A essa excelente análise (como sempre aliás), vinda de quem se vê logo que está perfeitamente dentro do assunto e não manda umas postas de pescada para o ar, falta, contudo, um ponto essencial. A concretização do custo dessa opção.
Se não considerarmos o custo, uma excelente opção será sempre melhor do que uma boa opção. Só ponderando o custo de cada opção é que se encontra a solução ótima. Esse é o princípio base na avaliação e escolha de diferentes projetos.
Um economista faria-te desde logo as seguintes questões (que espero que possas responder, pelo menos de forma aproximada).
1 - Qual a dimensão da tal "Cidade Desportiva digna da grandeza do nosso clube" que permitiria obter as vantagens que enumeraste? Quantos campos (relvados + sintéticos), que infraestruturas de apoio?
2 - Qual o custo do investimento e o custo anual de manutenção/utilização dessa Cidade Desportiva?
3 - Se tivesses essa Cidade Desportiva hoje ou daqui a 10 anos, o que farias às outras infraestruturas, designadamente ao Olival e à Constituição?
Para chegarmos à conclusão de quantos campos seriam necessários teríamos de fazer um levantamento sobre as necessidades diárias de cada equipa, tanto de treino como de jogo, assim como a quantidade de carga que cada relvado poderia ter, especialmente os naturais, e perceber também qual o investimento que se teria de fazer na manutenção desses relvados, conforme a quantidade de carga à qual ficariam sujeitos. Para além desse levantamento, teria de existir um estudo sobre o enquadramento logístico, sobretudo a nível da articulação com a escola, para perceber o que tornaria o dia-a-dia dos nossos atletas menos agressivo. Esse estudo foi feito para a Academia na Maia, e chegaram à conclusão que 10 campos era um número ajustado. Relembrar que na Maia não estavam contempladas as equipas profissionais, por isso haveria sempre a necessidade desse número ser maior no caso de se avançar para uma Cidade Desportiva. Mas acho pertinente que se volte a fazer esse estudo, porque é determinante para tomarmos aquela que é, para mim, a decisão mais importante.
Só para exemplificar a importância do número de campos, quando alguns elementos do nosso clube estiveram a visitar academias de clubes internacionais para desenvolver o projecto da Academia, faziam sempre uma pergunta pertinente, que era o que fariam de diferente nas suas academias. A grande maioria, para não dizer todos, disseram "construiria mais campos".
As infraestruturas de apoio seriam as básicas. Não vejo necessidade de se ter máquinas como a 360º do slb, campos indoor ou pistas internas de atletismo. Como disse acima, o mais importante são os campos. As infraestruturas a acompanhar só têm é de permitir excelentes condições de trabalho aos recursos humanos e, sobretudo, serem cómodas e funcionais. Até se podia fazer algo que alguns clubes fazem, que é um contexto mais minimalista para os escalões mais baixos, com balneários e estruturas de apoio muito simples e básicas, e ir aumentando a qualidade conforme vão avançando de escalão, numa lógica de conquista. Mas isso é só uma ideia. A sermos "megalómanos" acho que devemos ser acima de tudo na questão dos campos.
Sobre o custo do terreno, este seria sempre muito discrepante conforme a localização que se pretende. Se se pretende centralidade, é natural que o custo do terreno seja maior do que se procurarmos áreas menos urbanas. Se formos olhar para o terreno onde está pensado o CAR, são 31 hectares por 3,85M, mas 12 desses 31 hectares não poderão ter construção, o que, no fundo, significa que estamos a falar de 3,85M por um terreno de 19 hectares. Considerando que ao construirmos o CAR no Olival e ao colocar a Formação no Olival estamos a abdicar da centralidade, diria que não me parece impossível encontrar um terreno em zonas menos urbanas de Gondomar, Valongo ou Maia, por exemplo, que não fuja muito deste valor. Por exemplo, a Academia do scp fica a cerca de 40km de Alvalade, por isso, pensar-se em construir a Cidade Desportiva numa das três cidades atrás referidas (ou noutra qualquer num máximo de 20/25km de distância do Dragão) não seria nada de anormal.
Quanto ao custo da obra em si, o investimento inicial não mudaria muito, uma vez que também se começaria por fazer o que se entende ser necessário para as equipas profissionais, já que o Presidente assumiu isso como prioritário. Segundo o nosso CFO, haveria um primeiro investimento de até 23M na Fase 1 e 2 do projecto e nos 12 meses seguintes mais 8M para a Fase 3. A ideia seria gastar-se à volta de 35M nas primeiras 3 Fases. Isto seria feito assim que houvesse o tal financiamento, tendo duração de 2 anos a partir do início da construção, tudo isto baseado nas declarações do nosso CFO. As fases seguintes ficariam sempre dependentes da estabilidade financeira do clube e da sua capacidade de investir nessa obra. Um pouco como o Braga está a fazer, que inaugurou a sua cidade desportiva em 2017, entretanto terminou a 2ª fase em 2023 e tem agora um mini-estádio prestes a ser inaugurado. O facto de termos já os terrenos comprados e preparados para a construção iria permitir gerirmos os timings sem grande sobressalto. Nem que demoremos 10 ou 15 anos até terminar toda a obra, o espaço está lá e é só uma questão de existir margem para investir, podendo esse investimento ser muito mais espaçado no tempo.
O custo de manutenção admito que não tenho conhecimento para poder estimar. Mas uma coisa sei, considerando a complexidade logística que existe agora, e que continuará a existir com o CAR+Olival+Casa do Dragão+Colégio, e o custo associado a essa logística, se conseguirmos criar uma dinâmica que corte esse custo pela metade, já teremos uma boa base para suportar a manutenção da Cidade Desportiva.
Em relação à utilização do Olival, numa primeira fase continuaria a ser necessário, visto não haver de imediato espaço para todos na nova infraestrutura em construção. À medida que o Olival se for tornando desnecessário para as nossas equipas, há sempre formas de o rentabilizar. Desde logo fazendo lá uma escola Dragon Force, que permitiria dar-lhe utilidade ao final do dia. Só por aí, e tendo em conta que a Dragon Force existe sobretudo numa lógica comercial, daria para criar desde logo uma boa fonte de receita. Depois, durante o dia, o espaço poderia ser utilizado para receber equipas/escolas de futebol estrangeiras, algo que a Dragon Force já faz actualmente mas com uma logística bem mais complexa, onde as equipas por vezes têm de andar a saltar entre o ISMAI, Colégio de Ermesinde, Rio Meão, Constituição... Desta forma, era possível centralizar estes Clinics ou estágios num só local, no qual seria também possível garantir alimentação e alojamento. Para se ter uma ideia, há seleções jovens do Médio Oriente que passam largos meses em Centros de Estágio em Espanha, pagando uma exorbitância durante esse período. Para além disso, há imensas equipas das camadas jovens da Ásia, Médio Oriente, países nórdicos, Estados Unidos, Canadá, Austrália, etc., que vêm a Portugal e Espanha para realizarem estágios de uma/duas semanas. O Seixal, por exemplo, costuma receber algumas equipas durante o ano para esse efeito. Tenho a certeza que, com a dinâmica que a Dragon Force já criou para este tipo de situações, e com as condições que o Olival ofereceria para esse propósito, seríamos capazes de montar algo extremamente apelativo e, sobretudo, lucrativo.
Já o Campo da Constituição, não seria nunca um problema porque já funciona lá a Dragon Force e poderia por lá continuar. Sem as equipas de Formação durante o dia, a Dragon Force poderia até alargar o seu horário de treino, permitindo dessa forma aumentar o número de atletas inscritos, uma vez que chega a ter, em alguns momentos do ano, atletas em lista de espera.