O aumento dos custos do pessoal não é necessariamente mau.
Pode ter que obrigar as empresas a baixar as margens.
Nos EUA quase não há empresas a trabalhar com menos de 20% margem.
Em Portugal tens empresas que laboram a anos com margens de 5/6%
Há 2 caminhos possíveis: ou os empresários encaixam as margens mais baixas para acomodar o aumento dos salários ou fecham as empresas com tudo o que está associado
Isso é um problema das empresas portuguesas, não das americanas.
Podíamos debater margens e se estamos a falar de lucros líquidos, EBIT ou EBITDA, mas qualquer coisa abaixo de 10% terá grandes problemas estruturais para se manter no ativo, tirando alguns setores de baixa margem, como o retalho ou algumas áreas do agroalimentar de base.
A título de exemplo, tanto na Alemanha como nos Países Baixos, as empresas são obrigadas por regulamentação específica a investir em tecnologia, inovação e eficiência energética. São investimentos que não são obrigatórios anualmente, mas que grande parte das empresas procura fazer de forma plurianual para diluir custos. Em Portugal, muitos desses investimentos são feitos de forma pontual e sem planeamento. Se o custo de uma reestruturação dessas for 30% da receita anual de uma empresa e só tens 5/6% de lucro anual, tens uma empresa que vai perder competitividade e/ou fechar portas a curto/médio prazo.
Achas que o SP500 vem por ai abaixo nos próximos anos?
Não acho que estejamos nesse ponto ainda. Até porque os índices mudam as suas componentes constantemente, e as empresas que saltarem fora serão substituídas por outras potencialmente menos expostas a estes riscos. Tenho fé - a palavra é mesmo essa - que ele não consegue ter um impacto desses em apenas 4 anos.
O impacto nas empresas de downstream depende da sua vulnerabilidade e dependência dos materiais, da forma como o mercado produtor se comportará perante o incremento de custos e de capacidade de produção e até da estratégia adotada por essas empresas para mitigar isso.
Uma Coca-Cola, por exemplo, usa alumínio para as latas. Pode simplesmente reorientar a produção para apostar mais em garrafas, alterar as tendências de distribuição e passar ao lado desta medida. Já uma Whirlpool não irá fazer máquinas de lavar ou frigoríficos sem alumínio (digo eu, que não conheço muito do setor, não sei se pode apostar em cerâmica). Se bem que até tenho a ideia que a Whirlpool saiu do S&P500 recentemente.
Falando de empresas que não podem fugir a aço ou alumínio: construção civil. Tens algumas nos principais índices. A bolha imobiliária está no auge, não conseguirias absorver um aumento de 25% sem reduzir drasticamente a procura. São empresas que naturalmente incorrerão em custos adicionais que irão comprimir margens, com impacto significativo na sua cotação. Para não falar da pressão sobre o próprio mercado, numa altura de crise.
Acima de tudo, e já referi isto antes no setor da defesa. Este contexto representa uma oportunidade para a Europa revitalizar a base industrial, promover produção local e inovação. Um pouco como aconteceu na Alemanha nos anos 30, existirão muitas pessoas com skills muito específicas a fugir de um mercado que está a limitar o seu desenvolvimento, à medida que os EUA desinvestem em inovação e energia limpa, e era bom aproveitar esse êxodo para reconfigurar a nossa indústria, sendo que o próprio aumento de custos de produtos americanos irá pressionar e suprimir algumas cadeias de valor globais, criando espaço para novos players. E aí sim, acredito que há uma guerra comercial a começar, entre a China e a Europa, para ocupar o espaço deixado vago pelos EUA no mercado global. Porque a guerra comercial entre os EUA e a China, essa já os americanos perderam no primeiro mandato do circo laranja. Aparentemente, só o palhaço-mor é que não sabe disso.