Porque em ciência nunca se pode afirmar algo com 100% de certezas. Em ciência trabalha-se com probabilidades, umas mais elevadas, mais baixas, maior confiança ou menor numa conclusão, mas nunca certeza absoluta. E o problema no jornalismo em relação à ciência é que as notícias dos diferentes estudos são veiculadas como certezas e baseados em pressupostos imutáveis. Nada mais errado.
Nesse vídeo, a pessoa afirma isso com base nas cargas virais dos vacinados vs não vacinados. Na minha opinião, e tendo em conta o fator vacina, não se deve extrapolar dessa forma a relação carga viral/transmissão. Porque são vários fatores a ter em conta.
- Por um lado temos a vacinação e o efeito ao nível da transmissão, mesmo considerando a variante Delta.
- Por outro, tendo em conta que a vacina influencia a sintomatologia, é de pensar que, com menos sintomas, menos transmissão à partida irá haver.
- Ainda podemos incluir aqui também o fator do tempo de contágio, uma vez que os vacinados podem apresentar cargas virais elevadas, mas o tempo de contágio ser relativamente mais curto, devido, lá está, ao efeito da vacina, e isso altera (e significativamente) as dinâmicas da transmissão do vírus.
- Finalmente, estes estudos das cargas virais são efeitos apenas tendo em conta os resultados de PCR dos testes Covid. E estas conclusões que aí aparecem nas notícias são baseadas nestes resultados. Desafio-vos a irem ler as notícias originais (jornais estrangeiros), ou mesmo os estudos, e depois vejam se eles escrevem estas conclusões absolutas. Claro que não. Até porque para se estudar a transmissibilidade, o ideal seria começar com uma série de familias, e perceber se existe ou não transmissão entre os membros vacinados e não vacinados. Após isto, alargar o espetro à comunidade, pois só aí se poderia aferir a verdadeira dinâmica de transmissão (no entanto, este é um desenho de estudo complicado de se conseguir fazer).
Ou seja, sem todos estes resultados, não se pode afirmar assim com tanta confiança essa conclusão. Seria o mesmo que dizer que o City vai ganhar a Champions porque passou a fase de grupos com o mesmo número de pontos que o Liverpool ou o Chelsea. Não sabemos como se irá comportar o City quando defrontar equipas mais fortes, ou pode mesmo chegar à final e não ganhar (exemplo algo básico, mas espero que se perceba).
Com isto não estou a afirmar que não é possível os vacinados transmitirem ao mesmo nível que os não vacinados. Digo só que não se pode afirmar com certeza, quando ainda não temos suporte suficiente e robusto.