Espera ataque forte do FC Porto ao mercado em ano de resposta à perda do título, ao último ano de contrato de Sérgio Conceição e por ser ano especial, de eleições?
"A primeira coisa que gostava de ver resolvida, e tenho uma opinião pessoal enquanto adepto, era a renovação do treinador. Devia ter renovado pós-Inter, ganhando ou perdendo o jogo, porque o merece há longos anos e teria evitado estes cenários de namoro fruto da sua qualidade, da qualidade do trabalho que tem feito. Todos os portistas gostavam de ver respondida a questão da renovação, porque é que não avança? Será que ele quer? Onde estão as respostas? Gostava de sentir esse conforto em relação à construção de um futuro com um treinador que tanto nos tem dado. Quanto à próxima época, gosto de comparar com 2010, pois arranca com a Supertaça contra o Benfica campeão nacional. O FC Porto conquistou três troféus, mas falhou no principal, que é o campeonato. A Supertaça pode ser o sustento para uma grande época desportiva."
Proposta da Arábia Saudita?
"Felizmente tenho carreira suficiente para ser abordado por alguns clubes ao longo deste período de interregno. Mas ali antes foi mais jocoso porque estávamos a falar do ChatGPT, da capacidade para fazer e reformatar textos e fazer perguntas... O que me deu muita graça foi a mensagem e o convite que recebi ontem. Nem que seja factual. Passo por muito tipo de assédios deste tipo. Tive muitos convites, de seleções e clubes, continuo a ter, mas é uma decisão já tomada.
O que o ChatGPT já lhe disse sobre a presidência do FC Porto?
"Nunca lancei esse tema, é um tema para vocês lançarem."
Como é que vê as contas do FC Porto neste momento?
"Nos últimos anos tivemos uma gestão desportiva desenquadrada das realidades financeiras do clube e que muito sucesso nos trouxe fruto de uma pessoa capaz de encarar todos os valores e princípios do FC Porto e com uma capacidade de exigência e intransigência invulgares. A verdade é que a situação económica do FC Porto está cada vez pior há muitos anos, e todos nós sabemos. O futebol tem este prevaricar entre sucesso desportivo e financeiro. O que é sucesso no futebol? É os títulos ou a sustentabilidade do clube a longo termo, que é o que os adeptos querem sentir. Ouvimos muito falar de entrada de capital estrangeiro nos três grandes do futebol português, que não se pode traduzir apenas enquanto sucesso e passo de futuro, tem de se traduzir também em falência das gestões anteriores. Os clubes portugueses têm passivo acumulado absurdo e vivem permanentemente no limbo e o vender parte do capital a estrangeiros não pode ser visto como passo para a modernidade. As propriedades invadem o futebol há muitos anos, temos clubes-estado, do Catar, sauditas, russos e americanos. E no futebol português. Porque é que não há uma associação europeia de clubes que permanecem no associativismo, nesses fundamentos e pilares. Será que consegue persistir no tempo. Temos o Barcelona no caos financeiro absoluto e o Real Madrid que sobrevive porque é máquina de ganhar e de lucro e de competição. É uma altura sensível para o futebol, está tudo em equação, os quadros competitivos portugueses poderão ter de ser reformulados por fruto da nova centralização dos direitos televisivos, a Liga dos Campeões vai ser reformatada, a liga saudita está a mexer com os mercados nacionais e internacionais. Que impactos? Que respostas? Como é que os clubes portugueses se colocam perante isto? Como vão bater os clubes-cadeia que vendem ativos só entre eles? Como os clubes permanecem no associativismo perante o que se passa no futebol atual? A discussão aberta, pensada, clara é necessária e os stake-holders do futebol português deviam estar de acordo para os passos evolutivos do futebol português. Já perdemos o ranking da UEFA para os neerlandeses, quanto tempo é que o vamos demorar para o recuperar de volta?"
Eleições em abril segundo os estatutos, acha que devia ser no final da época?
"No meu entendimento há propostas para mudança de estatutos. Não sei se vão ser votados ou lançados em AG, nem sei as implicações que possa ter em eleições ou no tipo de voto. O que me disseram é que há conversações para mudar os estatutos."
Preocupa poder acabar o exercício com contas negativas?
"Só o senhor presidente e o seu Conselho de Administração podem responder. Penso que já terão pensado em todos os efeitos nefastos que possa ter um incumprimento, de novo, no fair-play financeiro e nas regras de sustentabilidade do clube. Tenho consciência, e enquanto portistas temos de nos entregar à nossa Direção relativamente aos melhores passos, por isso a elegemos. Tenho a certeza que já foram equacionados todos os cenários. O administrador financeiro colocou o cenário de venda absoluta, o presidente colocou outro, entre aspas, não em entrevista, mas a ver pela capa de O JOGO, dando a entender uma transmissão de mensagem. Vamos ver. O mercado está aberto, daqui até ao fecho de mercado muitas coisas podem acontecer."
Vai candidatar-se à presidência do FC Porto?
"Vou-vos contar uma história e as razões pelas quais o plano da presidência está na minha cabeça. Sou um tipo veiculado ao destino. Assim foi a minha conversa com Bobby Robson, assim foi jogar uma final da Liga Europa com o Domingos Paciência, um ídolo de infância e a pessoa responsável por eu ter saído de uma carreira de jornalismo para uma de futebol. Sou muito veiculado à emoção e à intuição. Em 2015, na Rússia, recebi mensagem de uma pessoa que trabalha no FC Porto que dizia: um dia vais ser presidente do FC Porto'. Nunca tinha pensado no assunto, mas a forma como aquilo alterou as minhas emoções... senti como um destino que tenho para cumprir. As exigências de ser presidente do FC Porto são únicas, pela responsabilidade da pessoa que construiu o nosso portismo. O nosso portismo é graças a uma pessoa. É uma coisa que me está destinada, e eu raramente não cumpro os meus destinos. Eu parei a minha carreira por decisão até 2024. Quero ter um papel ativo, como sócio votante que sou, sócio de 45 anos. Se é como candidato ou não, não sei... Não posso responder se serei ou não candidato. Se tenho as qualidades para o ser? Prefiro que sejam os outros a dizer isso."
Desejo de ser presidente do FC Porto:
"Eu posso acreditar nele [desejo de ser presidente], mas implica os desejos e o destino dos outros para que uma coisa de tal importância se faça."
"Tenho máximo e absoluto respeito por quem está na presidência. Andamos desencontrados na relação, fruto de um jogo FC Porto-Marselha, da Liga dos Campeões. Já o disse ao próprio o porquê da quebra da relação. Nesse dia, confirmei o meu destino: foi o meu regresso a casa. Se vai acontecer o mesmo em 2024 ou em 2028? Não consigo responder de forma precisa. Enquanto sócio ativo, votarei, não sei se como candidato ou não"