A 1ª morte que mais me impressionou, e que me continua a marcar até que morra, foi a do meu pai tinha eu 5 anos e ele 44 anos isto em 1958. Decidiu ser operado de manhã a uma "coisa simples" porque de tarde tinha compromissos importantes. Tinha os cornetos do nariz apertados e precisava de uma simples operação para os desobstruir. Foi para um consultório médico de um fdp de um otorrino para ser operado contra os conselhos do médico de família que lhe aconselhou o hospital, sem fazer análises, sem saber se era alérgico a alguma coisa. A minha mãe acompanhou-o e viu-o morrer, mal levou uma injeção no nariz creio para anestesiar começou a sentir-se mal e tombou na cadeira ou mesa operatória. A besta deu-lhe uns murros para o reanimar mas depois disse que nada havia a fazer. O corportativismo médico que existiu e ainda existe criticou o dito cujo dizendo que no Hospital nunca teria acontecido aquilo mas não em público ou com queixas à ordem dos Médicos para investigar. Foi enterrado SEM AUTÓPSIA porque arranjaram um outro médico que passou uma certidão de óbito dizendo que tinha falecido de morte natural. Tudo isto que estou a contar sei pela minha falecida mãe então com 30 anos. A única coisa que recordo dele são os bombeiros a entrarem pela minha casa dentro pela garagem com o corpo e eu escondido atrás de uma árvore a observar, mais tarde recordo que o corpo dele estava no quarto e os meus gatos miavam de tristeza ao lado dele. Todas as memórias passadas com ele bloquearam na minha mente, não recordo um abraço, umas palavras, nada - apenas tenho umas centenas de fotografias com ele. Durante esse tempo, com 5 anos até aos 14 anos creio que não tive a compreensão da minha tragédia mas a partir dessa idade comecei a fazer perguntas à minha mãe e mais tarde a investigar o processo e a revolta ainda não fugiu de mim até hoje. Nunca se soube de que morreu, se houve erro clinico ou não, pelas investigações que fiz mais tarde vim a saber que naquele consultório e com aquele médico morreram da mesma forma diversas pessoas inclusivé crianças.
A 2ª morte tinha eu 20 anos e ví da bancada Pavão cair após um passe e morrer. ainda hoje recordo exatamente o local em que caíu para sempre. Vieira Nunes, cunhado de Artiur Jorge, que o substituíu fez a melhor exibição de uma vida com uma raiva e dor imensa no tempo que jogou. Vim embora a pé das Antas para casa e nas conversas com pessoas que nos acompanhavam a apreensão e pessimismo era grande. Ao chegar a casa soube o triste desenlace. Não recordo mais nada a partir daí, cenas traumáticas ficam-me na mente mas o seguinte bloqueia-me no cérebro não sei a razão.
A 3ª morte foi a de Rui Filipe. Ia a caminho da R. Júlio Dinis não sei se para a Petúlia ou Passatempo e um amigo meu, já falecido, disse-me; Rui. O Rui Filpe morreu de acidente. Retrocedí e já não fui para onde ia e voltei a casa. O que pensei já não recordo, bloqueou-me também.
O 4º caso não foi morte mas marcou-me. Estava eu e mais 4 camaradas num Hospital de Tel-Aviv onde fazíamos semanalmente exames regulares. O nosso colega mais novo com 30 anos, eu teria na altura 41 anos, após uma graçola que disse caíu no chão. Foi prontamente assistido, para tentar resumir, e teve um problema semelhante ao Quintana - nem 5 m esteve sem ser assistido, esteve em coma induzido dois dias e recuperou plenamente. Nunca mais trabalhou naquilo que fazíamos mas teve uma vida regular e ainda ontem lhe telefonei a contar-lhe de Quintana. Já não falava com ele há cerca de 20 anos mas arranjei o contacto de forma fácil.
Esta semana foi o que sabemos. Já ví muita coisa, já ví gente cair para o lado de diversas formas trágicas mas o caso de Quintana marcou-me de forma profunda. No Domingo passado, ou Sábado?, ví na tv o jogo Àguas Santas-FCP e o jogo teria passado da cabeça mas acontecendo aquilo recordo totalmente que o último golo foi dele no último segundo de jogo. Como recordei ontem, olhando para a minha mão direita uma lesão que tive ao ver o Porto-Benfica em Andebol. Aquando de uma grande defesa dele dei um soco na mesa e feri-me na parte do dedo médio . Olhei e ainda está lá a marca - que nunca desapareça essa marca anseio.
A vida para uns é feita de tragédia mas recordando a conversa com o tal meu ex.colega ele não se recorda de nada, nem de ter caído nem de ter estado em coma, quando acordou perguntou porque estava ali o que tinha acontecido. Quintana teve uma morte "santa" - a família, os amigos os adeptos a população em geral é que sofreram imenso e sofrem. Com o tempo vamos habituar-nos porque a vida tem que continuar mas memória dele tem que ser perpetuada.