É então um juiz que tem um determinado perfil e interpretação da lei, sendo conhecido pela consistência das suas posições... mas isso afasta-se imenso do sentimento de que o juiz é ele próprio corrupto, ou está feito com os arguidos, ou que exerceu as suas funções com dolo...
O jornalismo deveria explicar tudo isto. Por que motivo é possível que um juiz tenha uma determinada visão da aplicação da lei e outro outra significativamente diferente, que interpretações estão subjacentes a este ou aquele posicionamento e decisão, se essas decisão são aceitáveis, formalmente correctas, etc. etc. etc.; para que não fiquemos na incerteza das declarações de comentador x ou y. Penso, por exemplo, na afirmação de Gomes Ferreira de que o juiz "se enganou ou nos quis enganar" quanto à questão da fraude fiscal. Qualquer uma das opções parece-me pouco credível, embora não impossível. Importa sim analisar aquele monstro de documento e descobrir o que motivou essa e muitas outras decisões.
Esta indignação bruta e centrada na figura do juiz não nos servirá de muito enquanto sociedade. Importa conhecer a Justiça, as leis, o funcionamento do MP, as relações justiça-política-economia... , saber se faz sentido ou é preciso alterar o ordenamento jurídico, a organização dos tribunais, dos processos judiciais, se é necessário diferentes instrumentos, recursos, ... Porque a Justiça portuguesa, de facto, deixa muito a desejar. Todo este processo Marquês deixa muito a desejar. Pessoalmente não me sentiria descansado se por alguma infelicidade tivesse de ter contacto directo com o sistema.