Toda a gente sabe do mito Pelé, o único homem que ganhou 3 Mundiais. Ninguém fala que em 62 ele só jogou o início da competição e o Brasil levou tudo à frente sem ele.
Ninguém fala? Já estiveste no Brasil ou falaste com algum brasileiro com mais de 60 anos? Essa é precisamente a maior interrogação do percurso de Pelé, e algo que se lhe aponta aos dias de hoje.
É precisamente por esse Mundial que muito se relativiza o currículo de Mundiais de Pelé, que a ideia de que o Brasil seria o vencedor com ou sem ele por ser simplesmente muito mais forte subsiste, e a razão pela qual muito brasileiro até hoje diz que Garrincha foi o melhor jogador e que Garrincha 62 > qualquer versão de Pelé. O facto de Didi ter sido o melhor em 58 também é mencionado constantemente.
Quem não fala nisso ou não sabe é simplesmente o adepto inculto. Se soubesse, passaria a falar-se, como se fala até hoje no Brasil desse Mundial 62 sem Pelé, como se fala da vitória no EURO 2016 com Cristiano a não ser um dos elementos em destaque, e no sentido inverso, como se fala da forma como Maradona ganhou em 86. Não só como ganhou, mas a forma como ganhou. E isso é o que cimenta legados.
O que dizes é válido para jogadores que não estão a nível de panteão. Ninguém se vai lembrar que Moutinho não foi um titular no EURO 2016, simplesmente será sempre lembrado como um dos vencedores.
Similarmente, na NBA, pouco contribuiria para o legado de Lebron se daqui a uns anos quando estiver totalmente acabado for aquecer banco e ser um bus rider numa equipa que ganha 3 ou 4 seguidos. Iria ter mais esses 3 ou 4 anéis? Sim, mas esse asterisco estaria sempre lá, iria sempre ser mencionado, e o seu legado sofreria mais do que o que iria ganhar, já que está a um nível dos melhores de todos os tempos. As fasquias são diferentes.
Para Ronaldo subir historicamente falando, importa bem mais como ganha, do que o que ganha. Isto porque já está em ar muito rarefeito.