Essa tentativa de validar a ideia do Anselmi com base em “perfil” e não no que se vê no campo é exatamente o problema. É confundir intenções com competência. E não é por se dizer “prefiro o perfil do Anselmi ao do Borges” que isso ganha força.
Depois falas da valorização do “jogo interior” do Anselmi — mas onde é que isso se vê?
O que vês são jogadores a encostar à linha dos centrais sem progressão, médios sem coragem ou capacidade para jogar entrelinhas, e extremos a receber quase sempre mal posicionados, e muitas vezes sem apoio interior nem combinações.
A suposta procura do jogo interior não passa de uma ilusão: a bola não entra com critério, não há ocupação coordenada dos corredores centrais.
Isto não é intencionalidade mal executada — isto é modelo mal treinado.
Os laterais “dão largura para esticar o adversário”?
Esticam, esticam… e não fazem nada. Porque esticar o adversário sem ameaça vertical, sem um extremo que fixe por dentro, e sem um médio que ataque o espaço entre lateral e central adversário — é esticar por esticar.
É manter a posse longe da baliza. É posse estéril.
A seguir, vens com a ideia da “saída a 3” como chave do futebol atual.
Mas isso já não é novidade, não é chave infalível, e não resolve rigorosamente nada se não tiver uma sequência pensada para o que vem a seguir.
O Porto sai a 3 e... pára. Não atrai, não salta linhas, não fixa o bloco.
É um falso controlo que só serve para fazer passar o tempo até se perder a bola em zonas comprometidas.
Depois tentas explicar o sistema como sendo mais “ancorado no eixo”, contrastando com o 4-4-2 do Sérgio.
Ora, isso até podia funcionar se houvesse qualquer tipo de articulação entre setores — mas não há.
A equipa continua a correr, continua desequilibrada na perda, continua exposta na transição, e continua exposta de forma ridícula mesmo quando defende com mais unidades.
As tais “corridas do bloco” do 4-4-2 existiam porque a equipa pressionava e recuperava alto.
Agora, correm na mesma — só que a reagir tarde, sempre em desvantagem e com menos agressividade.
Falas do “Mora desgastar-se menos” porque parte de zonas mais avançadas. Mas o problema não é a zona onde parte.
É que não tem apoio, não tem quem o sirva — e muitas vezes, nem sequer tem espaço - quanto mais brilhar menos espaço terá.
E com este jogo morno, sem profundidade nem combinação, não é o desgaste físico que está em causa — é o desgaste mental de andar o jogo todo a correr para nada.
E esse argumento das “linhas juntas no centro” para impedir transições também cai sozinho.
Porque o problema do Porto atual não é onde está a perder a bola. É como está a perder a bola.
Perde mal, perde previsível, perde com jogadores mal posicionados, sem reação à perda e sem coberturas.
Não há pressão coordenada. Não há encurtamento. Não há temporização.
E quando se perde assim — no 4-4-2, 4-3-3 ou 3-4-3 — qualquer modelo colapsa.
E depois há a cereja no topo: “o Anselmi não pode mudar, senão deixa de ser quem é”.
Mas o treinador do FC Porto não está aqui para ser fiel a si próprio. Está aqui para ser competente.
Quem não consegue adaptar-se ao grupo, ao momento e aos jogos não está a mostrar convicção — está a mostrar limitação.
Ser “carne nem peixe” como o Vítor Bruno foi o resultado de não ter uma ideia clara nem pulso.
Mas ser “carne teimosa” e não querer mudar quando tudo falha… é tão ou mais grave.
E sabes qual é a diferença entre o “perfil interessante” e o treinador que serve?
É que o perfil interessante vive no PowerPoint. O treinador que serve vive no relvado.
E o que se vê no relvado do FC Porto é uma equipa desconectada, mal preparada e mal liderada.
O futebol por mais que se dê voltas ainda vê-se no jogo. E aí, Anselmi está a falhar em toda a linha.