Tenho de começar a ver estes programas
Ó Camel Toe, mistério de entranhas,
Que a moda insiste em bem destacar,
De calças justas, vãs artes estranhas,
Qu’é que se espera dessa curva ao ar?
Não há pudor que ao tecido resista,
Nem alfaiate que o venha ocultar,
Pois onde aperta, a visão persista,
E a anatomia ali vem assomar.
Vede, ó povo, o orgulho mal disfarçado,
Nas ruas desfilam como novo estandarte,
O mundo atento, o olhar embaraçado,
Resta o poeta fazer-se de aparte.
“Ah, quão justa é a calça que provoca,
E quão tortuosa a linha ali traçada!”
Eis que o Camel Toe a todos choca,
Mas é moda, e moda não se questiona: é sagrada!
Se Bocage cá estivesse, que diria?
Talvez sorrisse, mordendo o bigode,
E em trovas cheias de ousadia,
Chorasse do mundo a irónica ode.