"Os truques da imprensa portuguesa
Esta tarde, toda a imprensa noticiou a queda de um avião de combate ao incêndio de Pedrógão Grande. O take da Lusa falava numa fonte e não especificava a nacionalidade do avião.
- Às 17:06, a TVI foi a primeira a dar a notícia. Seguiram-se a SIC e, por fim, a RTP. Todos os jornais, sem excepção, publicaram no mesmo período. Mais tarde sucederam-se outras notícias. Uns avançaram que se tratava de um avião espanhol, algo que o Ministério da Defesa espanhol prontamente desmentiu. Outros disseram que se tratava de um avião inglês emprestado a Portugal. O CM garantiu mesmo que se tratava de um piloto inglês que, infelizmente, tinha morrido. A Antena 1 tinha até um jornalista próximo, que fez o relato de explosões e, alegadamente, de testemunhas.
- Perante as notícias, o briefing das 18:00 foi adiado. As operações estavam concentradas na queda de um avião, anunciado com toda a certeza pela imprensa.
- Às 18:15, o Secretário de Estado da Administração Interna, primeira fonte oficial a reagir ao assunto, disse que não tinha nenhuma informação que confirmasse a queda do avião.
Toda a imprensa manteve, ainda assim, a notícia.
- Às 19:00, no briefing, o comandante operacional disse peremptoriamente que não caiu nenhum avião que operava no incêndio. Acrescentou ainda que, após as notícias da comunicação social, deu-se início a uma operação de busca e salvamento que mobilizou meios aéreos e uma equipa de emergência médica. Essa operação centrou-se, segundo o comandante, na área noticiada pela imprensa. A estas declarações, os jornalistas reagiram com incredulidade e alguma revolta. A TVI exigiu mais "objectividade." A SIC disse que a situação era "extraordinária."
A confiar no que foi indicado pelo comandante da Proteção Civil, hoje, durante uma das maiores tragédia que ocorreram em Portugal nos últimos anos, foi organizada uma operação para responder a notícias falsas veiculadas pela imprensa portuguesa, que alimentaram uma tarde noticiosa agitada.
Os jornalistas defendem-se alegando que tiveram fontes da própria ANPC (sem, porém, as identificar) e que o "silêncio" levou a que as especulações ganhassem força.
Consideramos este caso muito grave por revelar a fragilidade com que, muitas vezes, a informação nos chega e a vulnerabilidade com que a imprensa tradicional se expõe a notícias falsas. É ainda mais grave este caso se tivermos em conta que podem ter sido desperdiçados recursos apenas para responder a uma histeria mediática. Sabemos que o caso morrerá, porque uma reação corporativa protegerá mutuamente todos os órgãos. Mas perguntas têm de ser feitas e explicações têm de ser dadas."
Cedo demais?...