O problema do Sérgio Conceição é o endeusamento que dele foi feito após a conquista do primeiro campeonato.
Se Pinto da Costa ainda fosse vivo na altura, afastava-o e ia buscar outro, como fazia nos seus tempos áureos.
Não ê por acaso que o Sérgio Conceição só esteve um ano na maior parte dos clubes por onde passou. Não tem a estabilidade emocional necessária para mais do que um ano. Porque a partir daí, descontrola-se completamente.
No caso do FC Porto, subiu-lhe à cabeça a conquista do título em 17/18.
Ainda a época seguinte estava a começar e já ele se sentia no direito de atacar os adeptos. "Querem espectáculo? Vão ao Coliseu" - disse.
O facto de já nessa altura não existir presidente só reforçou o seu poder. Olhou para o espelho e o que viu foi o salvador do clube.
Havendo liderança, ser-lhe-ia indicada a porta da rua no momento em que vetou a venda de Herrera e de Marega, que pouco depois sairiam a custo zero.
Desde aí, ficou claro que acima de tudo estavam os seus interesses pessoais como treinador e não os do FC Porto. Nada contra, claro, desde que a partir daí não fosse criada uma narrativa segundo a qual ele era muito portista e amava verdadeiramente o FC Porto.
Não. Amava a projecção que as vitórias do FC Porto poderiam dar à sua carreira. Queria muito ganhar, como querem todos os treinadores, mas por ele, não pelo FC Porto.
Não foi por acaso que, na época seguinte (18/19), chegou ao jogo do título, em casa com o Benfica, e decidiu poupar Maxi Pereira, Militão, Danilo, Octávio e Tiquinho Soares - para jogarem 3 dias depois contra a Roma. Estava em jogo a sua imagem em Itália e na Europa e uma vitória poderia abrir-lhe portas.
Na véspera do jogo com o Benfica, Sérgio Conceição renovara por mais um ano. Na cerimónia, disse que o objectivo principal era ganhar o Campeonato. O 11 titular do dia seguinte riu-se.
Nesse campeonato, de resto, a sua responsabilidade no desfecho final é evidente. Mesmo não esquecendo a pouca-vergonha que foram as últimas jornadas (ainda estamos à espera que cumpra a promessa de falar no fim do Campeonato), convém salientar que o FC Porto ia em primeiro com 7 pontos de avanço à 16. jornada e que em 8 jornadas ficou com 2 de atraso.
9 pontos perdidos que resultaram não só da derrota com o Benfica como de 3 empates fora de casa, nos quais marcámos apenas 1 golo.
Apesar desta crise de golos - 2 golos em 4 jogos - o FC Porto decidiu ir buscar o médio defensivo Loum, que praticamente nunca jogou.
Culpa de um treinador que raramente acerta nos jogadores que pede ou de um presidente inexistente que se escuda no treinador para esconder a sua inexistência? Ou ambas?
Sérgio Conceição quis Waris, que quase não jogou. Quis Loum, que teve o mesmo destino. E quis Zé Luís. Quis tanto que até foi à televisão dizê-lo em directo. Jogou pouco mais do que os outros dois.
Aliás, ainda há poucos dias Pinto da Costa disse que o treinador teve todos os jogadores que quis. Sérgio Conceição calou, logo consentiu, e como resposta foi dar um abraço ao presidente no Coliseu. 2 dias depois de dizer que não ia meter-se na campanha.
Gosto do Sérgio Conceição. Teve um papel importante no início da sua vinda. Sem ele, estaríamos certamente há 11 anos sem ganhar nada.
Mas se é vítima de um presidente inexistente, é também rėu. Foi ele que aceitou (e continua a aceitar) as regras do jogo. Anda há 7 anos a respirar fundo.
A História dirá de sua justiça. A verdade è que, noutros tempos, não teria metade do sucesso que teve. Não teria tempo para isso.
Tudo acaba e, hoje, Sérgio Conceição não ê solução para nada. É apenas mais um problema.
Chegou a hora de agradecer -lhe. Que vá à sua vida, que seja feliz e que leve com ele o presidente que tanto idolatra.