Como qualquer pessoa que seja séria constata..mas continua a dar muito jeito a (tentativa) de meter tudo no mesmo saco.
Compreendo até que se critique a prestação de Mortágua, que optou por bater de frente com Ventura em vários momentos. ... porém, este esboroar do combate político acontece sempre tendo Ventura como constante, mudando apenas o seu interlocutor. Não respeita qualquer regra, fala invariavelmente por cima do opositor, transforma-se com frequência em entrevistador, substitui-se ao moderador, mente copiosamente como nenhum outro político português, é deselegante, mal-educado, etc. etc. etc. Tornou-se disruptivo a ponto de subverter a normalidade do debate. A expectativa com que se inicia o confronto é outra, distinta da que incide sobre os frente a frente em que Ventura não participa. Não apenas. O mesmo se aplica ao comportamento da banca parlamentar do Chega e, de forma geral, à prática do líder e do partido. A ruptura que isto representa contamina os adversário, o contexto e dos próprios votantes.
Estamos na presença de um tumor maligno que corrompe elementos fundamentais da vida em sociedade: o reconhecimento e cumprimento de regras comuns; um certo nível de polidez e de respeito para com os outros, incluindo os adversários; um sentimento mínimo de pudor e de apego à realidade factual... O Chega é a rampa deslizante da democracia para o iliberalismo, autoritarismo, ... como se lhe quiser chamar, à imagem do que acontece actualmente noutros países. Pode-se argumentar que há perigos políticos nos ideais do Partido Comunista ou nas propostas económicas da Iniciativa Liberal, populismos em medidas deste ou daquele partido... mas nenhum perigo de natureza afim com aquele que o Chega traz. Corrosão acelerada das mentes e dos espíritos das pessoas.
... expressão de problemas mais profundos; receptáculo de frustrações, tristezas e descontentamentos; quebra com um sistema que muitos consideram insatisfatório... tudo muito bem e tudo muito certo. Não deixa de ser um elemento lamentável na vida nacional. Há quem aprecie, quem goste, e, decerto, uma porção considerável dos eleitores confiará a Ventura o seu voto. Um perigoso charlatão que, há não muito, condenava o populismo e o poder policial. Um vazio ideológico que tanto pretendia banir a escola pública e o SNS como, poucas eleições depois, defende o papel determinante do estado. Uma pessoa sem qualquer respeito por regras e convenções de decência, líder de um grupelho de gente que lhe segue o gesto e tom, muitos a braços com a justiça, que se digladia espalhafatosamente pela lei e a ordem. Tristíssimo, por mais popular que possa ser.