A resposta é indiferente.
Saliento este similitude não pelo que todos estarão a pensar (critica por uma K7), mas porque acho que um erro estrutural do AVB é a sobrevalorização pela forma, pela aparência, pela sedução.
Numa organização, seja clube de futebol, seja num restaurante, seja um profissional liberal, ou empresas posso ser simplista e elencar 2 grandes competências.
A capacidade que tens de vender, liderar, motivar, convencer, entusiasmar e outros verbos do género.
Isso é muito importante (o atendimento ao público, a capacidade de angariar clientes, vender uma ideia ou uma competência, motivar equipas), mas na minha opinião não é mais do que a capacidade de executar uma tarefa. Ser competente a fazer, saber fazer, executar.
Este último caso (executar uma tarefa, prestar o serviço, entregar uma encomenda, servir um prato) é o mais importante.
Uma empresa não cresce sem ter quem saiba vender um serviço, mas se o pós-venda é sofrivel eu não irei almoçar ao Restaurante X só porque os empregados de mesa são uns porreiraços.
Dito isto: O AVB é um homem de sucesso. Construiu-o, na minha opinião, na base da "venda". Desde o Robson quando o puto consegue vender uma imagem e cresce a partir daí, desde aquela fabulosa época como treinador em que ele vende um sonho, um projeto, uma ilusão a toda a nação portista (incluindo jogadores) e chegando até à Presidência em que a sua capacidade de seduzir, galvanizar os sócios é de tal forma esmagadora que massacra eleitoralmente o homem mais importante da história do clube.
É perfeitamente normal que quem constroi uma vida profissional de sucesso suportado num tipo de pilar se convença que esse pilar é mais importante do que efetivamente é.
Isso está expresso (consciente ou inconscientemente) quando é convocado a dizer porque escolheu um treinador.
"Vejam como ele cativa, como ele seduz, como ele vende, como entusiasma" São tudo características de venda.
AVB chegou aonde chegou nesta capacidade infinita, ininterrupta de seduzir.
Infelizmente para ele há 50 e tal jogos por ano. É como um restaurante. Tens que ter um bom cozinheiro porque todos os dias há almoço e jantar.
As viúvas como eu continuarão a rezingar minoritariamente durante um tempo, porque as Robyzetes serão a maioria e continuarão a babar-se pela 54ª promessa do agora é que é.
O problema não está no "agora é que é". Um clube de futebol como o Porto obriga a demagogia e algum discurso irracional e de venda, porque o negócio (como dizia um forista em resposta a um post meu) vive muito da emoção, da crença.
O meu problema é que começo a pensar que o "agora é que é" serve mais para passar o dia de hoje a salvo (da contestação, da critica, whatever) do que incorpora a real necessidade de ter um cozinheiro bom.
Se ele continuar demasiado focado na "venda", na "aparência", na "percepção" vai manter viva a paixão de milhares de Robyzetes durante mais algum tempo, mas não vai gerir bem o Porto.
Vai continuar a deixar cair treinadores, directores desportivos, a renovar, refundar, reorganizar. Não vai enfrentar a turba (seja de sócios, de comentadores) e mostrar que pode "executar mal" (como todos os presidentes), mas que a dado momento vai perceber que isto não vai lá com "vendas infinitas e sedução permanente"-
Hoje até era uma boa oportunidade para isso.
A escolha do Farioli parece ser uma linha de continuidade com o perfil Anselmi. Jogo de posse, jovens lobos ambiciosos, construção desde a defesa, ser protagonista.
Sendo mauzinho diria que está aí mais uma sobrevalorização de estilo: importante jogar bonito.
Sendo justo diria que ele tinha uma oportunidade para dizer que sempre quis um treinador que quer jogar duma determinada forma, que é esse o padrão que julga ser melhor para o futuro do Porto e que por isso resolveu ir por aqui ao contrário do que a maioria do portismo ou dos comentadores queriam (um tuga mais rato e experiente).
Neste momento, sendo eu um critico do estilo em que o AVB vai debitando palavras sobretudo em função do impacto imediato das mesmas no capitulo da sedução (nem neste FDS conseguiu desligar o modo sedutor mesmo num contexto que o desaconselharia vivamente), o que espero dele é ver mais execução (boa ou má) e menos venda.
Menos ações para a bancada/plateia (descidas ao balneário, exigências a treinadores, tudo para o Dragão às 2 da manhã, murros na mesa, vergonhas, Luchos para 4.º ou 5.º adjunto, Henrique e Tiago em vez de Andoni ou Jorge) e maior foco no que impedirá as Robyzetes de enviuvarem a médio prazo.
Execução. Por muito que ele seduza, prometa, cative vai levar sempre com resultados.
Agora tem 2 meses de relativa paz. Que aproveite para afinar prioridades.