Breve consideração sobre a questão das polícias, à margem da presente situação. Sobre ela, o melhor será aguardar e não reagir com excessivas certezas. Para já, lamentar sobretudo a vida que se perdeu e os graves ferimentos que outra pessoa sofreu.
Parece-me mais ou menos evidente que existem problemas de violência nas polícias, tal como de pensamento extremista e, também, não enfiemos a cabeça na areia, de racismo. E longe de ser um fenómeno nacional. Não foi há muito tempo que se matou um cidadão ucraniano à guarda do Estado. Por essa altura, surgiram vídeos de humilhações infligidas a migrantes em Odemira, que resultaram em várias condenações. Não nos recordamos da recente reportagem sobre a participação de agentes das forças de segurança em grupos online de expressão radical? Alguém se lembra do que aconteceu na mesma Cova da Moura em 2015?... os casos de violência e abuso sucedem-se com regularidade.
Não podemos medir o comportamento da polícia pela acção de pessoas criminosas. A polícia representa o estado e, por isso, não pode cometer crimes. Tem de actuar sempre, por mais difíceis que sejam as circunstâncias, dentro da lei. Sim, os polícias são humanos, como muitos frisam, mas optaram por ser polícias. Qualquer infracção de um elemento das forças de segurança adquire uma natureza distinta da de um civil.
Por outro lado, esta particularidade das polícias obriga a que o poder político valorize e recompense adequadamente quem exerce estas profissões. Formação, meios adequados, remunerações... o que for possível para que a polícia desempenhe devidamente as suas funções. Não duvidemos tão pouco da existência de problemas de fundo que dificultam a acção policial.