Associar competitividade e ocupação de bancadas não é a ideia mais sensata. Em que medida o número de espectadores traduz a capacidade desportiva e financeira de uma equipa? Aliás... quanto vale a receita de bilheteira no total das receitas anuais dos clubes portugueses? A classificação do campeonato coincide com a média de assistências dos clubes? As equipas com menores médias e taxas de ocupação são as que têm piores gestões?... Quem deu mais competitividade à liga: Casa Pia ou Boavista? Arouca ou Farense? Uma coisa não tem necessariamente que ver com a outra, podendo haver correlações e causalidades. Mais adeptos nas bancadas não implica clubes com melhores administrações, melhores práticas de gestão, mais sustentabilidade, mais competitividade...
Por onde andam Académica, Marítimo, Beira-Mar, Setúbal, Leiria, Belenenses... todos eles com mais adeptos e maiores assistências que muitas das equipas actualmente na primeira divisão? Não se trata de um dado que deva ser central. Há equipas que dificilmente atrairão multidões, por inexistência de pessoas, como o Arouca ou o Moreirense. Não significa que não possam ser clubes bem geridos, competitivos e sustentáveis.
Por que motivo se dará relevância ao número de adeptos e não às práticas de gestão dos clubes?... É por elas que se alcança o sucesso ou se fracassa. Uma determinada equipa poderá ser extremamente competitiva à custa da sua própria viabilidade; e em prejuízo de clubes menos competitivos mas cumpridores. Não faltam casos.
Cortar a liga a metade não faz com que os clubes ganhem adeptos. Se a assistência aumentar, será de forma artificial. Dará menos trabalho que a implementação de políticas que atraiam pessoas aos estádios, sim... mas não seria mais sério ponderar estratégias de aumento das assistências? Não se mudará a cultura desportiva de um dia para o outro, sendo escusado imaginar que a generalidade das pessoas passará a torcer fervorosamente pelos clubes locais. Não é essa a realidade portuguesa. No entanto, será possível tornar os eventos futebolísticos mais atractivos. Veja-se o que fez o Leira: cortou no preço dos bilhetes e meteu milhares de pessoas no estádio. Poderá ser uma forma de chamar a atenção para o futebol, mais não seja que num momento inicial.
Qual é o poder de compra de um belga ou de um escocês?... E até que ponto será o campeonato português apelativo para os públicos estrangeiros (por mais que se faça)? Se a preocupação se prende com as receitas e a competitividade, porque não implementar primeiro a centralização dos direitos televisivos? Trata-se de uma rubrica mais relevante que a bilheteira. O campeonato português é o único, entre as ligas europeias de relevo, que se encontra nessa posição aberrante da negociação individual.
Mais receitas para os grandes, mais receitas para os pequenos, mais competitividade, mais espectadores nos estádios, mais audiências dentro e fora do país... talvez não seja possível tudo. Dificilmente no imediato. Com cada vez mais jogos e competições, que expectativas e posição haverá para o futebol nacional? Deverá almejar ao melhor possível, como não pode deixar de ser, sabendo de antemão que se encontra limitado pelas características do país e dos mercados internacionais.
Creio haver outras prioridades que não a redução do número de equipas. E mesmo que se considere a possibilidade, não se deverá dar excessiva importância ao número de adeptos nos estádios. Se se der, e mesmo não se dando, pense-se primeiro noutras solução que não a reformulação das competições.