É revelador que o Pina diga que a comissão não era do conhecimento geral precisamente porque as discussões que promovia seriam inócuas. Segundo essa lógica, apenas aquilo que é relevante ou consequente tende a ser conhecido, e tudo o que permanece fora do escrutínio público fá-lo porque não importa.
Isto é uma inversão completa do princípio da transparência.
Na prática, grande parte das decisões com impacto real não nasce em espaços amplamente conhecidos, mas em grupos restritos, comissões técnicas, reuniões preparatórias ou estruturas informais cujo trabalho só mais tarde, ou nunca, chega ao conhecimento público. O facto de algo não ser amplamente conhecido não prova a sua irrelevância; muitas vezes prova apenas que operou fora do foco público.
Se aceitássemos o argumento do Pina, teríamos de concluir que comissões parlamentares, grupos de trabalho ministeriais, negociações orçamentais preliminares ou conselhos de administração só seriam relevantes quando já fossem do conhecimento geral, o que é manifestamente absurdo. O conhecimento público é, em regra, uma consequência tardia da relevância, não a sua condição prévia.
Quando a preocupação declarada é abertura e transparência, usar a ausência de conhecimento público como prova de irrelevância não é apenas um erro lógico. É um argumento que serve para legitimar a opacidade. E é precisamente essa lógica que a transparência existe para contrariar.