Segue intensa a lavagem de roupa suja no Chega.
Opus Dei, maçonaria e sexualidade. Miguel Arruda ataca dois deputados do Chega e responde a “ataques vis e cobardes” – Observador
Miguel Arruda voltou à Assembleia da República há menos de uma semana, recuperou a página que tinha apagado na rede social X e resolveu atacar dois deputados do Chega, ex-colegas de bancada parlamentar. Os alvos foram Pedro Santos Frazão e António Pinto Pereira, com o deputado não inscrito a questionar (ou sugerir) desde ligações à maçonaria e Opus Dei até à orientação sexual.
As duas publicações começam com uma espécie de justificação, com Arruda a sublinhar que se trata da “resposta” aos “ataques vis e cobardes” que diz terem sido feito pelos dois deputados do Chega. Fá-lo em comparação, sugerindo que os parlamentares fazem ou são adeptos de comportamentos que julgam.
Sobre Pedro Santos Frazão, além de críticas pelo facto de o deputado ter usado uma bandeira sem ser a de Portugal — numa altura em que posou com a bandeira de Israel quando o tema dos reféns israelitas em Gaza marcava a agenda internacional — , Miguel Arruda atira: “Não pertenço a nenhuma organização secreta de numerários e fanáticos, com líderes no estrangeiro e Portugal acusados e condenados por pedofilia. Não convido outros jovens a pertencerem a uma alegada Obra de Deus, nem me autoflagio com silicio ao mímino [sic] sinal de pecado.”
Além de apontar para questões pessoais, como uso do cilício, Miguel Arruda nem sequer dá conta daquilo a que se refere, mas deixa dúvidas no ar. Em causa deverá estar o Opus Dei, organização a que Pedro Santos Frazão pertence, e um episódio de 2023, em que o próprio Opus Dei revelou que foram sinalizados cinco casos de abusos sexuais em estruturas portuguesas ligadas à organização. Na altura, em comunicado, a instituição escreveu que “se todo o abuso sobre menores é gravíssimo, onde quer que se faça e por quem quer que o realize, mais grave é se for praticado por um cristão”.
No final, também sem mais, Arruda escreve o seguinte: “Sempre lidei bem com a minha sexualidade, sempre fui e serei heterossexual.”
Ao deputado @Pedro_Frazao_
Os seus ataques vis e cobardes, nesta rede social, merecem hoje e finalmente a minha resposta.
Só tenho uma bandeira nacional, a portuguesa, é a única que amo e ostento orgulhosamente, e nunca levarei outra estrangeira para eventos políticos ou…
— Miguel Arruda ???????? (@miguelarrudapt) February 11, 2025
Em declarações do Observador, o deputado e vice-presidente do Chega reage a estas publicações, dizendo que tem “muita pena” de Miguel Arruda. E acrescenta: “Não respondo a perturbações do foro psiquiátrico que ainda não deviam ter tido alta da ‘baixa psicológica’ e que o deputado em causa faria melhor em retirar-se de vez do espaço público para seu bem e da própria família, nomeadamente a sua mulher e as suas duas filhas.”
Antes, quando o caso de Miguel Arruda veio a público e, ao contrário do que lhe foi pedido por André Ventura, decidiu tornar-se deputado não inscrito, Pedro Santos Frazão escreveu na rede social X que “O Miguel não tinha bagagem para estar no Chega”.
O Miguel não tinha bagagem para estar no CHEGA!
— Pedro dos Santos Frazão (@Pedro_Frazao_) January 23, 2025
No Partido CHEGA há consequências e há coluna vertebral!
Nesta bancada não há deputados branqueados e mais ou menos escondidos nas últimas filas!
Isto não é o PSD das laranjas podres ou, muito menos, o PS da mão de rapina! Nós somos mesmo diferentes, e para muito melhor!… pic.twitter.com/rnH7AXsSR8
— Pedro dos Santos Frazão (@Pedro_Frazao_) January 23, 2025
Miguel Arruda não se ficou pelas considerações sobre Pedro Santos Frazão e atirou-se também no X ao deputado do Chega António Pinto Pereira. Na publicação em causa começa por escrever que “a presunção de inocência” é um estatuto que o advogado “deveria conhecer”, mas que “por motivos políticos e estratégicos colocou na gaveta”.
E prossegue para dizer que nessa gaveta António Pinto Pereira “guarda o avental, esquadro e compasso que o [trouxeram] até aqui”, uma afirmação em que sugere que pertence à maçonaria. “A sociedade deveria ser assente no mérito e não em cunhas e compadrios, típicos das organizações secretas”, acrescenta.
Miguel Arruda afirma também que “nunca [aliciou] jovens para pertenceram ao grande arquiteto” e diz que não tentou “empurrar” a filha “pelo partido acima como outros o fazem de forma tão grosseira”. “Não existe no meu passado qualquer ligação a associações islâmicas nem passei luxuosos dias em hotéis nas arábias. Tão pouco trabalhei como espião nos Serviços Secretos, sendo agente do sistema”, escreve o deputado não inscrito.
Ao deputado @a_pinto_pereira
Os seus ataques vis e cobardes, nesta rede social, merecem hoje e finalmente a minha resposta.
A presunção de inocência é um estatuto que o Sr, como advogado, deveria conhecer, mas por motivos políticos e estratégicos colocou na gaveta.
Essa gaveta…
— Miguel Arruda ???????? (@miguelarrudapt) February 11, 2025
Termina ainda com um desabafo: “Não vejo ovnis à noite.” Em causa, apesar de Arruda não o esclarecer, estará uma publicação de António Pinto Pereira nas redes sociais onde disse que “uma formação de UAP/OVNIs é vista sobre os Montes Transantárticos”. António Pinto Pereira, contactado pelo Observador, preferiu não fazer qualquer comentário sobre a publicação de Arruda.
Na altura em que o deputado decidiu abandonar a bancada do Chega e tornar-se não inscrito, António Pinto Pereira criticou-o nas redes sociais: primeiro disse que não é verdade que deixou o partido para o “proteger”. “Se fosse para o proteger: 1) não tinha praticado atos ignóbeis (a ser verdade o que se diz); 2) tinha saído do Parlamento, para não nos continuar a desonrar”, explicou. Questionou ainda se o “crime compensa” ao dizer que Arruda vai ter “6.000 euros (com subsídio de deslocação ilhas) mais 8.600 euros para gastos de pessoal, gabinete individual à disposição, vários assessores, direito a integrar a conferência de líderes e intervenção em todas as sessões plenárias e sobre todas as matérias”.
Arruda, antigo Deputado do CHEGA, disse ter passado a independente para proteger o seu anterior partido. Mas não é verdade. Se fosse para o proteger: 1) não tinha praticado atos ignóbeis (a ser verdade o que se diz); 2) tinha saído do parlamento, para não nos continuar a desonrar pic.twitter.com/MqjYCbcibi
— António Pinto Pereira (@a_pinto_pereira) January 24, 2025
Por fim, ao partilhar a declaração de Pedro Pinto quando se insurgiu para que Miguel Arruda não ficasse perto da bancada do Chega, Pinto Pereira atirou: “Nós não somos iguais aos outros todos!!!”