Isso é para rir.. Terias de ser um talento generacional e mesmo assim tens de conhecer as pessoas certas. O melhor exemplo é olhar para o "mercado de transferências" de executivos na Europa.. Como dizia o meu professor - "o dia mais importante para os acionistas da Sonae é a ceia de Natal".
Vocês querem dizer liberdade económica não mobilidade social.
Mobilidade social não é executada numa geração - se nasceste classe operária, mesmo que te tornes milionário, serás sempre da classe operária. Os teus filhos já nem tanto.
Em termos de liberdade económica, não há nada como os US of A - tudo o resto é treta.
Não sei muito bem o que te fez rir, basicamente vocês estão a falar de coisas diferentes.
"Terias de ser um talento generacional e mesmo assim tens de conhecer as pessoas certas"
Sim, opá claro que redes de contactos têm impacto. Mas essa visão ignora a realidade de muitas pessoas que ascendem socialmente por mérito, esforço e alguma sorte — mesmo sem nascerem com as "ligações certas". A exceção não faz a regra, mas há dados empíricos que mostram que educação, políticas públicas bem desenhadas e ambientes económicos saudáveis aumentam significativamente a mobilidade social. Reduzir o sucesso à combinação de genialidade e contactos é derrotista e pouco realista. Ainda por cima em comparação com os USA e a sua cultura de lobbying.
"O melhor exemplo é olhar para o "mercado de transferências" de executivos na Europa.."
O "mercado de executivos" é notoriamente menos dinâmico e mais elitista do que se deseja, sim. Mas isso está a mudar com maior escrutínio de governance, diversidade (esse tema tabu) e meritocracia, e varia bastante entre países. A comparação com futebolistas ou CEOs de grandes empresas também é enganadora: a maior parte da mobilidade social não se dá nesses níveis, mas no acesso a bons empregos, salários dignos, propriedade de casa própria, automóvel, colégios para os filhos, estabilidade económica, etc.
"Mobilidade social não é executada numa geração"
Este ponto está melhor sustentado, mas ainda assim é discutível. A mobilidade social
pode ocorrer numa geração, especialmente em contextos com forte investimento em educação pública e sistemas progressivos. Milhares de pessoas em Portugal e noutros países europeus passaram da pobreza à classe média numa geração. Em Portugal, não há muito tempo, era possível passar do analfabetismo e da agricultura de subsistência para professor universitário ou juiz no espaço de uma geração. Dizer que “mesmo que te tornes milionário, serás sempre da classe operária” é mais uma observação sociológica sobre identidade de classe do que uma realidade económica. E mesmo nesse sentido, há muitos que efetivamente reconfiguram a sua classe social na forma como vivem, consomem e se relacionam. Agora, claro não é muito coerente estar contra sistemas progressivos de integração de minorias, por exemplo, e ao mesmo tempo reclamar que não existe mobilidade social.
"Em termos de liberdade económica, não há nada como os US of A -"
Acho que aqui é onde vocês divergem mesmo, porque estão a falar de temas diferentes. Os USA têm, de facto, muita liberdade económica — baixa regulamentação, maior dinamismo empresarial, maior facilidade para abrir negócios e arriscar — mas liberdade económica não é sinónimo de mobilidade social. Pelo contrário,
os EUA têm hoje uma das piores mobilidades sociais intergeracionais do mundo desenvolvido. Já citaram aí estudos que mostram que em vários países da Europa é mais provável que uma criança pobre venha a ter uma vida melhor do que nos USA. Portanto, mais liberdade económica é diferente de mais justiça social ou oportunidades reais. Liberdade económica sem igualdade de oportunidades dá mais desigualdade.