isso, para além do talento de Cubillas, das duas uma, ou o guarda-redes ou a barreira estavam mal colocados.
0-5, aos 44 minutos. O terceiro golo consecutivo de Cubillas, e, desta feita, um golo simplesmente magistral. Cubillas conduzia a bola, pela zona central, a meio do meio-campo de Tomar, e, de súbito, de surpresa, sem, nem ao de leve, denunciar o que ia fazer, arrancou um «tiro» simplesmente fabuloso, rasteiro, seco, muito desviado, com milimétrica precisão, anichando o esférico nas redes, mesmo, mesmo, a raspar um poste sem que o guarda-redes tivesse tempo para, sequer, pestanejar. Mas terá sido o golo em que Quim Pereira teve menos culpas, pois pareceu-nos que teria a visão tapada pelos seus de[f]esas, e, sobretudo, o pontapé de Cubillas foi verdadeiramente sensacional!
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O F. C. Porto «cilindrou» o Tomar, depois de ter passeado em Tomar. Os golos foram cinco, poderiam ter sido seis, sete ou oito
O «passeio» portista foi todo um alarde de categoria de um bom número dos seus jogadores. E, ontem, as capacidades individuais de um Octávio, de um Cubillas, de um Dinis, de um Seninho, de um Oliveira (e não só estes
) interligaram-se para uma excelente exibição.
A exibição e o resultado, ontem
As capacidades individuais são potenciais, não episódicas toda a gente sabe, desde o início do campeonato que o F. C. Porto tem um dos dois melhores (senão mesmo o melhor, em quantidade de qualidade) «plantéis» do País
Só que uma e outra coisa, individualidades e equipa não têm andado ligadas. Ou, por outra, ligam-se aqui, desligam-se ali. E até têm sido mais as vezes em que se têm desligado
Não é esta a primeira vez que o escrevemos (e não «descobrimos a pólvora»): reside nisto o estranho problema do F. C. Porto, no incompreensível desfasamento entre os que os seus jogadores valem e o que a equipa produz. Daí esse autêntico fenómeno, esse «caso» deste Nacional, que tem sido a espantosa regularidade da irregularidade das exibições e resultados deste F. C. Porto que, à partida para este campeonato, foi, como nunca, candidato ao título.
Ontem, uma vez mais se viu que belos jogadores o F. C. Porto tem! E, no decorrer da prova, aqui e ali, tem-se visto como, às vezes, eles conseguem formar uma bela equipa! Às vezes
Poucas vezes
Ontem foi vez «sim» e
tão categoricamente «sim» que até faz uma confusão dos diabos (para não dizer que até chega a ser chocante!) ver este F. C. Porto completamente arrumado na corrida para o título, a nada menos de oito pontos do «comandante»! E a sete do segundo classificado
E a seis do terceiro
E até a quatro do quarto
Quatro contra três no meio-campo, mas foram sempre três contra ninguém
Não terá tido o F. C. Porto a sua tarefa facilitada, ontem, em Tomar? Há que dizer que sim. Não tanto por alguns dos seus golos terem sido terrivelmente consentidos (mas os portistas criaram ocasiões para marcar quase outros tantos), mas sobretudo porque dificilmente o F. C. Porto voltará a enfrentar um adversário tão «macio». No entanto, a verdade é que, tacticamente, o «xadrez» de Tomar até estava, em teoria, bem montado para tapar o caminho a Cubillas & Companhia.
Só que, na prática, o «4-4-2» tomarense (povoando o meio-campo, para aí, procurar emperrar a manobra portista, sobretudo no que toca aos estrategas Cubillas e Octávio) nunca funcionou e revelou-se mesmo um «zero» tão grande que foi exactamente o «miolo» o ponto mais forte do F. C. Porto que, nessa zona do terreno, manobrou sempre como muito bem lhe deu na gana. «No papel», Barrinha marcava Cubillas, Pavão enfrentava Seninho e José Luís «chateava» Octávio ficando ainda o Tomar com uma quarta «pedra» (Florival) livre no «miolo», para acorrer às dobras dos companheiros batidos.
Mas o que se viu logo nos primeiros minutos, foi que Pavão nem uma só vez conseguiu segurar Seninho quando este, velocíssimo, «entrava» no seu ataque. E Seninho teve um golo nos pés logo nos primeiros minutos (rapidíssimo, em «tabela» com Gomes, entrou na grande-área e chutou ao lado), esteve no lance do primeiro golo, etc., etc., sempre com Pavão «nas covas» quando ele arrancava do meio-campo para o ataque (e onde estava Pavão quando Seninho surgiu na grande-área para fazer o segundo golo?). Mas não era só Pavão e não era só Seninho
Também Barrinha e José Luís nunca encontravam Cubillas e Octávio (respectivamente) até Cubillas e Octávio, num bulício constante, sempre a mudarem de sítio e com o talento que têm, não eram encontráveis, fazendo «gato sapato» dos seus opositores. E o «livre» Florival ia sempre à «dobra» errada, quando se balanceava para um lado, logo a bola era enviada para o flanco oposto
Tentou o «meio-campo» tomarense a marcação «homem-a-homem», esboçou, depois, a marcação «à zona», mas nunca atinou com a forma de travar o super-inspirado «miolo» portista
Que embalava para o ataque, que servia o seu ataque verdadeiramente em quantidades industriais (e, aí, no ataque, Oliveira, Gomes e Dinis, jogando bonito, pecaram, no entanto, sobretudo na primeira parte, por uma displicência na hora de fazer ou não o golo
), mas, sobretudo, a grande virtude do «miolo» do F. C. Porto foi a de, chegando sempre primeiro à bola, raramente perdendo a sua posse e fazendo-a circular pelo campo fora, conseguir isso mesmo: ter sempre a bola, com a obrigatória consequência de o adversário nunca a ter.
E foi assim (em linhas gerais) que, com uma facilidade às vezes incrível (fruto, por um lado, do talento próprio, e, por outro, das lacunas dos antagonistas) que o F. C. Porto passeou em Tomar, até com alardes de classe que terão deixado o público nabantino a fazer mil vezes a pergunta de como é possível que este F. C. Porto que tão excelentes jogadores possui e que é capaz de tão bem assim jogar
ser um modesto quinto classificado com a meta do título já completamente fora do horizonte.
Pergunta sem resposta
Ou, por outra, resposta há-de haver para uma equipa com as potencialidades deste F. C. Porto andar a fazer um campeonato mais ou menos no tipo de «engatar» ou não «engatar» eis a questão
No tocante a actuações individuais, as notas que atribuímos já dizem que no terceto do meio-campo, Octávio-Cubillas-Seninho, estiveram os «donos» do jogo. Um Seninho muito veloz e codicioso (e «pau para toda a obra», jornada após jornada, ora joga no «meio-campo», ora é «ponta-de-lança», ora é extremo, ora volta ao «meio-campo»), um Octávio
«à Octávio», um Cubillas que, para além do que jogou no «miolo» (aí, no entanto, não tão brilhante como Octávio), fez «só» três golos, o último dos quais verdadeiramente genial!
Todos os restantes com nota «2», embora talvez Gabriel e Gomes só justificassem nota «um e meio».
Tomar não será por ontem
Pouco a dizer da equipa do União de Tomar. Claro que este era, normalmente, um jogo «de perder». Logo, não será por ontem (mesmo com «goleada» e tudo) que o «gato irá às filhoses», no tocante à luta nos últimos lugares da tabela. O futuro nabantino na I Divisão será decidido nos jogos do «seu campeonato». Já vimos a equipa num desses desafios e jogou incomparavelmente melhor e, até, com outra codícia. Ontem, o F. C. Porto até estava em tarde «sim»! E adiantou-se cedo no marcador
Individualmente, no Tomar, Zeca foi, de longe, o melhor, mesmo não sendo, como se sabe, um defesa-esquerdo de raiz e tendo Oliveira pela frente. O guarda-redes e o todo do sector defensivo consentiram golos incríveis e do meio-campo já ficou dito o suficiente para se ver que falhou totalmente na tarefa especial que pela táctica adoptada, lhe estava destinada. Nem defendeu, nem atacou. E Camolas e Bolota, no ataque, ficaram sozinhos.
Excelente arbitragem de Nemésio Castro, até não «ligando» a dois ou três sinais de fora-de-jogo que o fiscal-de-linha do lado da bancada (erradamente) lhe fez.»
(A Bola, 12.01.1976 Crónica de Santos Neves)