Porto on Tour:
"Aposta de alto risco

Sete anos depois, o nosso Porto tem um novo treinador, e a escolha recaiu em Vítor Bruno, nada mais, nada menos, do que o ex treinador adjunto de Sérgio Conceição.
Quem me conhece (vocês que me seguem, há anos, já sabem muito do meu eu), espera sempre de mim a máxima frontalidade, que nunca caía no erro de cair em lugares-comuns (ou pior ainda, em inter€sses) e darei agora as respostas a duas perguntas que tantos de vocês me fizeram ao longo dos últimos dias.

"Vítor Bruno seria a tua escolha?"

Não, nunca sequer chegaria a cogitar o seu nome para assumir este cargo que será fulcral para o nosso futuro próximo.

"Que treinador gostarias de ver no FC Porto?"

A minha opção passaria sempre por um técnico estrangeiro diferenciado (agora não vale a pena nomear a minha shortlist), livre de fantasmas de qualquer espécie, sem cá aterrar com qualquer passaporte afetivo e disposto a fazer um F5 no nosso clube sem olhar a nomes, estatutos ou estar amarrado a vícios (táticos e não só) antigos.
O nosso presidente pensou diferente, e nem hesitou duas vezes em primeiro olhar para a despensa, invés de partir em busca de uma outra solução no hipermercado (numa lógica que também se irá repetir na construção do plantel, portanto não embales nas tangas dos Zecas das Transferências).
A sua escolha recaiu em Vítor Bruno, 41 anos, natural de Coimbra, filho de treinador (Vítor Manuel) e que acompanhava Sérgio Conceição há 13 anos.
Vítor Bruno nunca foi treinador principal de qualquer equipa (nem na formação), mas dá-se a suprema ironia da sua janela de mediatismo ter sido aberta pelos comportamentos rascas de Sérgio Conceição que tantas vezes resultaram em expulsão (várias delas provocadas para manipular a massa adepta no pós-jogo, mas é sempre preferível isso a ter de sacrificar a frota automóvel/família após uma debacle).
Ainda assim, pese embora não nutra a mínima admiração pelo nosso ex treinador, nunca aqui sobrevalorizei o papel de Vítor Bruno para o atingir, pois para mim o treinador principal é sempre o grande responsável na hora da vitória e da derrota.
Acho até de mau tom, a comunicação do nosso clube usurpar os resultados de Sérgio Conceição quando estava castigado, para os incluir num currículo de Vítor Bruno que a bem da verdade vai em zero jogos disputados, 0 vitórias, 0 empates, e 0 derrotas.
Desses 17 jogos em que Conceição ficou na bancada, Vítor Bruno foi sim inteligente na hora da flash interview, e gradualmente foi criando empatia com uma franja de adeptos (bem ruidosa no tribunal digital) que via nele uma lufada de ar fresco em comparação com a comunicação de constante guerrilha do treinador principal.
O nosso novo treinador tem o dom da oratória, mas não raras vezes exagera no vocabulário, e já dizia o genial Johan Cruyff que a simplicidade está na base do futebol, sendo que aconselho desde já Vítor Bruno a suavizar na semântica, pois corre o sério risco de ser rapidamente ridicularizado quando a bola não entrar na baliza ("olha, olha, vem aí o poeta, o mental coach, o deputado, é só paleio").
Aliás, ter a virtude da palavra é diferente de comunicar bem, e nessa matéria Vítor Bruno não esteve particularmente feliz no dia de ontem, tal como também não esteve André Villas-Boas.
Durante cerca de 40 minutos de apresentação, o nome de Sérgio Conceição foi dito 6 vezes, e quase metade do tempo foi dedicado a alimentar um folhetim que nada nos acrescenta de positivo, ainda mais quando Benfica, Sporting e Braga têm a próxima época muito mais adiantada do que a nossa.
Não há tempo a perder, a equipa técnica de Vítor Bruno já deveria estar completa (preferia que a apresentação fosse adiada do que chegar ao ponto de ouvir que um treinador do Porto ainda só arranjou 2 pessoas para o acompanhar), e o nosso mister tem de perceber que a partir de agora TUDO é diferente.
A relação com os jogadores já não pode ser igual (antes assumia o papel de polícia bom e Conceição o de polícia mau), e a forma como falou de Pepe ("ao falar do Pepe eu sinto-me demasiado pequenino") resvalou do respeito para a subserviência.
Na nossa casa, nenhum treinador é maior do que o nosso Porto, mas também nenhum jogador pode ser maior do que o treinador, e sempre que o foi, a coisa correu mal para quem estava sentado no banco.
De Vítor Bruno gostei de ouvir falar no "ouro da casa" (tudo aponta para que o cartão de cidadão deixe de interessar e a formação tenha reais oportunidades) mas continuo a desconhecer por completo a sua ideia de jogo (falou daquilo que não abdica, e aí parecia estar a ouvir. . .Sérgio Conceição).
Vítor Bruno está a viver na 1ª pessoa uma Cinderella Story (começar por cima sem provas dadas), num contexto absolutamente inédito no nosso clube (o seu trajeto nada tem a ver com o de José Mourinho, nem mesmo com o de Vítor Pereira) e André Villas-Boas prefere apostar no potencial, do que num treinador já testado.
Risco máximo (bem me recordo do que diziam do Rui Faria nos tempos áureos de Mourinho e foi o que se viu), e será ao leme do todo poderoso Porto que Vítor Bruno irá conhecer os seus limites.
Treinador fácil (pelo preço) ou o treinador certo?
Eu espero que Vítor Bruno seja ambas as coisas e que a relação custo-benefício se transforme num case study com eco internacional.
Estão lançados os dados, e que no final a sorte grande saía ao Futebol Clube do Porto!
Boa sorte, Vítor Bruno, o teu sucesso é o nosso sucesso.
#VítorBruno"