Costuma-se dizer que o que nasce torto tarde ou nunca se endireita, e o estado de Israel nasceu torto quando Lord Balfour decidiu oferecer ao seu amigo Rotschild um pedaço da Palestina para ele criar lá um estado judeu. O problema é que os ingleses se esqueceram que quase 80% da população da Palestina nos anos 20 eram árabes, e os judeus eram só 11%. Só podia dar merda, e deu, e vai continuar a dar.
Ambos os lados cometeram erros desde a primeira hora, cegados pelo fanatismo religioso. Houve massacres e expulsões e bombardeamentos e represálias à bomba, e cem anos depois as queixas são tantas que aquela terra nunca vai ter paz. O único lado que podia fazer a paz é Israel, porque os palestinos não têm força militar nem diplomática para isso. Mas os judeus não estão dispostos a pagar o preço da paz, que seria aceitar a solução de dois estados nas fronteiras de 1967, e não querem fazer essa concessão porque sabem que não precisam, uma vez que estão na mó de cima financeira e militarmente, e têm o apoio dos EUA.
Então esta guerra vai continuar latente por muito tempo porque nenhum dos lados pode ceder. Nesse aspecto, e só nesse, o conflito na Palestina é exactamente igual ao da guerra da Ucrânia, no qual só a Rússia tem o poder de fazer a paz (já que militarmente não pode ser derrotada), mas nunca o vai fazer porque para isso teria de aceitar recuar para as fronteiras de 2014, o que para os russos está fora de questão.
Então, o que temos em ambos os casos, na Ucrânia e na Palestina, é aquilo a que se chama um impasse. O conflito só teria "resolução" se russos e israelitas pudessem usar aqueles métodos tradicionais do tempo em que não havia opinião pública, que era exterminar todos os combatentes inimigos (e também os filhos deles, só pra garantir) e submeter pelo terror os restantes. Mas nas condições actuais essa solução não pode ser aplicada. Portanto...
Mas pensar que neste conflito entre judeus e palestinos há bons e maus, e que uns representam a civilização é outros a barbárie, é não ter noção.