Vamos por pontos:
1. Explica-me o que é a identidade portuguesa.
• O fado e a guitarra portuguesa têm origens árabes. A música que se ouve atualmente na rádio portuguesa é quase toda angolana, brasileira, americana, inglesa. O próprio pop/folk português tem origens francesas, desde os tempos do cancioneiro de intervenção até aos plágios descarados do Carreira.
• Os padrões dos trajes das várias regiões são roubados, vá, inspirados nos trajes mouros, romanos ou celtas.
• A religião predominante foi espalhada pelos romanos.
• A língua portuguesa é oriunda do latim.
• A gastronomia portuguesa importa imensas coisas da gastronomia árabe, indiana, grega, francesa.
• A arquitetura presente em Portugal tem inspirações dos vários movimentos que não nasceram em Portugal.
• As festividades portuguesas são por norma importadas, com as poucas exceções do dia de Camões ou da implementação da democracia e da República.
Recua tempo suficiente e verás que a identidade de um país não é estática. Qual é o problema dos paquistaneses? Introduzirem samosas na nossa cozinha? O horror.
2. A integração é um fator essencial para garantires que a transição é harmoniosa e que essas pessoas absorvem a nossa cultura mais rapidamente. Conheço pessoas ciganas a viverem em Lisboa que não dirias que são ciganos. Vestem as mesmas roupas, comem nos mesmos restaurantes, cantam as mesmas músicas. A comida em casa deles é mais picante, mas eu até gosto disso. Quando condenámos centenas de ciganos a viverem em campos e bairros improvisados, fechados para o mundo, condenámos o país à estratificação e à segmentação. A culpa de existirem pessoas mal integradas não é deles, eles não vieram para o país a pensar "vamos criar um culto onde não entra nada português". Nós simplesmente não quisemos saber. Pior que isso, criámos uma geração de portugueses apatriados, nasceram cá mas não se identificam com nada. Que são o perfil favorito, em países com maiores problemas de terrorismo, aqueles que são recrutados pelos grupos terroristas. Atualmente a imigração é feita em números maiores e muitos vêm para cá (ou são trazidos para cá, mas isso já é outra conversa) para fazer trabalhos que os portugueses não querem saber e não por qualquer conceito terrorista ou criminoso.
3. Existem 2,5 milhões de portugueses fora do país. Isto são apenas indivíduos com a nacionalidade portuguesa. A meu ver, o problema maior do país não é a imigração, é a emigração. Os portugueses fizeram exatamente o mesmo nas gerações anteriores. Vamos lá para fora procurar fazer os trabalhos que os locais não querem fazer. Atualmente Portugal perde essencialmente quadros qualificados, porque são esses que estão em falta nos países europeus, porque os indianos, paquistaneses, etc estão a ocupar os cargos que os portugueses ocupavam nesses países, os eternos pedreiros, padeiros e porteiros.
4. Há uma alínea no programa chalupa que fala do mercado de trabalho e na mais-valia dos imigrantes perante esse mercado como medida restritiva de imigração. E eu acho curioso o porquê de parar aí. Se os imigrantes vêm para cá, apenas com a roupa que têm no corpo, de países onde andar na escola era um privilégio e são capazes de substituir portugueses que tiveram o privilégio de ter muito mais, mas que não se fizeram valiosos o suficiente para não serem substituídos... Se calhar era de mandar esses portugueses embora também.
Se o teu maior feito na vida foi nascer, alguns até por acidente, numa terra que não escolheste e não consegues ser mais do que outros que não tiveram metade das condições e ainda tiveram a coragem, a determinação e o esforço de procurar uma vida melhor... Se não se importam, fico com o paquistanês e mando embora o tuga que não vale nada.