Como é que resolvias o problema da saúde ? Obrigavas os médicos a fazer mais horas extras que as que já fazem ? Acho que ninguém em nenhum trabalho é obrigado por lei a fazer horas extras sequer.
O governo tem é de pegar no bom dinheirinho que cobra de impostos e deixar-se de TAPs e outras do genero e logo terá dinheiro para pagar em condições aos seus funcionários.
Tens quatro circunstâncias que precisam de resolução no SNS. A falta de recursos humanos no presente, a falta de recursos humanos no futuro, a retenção desses recursos e a atratividade geral das carreiras.
É preciso compreender que a Ordem dos Médicos é um lobby que protege os interesses de (alguns) médicos, e não do sistema de saúde no geral.
O primeiro ponto resolve-se com algo que a Ordem rejeita há décadas. Vais buscar os médicos que faltam ao exterior. Atualmente, mais de metade dos profissionais que pedem para trabalhar em Portugal são rejeitados, por vezes coisas tão básicas como (ainda) não saber falar português - falamos em muitos casos de pessoas oriundas de países latinos. É uma contrariedade temporária de fácil resolução e nunca ninguém se lembrou de criar um sistema de integração para ultrapassar internamente este obstáculo em 3 meses?
O segundo resolves com a abertura de mais vagas nas universidades. Não podemos ter universidades a dizer "temos capacidade para abrir X vagas", o Estado a dizer "então vamos abrir X vagas" e a Ordem "Eu sei que somos apenas um órgão consultivo e não temos responsabilidades nesta matéría... Mas se não abrirem só Y vagas, vamos convocar uma greve". Até há 2 anos atrás, tinhas todas as vagas ocupadas e um excedente de procura. Com a crise e as condições de trabalho a se deteriorarem, começas finalmente a ter vagas por preencher, mas isso é uma consequência de um problema maior.
Os restantes dois resolves em conjunto. Uma vez que tenhas os recursos necessários, há que mantê-los no SNS, com uma atualização das tabelas salariais, não só para médicos, mas para enfermeiros (os esquecidos no meio disto tudo, mas que não acabam o curso sem terem propostas do exterior) e técnicos. O excesso de horas deixa de ser uma realidade a partir do momento em que operas as contratações externas, portanto a situação estabiliza, quer a nível salarial, quer a nível laboral.
E a última medida, que é a cereja no topo do bolo para causar a erupção da Ordem: exclusividade. Porque essa estabilidade não será possível, em termos de desenho de mapas de pessoal nos serviços mais pequenos, quando tens a maioria dos recursos com limitações constantes, volume de horas limitadas que sobrecarregam os colegas e situações indesejadas que sabemos acontecerem por parte de profissionais pouco éticos. Dás a escolher: trabalhar num SNS funcional e atrativo, ou ir para o privado.
A reorganização faz-se desta forma. E garanto-te que abres um pé de guerra com a Ordem. Mas deixas um dilema moral para os médicos: Terem um período de convulsão para um SNS organizado e mais atrativo, ou manterem-se fantoches da Ordem e promover a instabilidade. Porque a solução alternativa é simples: Se tiveres debandada de médicos para o privado, agarras no dinheiro que poupas com eles e subcontratas hospitais privados para criar uma rede nacional, pelo menos nas grandes cidades, de urgências, e alocas os recursos que ficaram para o serviço de consultas externas e urgências das unidades mais remotas. Jogas o problema da contratação para o privado e o privado vai-te responder como eu: arranjar recursos lá fora. A Ordem fica a chuchar no dedo, enquanto o SNS ganha estabilidade. Os médicos do privado ficam bem piores que os do público. É um win-win para todos. Exceto para os fantoches...