Eleições no FC Porto: dois exércitos com intenções de voto distintas
A apresentação da candidatura de André Villas-Boas à presidência do FC Porto, na quarta-feira passada, animou a legião de portistas que suspiram pela renovação directiva do clube.
Pinto da Costa deu uma dimensão mundial a um clube provinciano, todos o sabem, mas estendeu excessivamente o seu reinado e está a condenar o clube a uma cristalização e a um emperro (este Porto não é uma nação, é uma inacção) que o está a atrasar. Há muito que a grande prioridade deixou de ser o clube e passou a ser o mundo de negócios opacos que o rodeia.
Por oposição a essa opacidade, Villas-Boas propõe um portal da transparência (“Tudo às claras”, como disse na apresentação), apostando na devolução do clube aos sócios e aos adeptos, que quer chamar para o centro da acção. Também promete reduzir a metade os ordenados e prémios dos administradores actuais, que triplicam os de Benfica e Sporting, talvez por ser três vezes maior o seu amor ao clube. E promete, enfim, aquilo de que o FC Porto mais precisa: melhor gestão desportiva (no plano do scouting, em que o clube é uma nulidade, desde a saída de Antero Henrique, e no plano da formação, onde o clube foi superado até por clubes como Braga e Famalicão) e, principalmente, promete uma gestão financeira muito mais eficaz.
Esta candidatura corajosa e salvífica é a primeira que, em tantos anos, abala o poder imperial de Pinto da Costa, que também vai anunciar em breve a sua candidatura, num irreprimível desejo de eternidade, que chega a ser pungente. Quando se reina durante mais de quarenta anos, sem oposição, atolado em benefícios e adulação, custa muito largar o trono de sonho. Desta vez, porém, Pinto da Costa não vai seguro para as eleições. Pelo contrário. Pendurou ao pescoço o colar das vitórias, que não se cansa de exibir, voltou a agitar os fantasmas da comunicação social e dos inimigos externos, uma argumentação que já só causa bocejos, e atacou gratuitamente Villas-Boas, sempre com a história com barbas da cadeira de sonho, tudo sinais de que está temente: candidato que ataca tem medo.
E é caso para temer, sim, pois é cada vez mais forte o vento da mudança. Como se viu na assembleia geral da vergonha, já não há só uma percentagem de 30% de descontentes, como na última eleição, há muitos mais. Do outro lado, porém, estará outra multidão, a dos beneficiários deste regime, que são muitos, mais os sócios que, mesmo admitindo que este presidente já devia ter cedido o passo ao futuro, não o conseguem trocar por outro mais novo sem que isso os mate de remorsos.
Da contagem destes dois exércitos com intenções distintas de voto se fará a eleição de Abril, que dependerá também dos resultados desportivos. A realidade continua a ser um grande trunfo eleitoral. Até lá, não há só um Porto, como afirma o slogan da candidatura de André Villas-Boas, que é um apelo à unidade, o que está na linha da sua atitude respeitosa, mesmo elegante, sem confrontação, mas dois Portos: o dos que preferem o pecado da continuidade estática ao da ingratidão e o dos que sabem que o grande pecado será não mudar.
- Álvaro Magalhães no jornal O JOGO