Alguém consegue meter aqui a notícia completa?
Um bom atleta, se ganhar 1.750€ do Estado, mais o salário do clube que representa e mais um ou outro patrocinador que consiga arranjar, já não fica muito mal servido...
Desculpa, não reparei que era fechado.
Dos 800 aos 1750 euros, quanto ganha cada atleta olímpico?
Diogo Cardoso Oliveira
Para o Comité Olímpico de Portugal (COP), os atletas olímpicos devem receber, sem excepção, condições para treinarem e competirem nos Jogos Olímpicos – são, nessa medida, todos iguais. Mas há uns mais iguais do que outros.
O mérito desportivo extra-Jogos Olímpicos, que define, em parte, o patamar de salário pago aos atletas, dita uma diferença considerável entre o mundo de Pedro Pablo Pichardo, Jorge Fonseca e Diogo Ribeiro, por exemplo, e a realidade de Nuno Borges,
Gabriel Albuquerque ou
Jéssica Inchude.
Nos seis meses pré-Paris, é possível encontrar 1750 euros mensais na conta de Pichardo, do atletismo, mas também podemos ver 800 euros na de Filipa Martins, da ginástica.
E casos mais complexos como
Iúri Leitão,
Patrícia Sampaio, Patrícia Mamona ou Auriol Dongmo? Já lá vamos.
Há quatro patamares de bolsa
Nas últimas horas, até pela celebração de medalhas, os atletas e o país em geral têm-se desdobrado em críticas pela falta de apoios às modalidades. Em Portugal, é tudo para o futebol, dizem.
O COP,
como já explicámos neste texto, acha que aquilo que o Governo dá é suficiente. E esta é, para o caso, uma análise subjectiva – o suficiente para uns pode ser insuficiente para outros.
Vamos, então, a factos. De que bolsas de integração – vulgo salários mensais dos atletas em projecto olímpico – estamos a falar?
Convém esclarecer desde já que o COP garantiu ao PÚBLICO que os valores que aqui serão falados,
e que pode consultar neste site, são todos relativos a rendimento líquido.
Há quem receba uns 800 euros, quem consiga chegar aos 1750, quem fique a meio caminho e quem, por contratos externos individuais com clubes ou marcas, supere largamente esse valor. Aqui trata-se de ajuda de bolsa olímpica e não de um contrato.
O COP contratualizou com o Governo quatro níveis de bolsa olímpica: medalhado, top elite, elite e apoio à qualificação, patamares cujos valores saem dos 22 milhões de euros aplicados pelo executivo no projecto olímpico Paris 2024, depois dos 18,55 milhões de Tóquio.
Alguns chegam aos 1750 euros
O nível medalhado, com bolsa mensal de 1750 euros, é atribuído a quem chegou ao pódio nos Jogos Olímpicos de Tóquio e quem, no ciclo olímpico para Paris, conquistou medalhas em Campeonatos do Mundo.
Pedro Pablo Pichardo, Fernando Pimenta, Jorge Fonseca e Patrícia Mamona tinham a sua bolsa máxima garantida desde o Japão, mas, no ciclo olímpico, outros atletas chegaram a esse tecto por via de medalhas em Mundiais: Diogo Ribeiro e Angélica André desde Março de 2024 e Iúri Leitão, João Ribeiro e Messias Baptista desde Setembro de 2023.
Um caso curioso é o de Maria Martins,
que ficou em 14.º lugar no omnium olímpico, mas recebe a bolsa máxima pelo menos desde Janeiro de 2023, porque a sua medalha no Mundial já vem de 2022 – e a regra é que se mantenha até ao fim do projecto olímpico de Paris.
No fundo, o caso da ciclista mostra que compensa obter resultados destes o mais cedo possível no ciclo olímpico, já que as revisões intermédias são feitas geralmente pela positiva, mas não pela negativa – uma medalha em 2022 mantém a bolsa até 2024, caso o nível global do atleta seja mantido, enquanto uma medalha já no início deste ano só dá ao atleta uns meses de bolsa máxima.
“Caso o nível global do atleta seja mantido” é uma premissa relevante nos casos de Gustavo Ribeiro e Bárbara Timo, que viram a sua bolsa máxima revista em baixa no final de 2023, e de Patrícia Mamona, por lesão, já em 2024. Desceram todos ao patamar top elite nos meses antes de Paris, passando a receber 1575 euros.
Outros com 800
Nesse segundo patamar há um número vastíssimo de atletas, com destaque para Patrícia Sampaio, que era elite mas
chegou à medalha já com os 1575 euros mensais do estatuto top elite dos últimos sete meses.
E também aqui está Auriol Dongmo. O nível da lançadora seria, em tese, justificador de bolsa máxima de medalhada, mas acabou por não cumprir os preceitos de resultados que lhe dariam esse rendimento. E, apesar de a lesão a ter deixado fora de Paris, não teve revisão em baixa na sua bolsa, como Mamona.
E tem alguma lógica, já que teria sido uma penalização tremenda para Auriol passar de top elite para elite, o escalão de 1200 euros, apenas por questões físicas. Nesse patamar de 1200 euros estão atletas como Nuno Borges e Jéssica Inchude: um de grande estatuto no ténis, outra com diploma trazido de Paris.
Vamos, agora, aos casos mais precários. Maria Tomé ficou em 11.º lugar no triatlo, a apenas 12 segundos de um diploma olímpico. Tinha rendimento de categoria “apoio à qualificação”, que lhe dava 800 euros mensais, deixando, mais tarde, de ter esse valor, ficando com o rendimento de apoio a equipas, por estar integrada na estafeta.
Caso mais complicado é o de Filipa Martins. Esteve lesionada e a falta de resultados nesse período poderá ter contribuído para que descesse de nível top elite (1575 euros) para apoio à qualificação (800). E foi assim que chegou aos Jogos, até por não ter a "protecção" de uma vertente colectiva.
Jeni Shao, do ténis de mesa, esteve vários meses com rendimento de equipa, mas tem recebido 800 euros por mês desde Abril de 2024, como atleta individual.
Também Taís Pina, do judo, se governa com 800 euros.
Patrocínios e clubes
Todos estes valores são referentes à bolsa atribuída pelo Comité Olímpico, que está a distribuir os valores canalizados pelo Governo no âmbito do apoio ao desporto.
Mas é relevante ter em conta que há atletas que conseguem rendimentos alternativos. Uns por via de outros empregos (casos raros no universo de 73 atletas em Paris) e outros por contratos paralelos.
Pedro Pichardo, com a Puma, ou Gustavo Ribeiro, com a Red Bull, têm contratos de patrocínio individual de marca. Já casos como Patrícia Mamona com a Caixa Geral de Depósitos, Jorge Fonseca com o Lidl, Fernando Pimenta com a Allianz, Teresa Bonvalot com o Millenium, Frederico Morais com a Galp ou Diogo Ribeiro com a MEO têm tido contratos de publicidade ou embaixadores. E outros casos existirão.
Este tipo de parceria é, por exemplo, um cenário fácil de prever para atletas como Iúri Leitão, Patrícia Sampaio ou mesmo
Gabriel Albuquerque, que ganharam bastante notoriedade em Paris.
Há, por fim, os casos de atletas com contratos individuais com clubes. Tal como nas parcerias de marketing é impossível saber os valores envolvidos, mas permitem a alguns deles ter um rendimento mensal fixo, além da bolsa olímpica.
Pedro Pichardo, Diogo Ribeiro, Auriol Dongmo ou Patrícia Mamona são casos evidentes, além de casos como Rui Costa, Nélson Oliveira, Rui Oliveira e Iúri Leitão, cujos contratos no ciclismo de estrada lhes garantem alguma estabilidade.
João Almeida e Ivo Oliveira, que não foram a Paris, deverão mesmo ter na Emirates salários bastante “simpáticos” para a realidade olímpica nacional, tal como o medalhado de ouro Rui Oliveira.