Excelente texto e perante tudo o que se está a passar neste momento André Villas-Boas é para muitos a esperança de um FC Porto mais saudável em termos democráticos,financeiros e desportivos,resta aguardar que realmente se candidate e apresente tanto a sua equipa como o seu projecto.Sinto a reação violenta dos Super Dragões à provável candidatura de AVB com vergonha, repúdio, mas também esperança.
Os princípios que devem orientar uma relação entre a direção e a claque, na perspetiva dos superiores interesses do clube, foram totalmente pervertidos.
A claque, enquanto agente mais visível de mobilização e manifestação dos adeptos, tem um papel crítico numa organização desportiva: contrapeso.
É a fação que, de forma mais explícita, tem o poder de apoiar, exaltar e celebrar — mas também de criticar, escrutinar e insurgir-se publicamente.
Um poder tremendo, que pode e deve funcionar como ferramenta de soft power, dentro e fora de portas.
Desde logo, toda a identidade moderna do Futebol Clube do Porto está ancorada na austeridade do Tribunal das Antas.
A feroz contestação aplicada sobre a SAD na era Octávio Machado, pontuada por críticas mordazes e por violência — que não subscrevo — foi um fator relevante para alavancar o sucesso da era Mourinho.
A direção não soube conviver com esse contrapoder a longo prazo.
Não teve interesse em preservar um ecossistema de responsabilização constante sobre o seu trabalho. Para ser justo, também não quis incorrer nos custos de refrear a violência ocasional.
Após 2004, havia dinheiro suficiente para a solução expediente. Comprar paz. E mais do que paz.
20 anos depois, a solução expediente deu gradualmente lugar ao absoluto despotismo.
Como qualquer governo totalitário, movido pelo instinto de autopreservação, o objetivo principal é controlar as forças armadas e reprimir a oposição.
O sinal mais evidente deste status quo é a estratégia de comunicação adotada, focada em propaganda interna em detrimento de objetivos externos.
O que me conduz de volta a AVB.
A campanha de intimidação e violência dos Super Dragões tem obviamente a ver com dinheiro, não com lealdade cega a um indivíduo.
O facto de os Super Dragões estarem firmemente comprometidos com Pinto da Costa — e não, como bem aqui observaram, a jogar em dois tabuleiros — diz-me que não houve da parte de AVB abertura para que o sistema continue sob a sua liderança. O que é muito encorajador.
Mas o precedente está criado. Os mecanismos existem. A oportunidade vai continuar a colocar-se, especialmente se/quando AVB for eleito.
É extremamente tentador para alguém nessa posição, em particular no contexto específico do futebol português, ceder um pouco nos seus princípios para ganhar margem de manobra na sua atuação.
Dar de barato um certo nível de nebulosidade e considerá-lo cost of doing business.
Ceder só um pouco. E a insídia cresce por aí.
Cabe-nos ser muito mais vigilantes para garantir que esta podridão não se volta a instalar.
Mas, para já, o AVB tem a minha enorme admiração pela coragem de enfrentá-la.
Depois quanto aos Super Dragões é fundamental pouco a pouco ir despertando consciências acerca de quem são Fernando Madureira e companhia, tal como no intuito de promover uma mudança na liderança dos mesmos, pois não acredito que todos se revejam num bando de criminosos.
Finalmente é premente assegurar que as eleições sejam limpas e livres para que tanto sócios como adeptos tenham os seus corações mais sossegados e felizes.